segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O tempo e o nada

A nossa percepção do tempo é cada vez mais instantânea. A fartura tecnológica dos anos mais recentes coincide com a vitória do regime capitalista sobre as alternativas socialistas. O mercado e a tecnologia são parceiros inseparáveis e se multiplicam incansavelmente. Um supera ao outro constantemente. Inventam-se o CD e o DVD, por exemplo, para em seguida surgirem indústrias “piratas” oferecendo os mesmos produtos por preços cada vez menores. Não há limites para o desenvolvimento tecnológico. Assim como não há fronteiras, internas ou externas, para as ações do mercado. O comércio mundial de armas e de drogas entorpecentes prova a afirmação.
O fenômeno da urbanização no planeta acontece a partir da segunda metade século XX, especialmente provocado pela explosão populacional.
Nos Estados Unidos da América ele decorre dos avanços tecnológicos introduzidos no campo, deslocando para as cidades massas de recém desocupados que procuram ser novos empreendedores. Na América Central e do Sul porque o campo não conseguiu abrigar aos que precisavam dele. Na Europa, a urbanização é menos violenta, pois a atividade agrícola é mais antiga e, consequentemente, melhor integra a tradição do homem europeu. Na Ásia, especialmente na Índia e na China, suas populações estão espalhadas pelos respectivos territórios. As concentrações urbanas de Pequim, Xangai, Nova Delhi ou Mumbai decorrem da ilusão de que nas cidades grandes haverá trabalho para os que dele necessitam. Bangalore, na província de Karnataka, no sul da Índia, é a mais recente ilha de prosperidade daquele povo que passou do artesanato para a cibernética sem conhecer os mecanismos da chamada revolução industrial.
O mercado e a tecnologia impõem à humanidade a pressa, mola mestra da competição. A velocidade das comunicações transforma a percepção de todos nós. Alguns estudos mostram que os jornais impressos perdem leitores para outras mídias, entre elas a televisão e a Internet.
As pessoas pensam que não têm mais tempo disponível para o estudo, a informação e a reflexão. São induzidas pelas mídias eletrônicas a sintetizarem sua compreensão sobre o mundo e sobre suas vidas. Ao mercado e a tecnologia não interessam comportamentos reflexivos.
A reflexão em larga escala pode contribuir para uma reavaliação na aquisição de vários produtos. Quantos não deixariam de trocar seus aparelhos de telefonia celular anualmente? Quantos não esperariam mais anos para substituir o automóvel da garagem? Quantos não usariam suas roupas por um tempo mais longo? Quantos não recuperariam seus móveis e outros utensílios domésticos legando-os aos seus sucessores? Quantos não freariam suas compulsões de consumo?
Uma das contradições da globalização é esta: Não há mais tempo para o nada. Não fazer significa não existir. Não consumir significa não ser. O mercado global impõe a todos nós um constante mercadejar. Temos que comprar ou vender alguma coisa diariamente, até para poder sobreviver.
Não é admissível socialmente passar algum tempo sem consumir. Primeiro porque denota incapacidade financeira, segundo porque denota ausência.
É como se o tempo e o nada não integrassem o espectro humano...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A teoria de Luzerna

A teoria de Luzerna foi concebida na década de oitenta do século XX. Ela é uma reformulação da teoria de Thomas Malthus, conhecida a partir de 1798, onde o confronto entre crescimento populacional e a produção de alimentos se estabeleceu, do ponto de vista teórico, pela primeira vez.
Agora, no inicio do século XXI, é preciso considerar outras variáveis. São quatro: o tamanho do planeta Terra, a explosão populacional, a utilização dos recursos naturais e, finalmente, a geração de todas as formas de lixo ou poluição.
A primeira variável, a Terra, é fixa. Ela não se expande, permanece constante em seu tamanho.
A segunda variável, a população, é crescente. Somente nos últimos cinqüenta anos triplicamos o número de habitantes do planeta, chegando aos 6,7 bilhões de pessoas.
A terceira variável, os recursos naturais, é decrescente na medida em que são utilizados para atender à demanda da população mundial.
A quarta variável, o lixo, é também crescente, pois, resulta do consumo de todos os produtos utilizados pelos seres humanos.
Este quadro, a continuar neste passo, é estrangulador.
Sabemos que dos recursos naturais existentes, os únicos renováveis, são as florestas e os animais, portanto, flora e fauna. Todas as outras jazidas naturais são finitas. A água potável também, ainda que reciclada natural e constantemente sob a forma de evaporação e chuvas.
Sabemos, também, que as leis da termodinâmica ensinam que toda energia do planeta é constante e que não pode ser criada, mas, apenas transformada de um estado para outro. O sol, os ventos, a força das águas, o carvão, o petróleo e o urânio, por exemplo, são formas energéticas que se transformam em outras, como energia solar, eólica, hidráulica, termoelétrica, combustível e nuclear. A segunda lei ensina que toda energia encontra-se em estado de baixa entropia, e uma vez utilizada, dissipa-se para um estado de alta entropia. E nesta dissipação perde-se energia.
Não bastassem estes fatores, temos ainda que considerar a ação do mercado, instituição econômico-financeira global, que atua como um fomentador do consumo de bens e produtos e a necessidade de geração de trabalho e renda para nós, seres humanos.
A teoria de Luzerna insinua que a sobrevivência do planeta, das espécies animais e florais e dos humanos só encontrará salvação pela alteração dos vetores de três das variáveis acima enumeradas.
Há que se reverter o crescimento populacional em alguns países, há que se praticar todas as formas de repovoamento de fauna e flora e há que se reciclar todas os materiais possíveis.
Estamos próximos da exaustão global, não temos conseguido gerar trabalho para todos e, simultaneamente, manter a sanidade ambiental para os habitantes da Terra. Eis a questão.