quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O caminho da energia


De tempos em tempos as pessoas escolhem determinadas palavras para significar um período histórico ou um momento da vida social.
Foi assim com as palavras “progresso”, “desenvolvimento”, “ecologia” e “sustentabilidade”, por exemplo.
De outro lado, “colocação”, “com certeza”, “flexibilização” e, mais recentemente, “viés”.
Engraçado é que a maioria incorpora a expressão ao seu falar.
Ultimamente a palavra “energia” tem sido usada sob várias formas. Desde a tradicional energia elétrica, a energia das bebidas achocolatadas para as crianças, a energia contida nos alimentos e frutas – como o açaí – e, ainda, os “energéticos” para misturar às bebidas alcoólicas.
Tudo é energia. A energia pessoal, a energia da mente e a energia dos pontos no corpo humano. A energia sexual, também.
O que pode estar por trás desta incorporação mundial da palavra energia?
Consciente ou inconscientemente sabemos da importância da energia em todas as formas de vida. Desde o sol que germina as sementes na terra até o vento que impulsiona as velas no mar. Mesmo a fé é uma relação energética entre o ser físico e uma entidade metafísica.
Na sociedade global, ávida por energia para sustentar os processos produtivos e suas populações, a geração e distribuição dela é assunto estratégico.
Ao longo da História, o homem dá “saltos” quando faz determinadas descobertas: foi assim com a roda, com o fogo, com a fundição do ferro, com o motor a vapor, com a luz elétrica, com a hélice, com as asas impulsionadas por motor de combustão, com a bomba atômica e um sem número de invenções.
A cada uma delas, vai incorporando seus saberes pretéritos aos novos. E na maioria dos casos, trata sempre da energia e suas variações. A própria percepção da Terra, do ponto de vista entrópico, é uma correlação de energias.
Assim, todos os riscos e oportunidades de sobrevivência da humanidade estão diretamente ligados à energia, sob suas variadas formas.

Os processos de reciclagem são uma tentativa de reaproveitamento quase total da energia.
As hipóteses de reversão da segunda lei da termodinâmica, também: fazer com que a energia dispersa (alta entropia) volte a ser energia concentrada (baixa entropia).
A energia está nas quedas d’água, na força da ondulação dos mares, nos ventos, na insolação, nos minerais, nos vegetais e na tração dos animais. Está na mente humana. A energia está em volta de todos nós, através de nós, além e aquém de nós... O espírito é pura energia.
Quando Einstein (1905) intuiu a teoria da relatividade: E=mc2, onde, energia é igual a massa vezes velocidade da luz ao quadrado, a humanidade deu mais um “salto”.
Quando Freud (1933) intuiu a teoria das pulsões psíquicas: a vontade, o querer, a força germinativa e a origem mitológica delas, descobriu que elas eram, em sua gênese, magníficas em sua imprecisão. De novo, era a energia que estava em evidência: a energia psíquica.
Os remédios que interferem nas sinapses cerebrais, são estimuladores de energia. Assim, também, várias outras drogas – lícitas ou ilícitas.
Logo, quando se pensa na condição humana, pensamos em energia.
O ciclo básico da vida, que estudamos nas aulas ginasiais de biologia, ensina que existem os produtores (sementes), consumidores (carnívoros e herbívoros) e os decompositores (bactérias). Portanto, um ciclo fechado e contínuo de transformação de energia.
A própria morte, sob diferentes aspectos religiosos, é uma decomposição de energia. “Tu és pó e ao pó voltarás”...
Massa e ou matéria são formas de energia condensadas.
A água quando passa de um estado para outro: líquido, sólido e gasoso, percorre um caminho de formas energéticas. A composição molecular dela, dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, H20, é uma fórmula energética.

Spinoza (1632 – 1677) defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o Universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.
A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar “os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem, mas coexistem em uma coisa só que é a substância”.

A substância, qualquer que seja, de novo, é energia.

Carl Sagan (1934 – 1996) quando fala da sua visão científica da Criação imagina a primeira explosão energética, formadora do Kósmos, e numa das partículas remanescentes, a Terra. E nela, a possibilidade de junções energéticas (átomos) que formaram moléculas, depois células que se agruparam em tecidos, e, finalmente corpos que compõem todo o movimento. Num destes corpos, talvez um animal aquático, células se juntaram e formaram o olho. Então, o Universo, pela primeira vez, se viu...

Em “A Pale Blue Dot”, um pálido ponto azul, a foto captada pela sonda espacial Voyager 1, em 14 de Fevereiro de 1990, numa distância de 6,4 bilhões de kilomêtros do nosso planeta, podemos ter a noção exata de que somos um micro-cosmos de energia num kósmos energético total.

Mais uma vez, uma sinfonia de energia... Que por sua vez, é uma reunião de acordes musicais que se propaga energeticamente no espaço, produzindo o som...

Finalmente, o que pode estar por trás desta incorporação mundial do conceito de energia - e a Internet que é constituída de impulsos energéticos é o melhor e mais popular exemplo disto – pode ser a solução para os problemas da humanidade ou sua derrocada.

Se daqui para frente soubermos incorporar o conceito de energia aos nossos fazeres, se soubermos redesenhar a convivência planetária sob a égide da conservação e transformação energética, é possível que possamos dar mais um “salto” no processo civilizatório e, assim, prolongar a existência humana na Terra.