sábado, 28 de maio de 2011

Das letras que arrepiam



Escrever é a capacidade de reunir palavras de tal forma que provoquem emoções. Não se sabe dizer de onde elas nascem, mas provavelmente a emoção é resultado de conclusões que brotam dos registros gravados no tecido cerebral.
O fundamental é ter habilidade para expressar sem pincel, nem tintas, sem instrumentos musicais, nem voz ou sem fotogramas um filme colorido na cabeça do leitor.
Os mestres são capazes de contar numa centena de páginas uma revolução, paixões caleidoscópicas, crimes desvendados e até a luta entre um peixe e um velho e o mar.
O texto que não conseguir transportar aquele que o lê para o cenário onde acontecem os fatos, não tem valor.
O escritor, mais do que o orador de qualquer tribuna, é um grande administrador. Passam por sua mente infinitas idéias sobre milhares de temas. Ele tem que selecioná-las, compô-las e grafá-las, ou como se diz modernamente, fazer um down load delas:
Tua boca vermelha, teu cheiro de mulher, teu ventre macio, teu riso, teu gosto.
Olhares de fogo e paixões vulcânicas...
Larvas quentes que amornam meu peito
E correm sobre meu corpo embrulhado pela tua carícia úmida
De um corte rubro que protege o fruto do prazer...
Não sou suficiente para conter o que sinto
E sou pequeno diante da dor
Não tenho estrutura para compreender o mundo
Apenas ator daquilo que sou
E vivo inconstante entre o riso do alívio
E o choro do pavor.
Não há que ter rima
Apenas ânima e sabor.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dispersão silenciosa



Os átomos se juntaram, formaram células que formaram tecidos, daí nasceram os corpos e deles o movimento. Fez-se a vida. Ela expandiu-se sobre o planeta. Ao longo da evolução do cérebro, aumentava a necessidade psíquica de uma explicação sobre a existência, a desgraça e o prazer. Em cada fase da aventura humana procurou-se uma teoria ou explicação. Do Budismo ao Espiritismo. São inúmeras religiões, da católica à islâmica. Todas elas baseadas na esperança, na aceitação e na fé.
Neste inicio de milênio, apenas alegórico, pois o tempo é um continuum, é possível constatar uma nova relação entre os homens: O contato virtual. Redes de relacionamentos que aproximam pessoas e resgatam antigas amizades, promovem o comércio de sushi e até o sexo frio.
De um lado uma ferramenta de trabalho cada vez mais completa, de outro uma máquina de criação de fantasias e repassadora de e-trash. O computador foi uma solução encontrada, talvez por acaso, para gerir as necessidades da explosão populacional. Nos últimos 50 anos passamos de dois e meio para sete bilhões de pessoas.
O Google passou a ser o grande dicionário, multi língua, fonte de pesquisa de todos os temas. Nossa biblioteca planetária. Alexandria internacional.
Ora conclama e organiza movimentos como aconteceu no Egito, recentemente. Depois, afasta os homens conectados na solidão dos teclados.
Não estamos longe do momento em que teclaremos a palavra “Deus”.
E neste dia o computador responderá: “Entidade criada pelo ser humano para suportar sua existência”.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O branco e a negra

Não saberia dizer se algum sociólogo ou antropólogo poderia confirmar. Mas, minha sintética tese sobre a passividade e a convivência do brasileiro com a corrupção deve vir dos tempos da colonização. Primeiro, claro, com a doação das capitanias hereditárias. Este argumento já foi bastante explorado, especialmente pelo MDB, no movimento político contra a ditadura.
No entanto, afora os favores que a política sempre concedeu aos aliados circunstanciais, imagino que possa haver um fator psicológico secular. Fator este que é pré-freudiano e pré-psico qualquer coisa.
Imaginem a casa grande e a senzala. O homem branco, bem casado, sempre olhava para uma das negras, solteiras ou casadas, que estavam à disposição da sua vontade, realizando trabalhos domésticos ao longo do dia. Numa determinada hora, criava-se uma situação em que o ato era consumado. Passados nove meses, nascia um mulatinho. Logo se percebia que a pele e os cabelos eram de uma cor que denunciava o casal genitor.
Aí se criava aquele clima de cumplicidade e ou conveniência entre os membros da família, dos vizinhos e do vilarejo. Todos sabiam que aquela criança não podia ser filha de pais brancos ou de pais negros. Havia uma mistura de raças. Mas, para o bem-estar geral e garantia de privilégios, todos consentiam.
Não estou tratando de preconceito racial ou de diferença de classe social. Estou falando desta habilidade brasileira de conviver com o ladrão bem vestido, às vezes portador de mandato popular, outras vezes togado ou autodenominado empresário.
Todo mundo sabe que a criança é filha do homem branco com a mulher negra, mas ninguém fala.
Pode vir daí esta complacência que o brasileiro tem com a corrupção.
Engraçado é que no Brasil colônia não havia imprensa. Agora há...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O mandato, a sentença e o patrão...

No Brasil, como em outros países politicamente atrasados, o mandato, a sentença e o patrão, quase sempre trabalham juntos. E dizem representar o desejo da maioria. Do ponto de vista numérico, a quantidade de votos, sim. Noutros aspectos, não.
Os que recebem mandatos eletivos enriquecem numa escala geométrica. Para cada quatro anos de representação, oito anos de fartura. Alguns ficam milionários na vida pública. E não me digam que é assim no mundo todo, porque não é. A corrupção é uma característica dos subdesenvolvidos.
A sentença, até ser proferida, faz com que o processo percorra um longo caminho. Outra característica das sociedades atrasadas.
Aqui no Brasil tentou-se o juizado de pequenas causas, não adiantou.
Nos países politicamente desenvolvidos, a ação do judiciário é célere, a sentença é cumprida e, por causa disto, os cidadãos temem as leis.
Por último, a tradicional imprensa. Quem já trabalhou em rádios, jornais e ou televisões, sabe que há um limite para a liberdade. Limite este que faz fronteira com os interesses do patrão.
Pode-se falar sobre qualquer assunto, desde que não prejudique o caixa da empresa.
E o que causa espanto, às vezes nojo, é a pantomima na troca de homenagens entre o político e o jornalista. Outra característica dos subdesenvolvidos...
A tragédia brasileira, sem PT, com PT ou PSD, é que o caráter dos que lideram não muda. É uma conspiração permanente contra as instituições públicas que formam os alicerces para o desenvolvimento de qualquer sociedade...
Há exceções, graças a Deus, que ainda contribuem para a formação dos mais novos.
Sem elas, estaríamos cada vez mais longe da esperança.

domingo, 1 de maio de 2011

A sociedade pulverizada

A sociedade caminha do jeito que sabe, inventando o que pode e aumentando sem parar. Já estamos próximos dos sete bilhões de humanos no planeta. Ao longo do século 20 assistimos a explosão da comunicação. Telégrafo, rádio, TV e a WWW (world wide web).
Hoje, a informação passa de um direito fundamental do cidadão à condição de “produto”. As empresas jornalísticas, em geral, também no Brasil, têm no governo seu grande cliente. E aos governos interessa esta “relação perigosa”. Neste contexto, uma geração de jornalistas brasileiros começa a envelhecer em vários sentidos: Pela queda na credibilidade, pela incapacidade de atualização descomprometida da “versão oficial” ou pela censura interna. Alguns, por interesse e ou vantagens pessoais (aí incluídos seus familiares) divulgam suas “verdades”. Também, os “assessores de imprensa” pagos para divulgar fatos e atos sugeridos pelo patrão...
Neste contexto, o crescimento de “blogs” de variadas tendências tende a ocupar o espaço que pertencia à chamada imprensa. As versões e interpretações dos fatos, agora, são múltiplas.
Como nas duas grandes guerras mundiais, onde os aviões de uma determinada força despejavam informação ou contra-informação, num específico território.
Os reflexos desta nova configuração são, ainda, imprevisíveis. Mas, claramente, evidenciam uma sociedade pulverizada. Uma sociedade global que em breve terá à sua disposição, todos os canais de rádio e TV em funcionamento nos países componentes da nova rede. A Internet é um “meio” ainda em constituição.
A capacidade de crítica e divulgação aumentará de formas a revelar ao grande público aquilo que deveria ser ocultado.
A figura do jornalista desaparecerá. Veremos “empregados da comunicação”, uns ganhando mais, outros menos, divulgando as informações autorizadas pela empresa.
Os livre-pensadores estarão nos blogs. Aparentemente, o último refúgio da liberdade de expressão...