domingo, 23 de novembro de 2014

Os miúdos, os graúdos e a República...






Os miúdos, os graúdos e a República...

Marcos Bayer

A semana foi farta em surpresas. O elogiável trabalho da Polícia Federal na Operação Lava a Jato prendeu os graúdos do país. Aqui na Ilha, não menos elogiável, prendeu os miúdos na Operação Ave de Rapina.
Cabe, então, uma sugestão a estas duas instituições: Polícia Federal e Ministério Público bem que podiam organizar uma força-tarefa (PF-MP) e fazer uma limpeza na Administração Pública brasileira. Uma tarefa permanente.
Quando os meninos brincam de polícia e ladrão e na brincadeira existem helicópteros imaginários, geralmente os chamam de Águia 1 e Águia 2. Uma maneira “secreta” de fazer referência aos dois aparelhos voadores.
Alguns trechos das gravações da PF sobre os “pardais” e a corrupção decorrente das suas contratações são assim: ingênuos como nas brincadeiras dos meninos. “Olha, traz no elástico e no envelope a parte do chefe”.
O que seria? Um lanche, uma tartaruga ou dinheiro?
Os dois elementos da Guarda Municipal presos com R$ 100 mil reais na volta de Porto Alegre, junto com o Termo Aditivo que favorecia a empresa responsável pela instalação dos controles de velocidade em Florianópolis eram emissários de quem?
Do além? Da FIFA? Da Ordem dos Templários?
O ex-presidente da Câmara de Vereadores (César Luiz Belloni Faria) é nascido em 1966. O prefeito César Souza Jr. Em 1979. Ambos amadureceram sob a égide da Constituição de 1988. Ambos têm noções de Direito, Administração e Cidadania.
Não se pode permitir que esta geração formada sob uma ordem jurídica democrática, num Estado de Direito, deixe passar alguns atos de corrupção como os da operação mencionada.
O vereador procurador da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, além de embolsar R$ 25 mil mensais, tem o dever do exemplo funcional. Como representante popular, cujo mandato lhe rende mais R$ 13 mil, tem a obrigação de tratar dos assuntos da cidade com absoluta lisura.
Não sabemos o resultado final das investigações. Não sabemos se o Ministério Público fará a DENÚNCIA, se o Magistrado vai recebê-la e como vai julgá-la.
Não sabemos também, ainda, como reagirão os outros vereadores da CMF.
No entanto, o prefeito, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, alguns diretores de órgãos municipais e vereadores devem muitas explicações aos cidadãos de Florianópolis. Além das explicações, rescisões contratuais, mudanças na gestão, requalificação de pessoal, mais ética e eficiência. A cidade não suporta mais "estórias para boi dormir".
O recém-inaugurado sistema de transporte municipal é um exemplo do engodo. Pintaram os ônibus de azul e branco, alteraram alguns horários e escreveram na lataria: sistema integrado de mobilidade. Como se mobilidade urbana fosse fantasia de carnaval.
O prefeito também não precisa divulgar nota afirmando que foi à PF prestar esclarecimentos, espontaneamente. Ele foi intimado pelo delegado federal e numa democracia isto não deve ser objeto de vergonha ou medo. É rotina pública.
Também não precisa promover reunião urgente dentro de automóvel. Assuntos políticos e públicos devem ser tratados em gabinete de trabalho.
O trabalho, elogiável, da PF na Operação Ave de Rapina é um presente de Natal para a cidade. É educativo e merece o apoio de todos os cidadãos de uma República.
Gente do tipo investigado, depois de comprovada a culpa, deve ser banida da vida pública, antes que possam vir a ser deputado, senador, governador ou até presidente. São nocivos aos interesses da República. Devem procurar dinheiro em atividades próprias da economia de mercado. Não na política.



sábado, 15 de novembro de 2014

Univitelinos


Univitelinos
Marcos Bayer

Democracia e Justiça caminham juntas. De nada adianta votar nos membros do Executivo e do Legislativo se o Judiciário não funciona. Também não adianta ter um Judiciário competente sem eleger os membros dos outros dois poderes. Então, é óbvio, quem garante a democracia é um Judiciário competente. E vice versa. Dos direitos e deveres que o cidadão conquista com o voto ao eleger seus representantes, ele precisa do Judiciário para garantir suas escolhas.
O Brasil evolui mais um tanto com as últimas eleições, com o desempenho da Polícia Federal, do Ministério Público e dos fatos denunciados em relação à Petrobrás. Parece que os três partidos que sustentam o governo (PT, PMDB e PP) estão envolvidos na corrupção pública/privada. Saberemos mais durante as investigações. É possível que outros partidos políticos, inclusive o PSDB, estejam envolvidos nesta ou noutras “aventuras com o dinheiro público”. Também saberemos com o passar do tempo.
Este Brasil que vota, denúncia, prende, investiga e julga precisa melhorar.
A velocidade do julgamento em terras brasileiras soa aos tempos das Ordenações Manuelinas. Coisa dos séculos XIV e XV.
O prazo para julgar é o nosso grande entrave. Não o prazo do advogado que tem que ser cumprido, sob pena de prejuízos irreparáveis para a parte. Mas, o prazo do Juiz.
Juízes não cumprem prazo porque a legislação processual de todos os ramos do Direito não o define. Então, é comum as partes esperarem cinco ou dez anos por uma sentença. Isto é motivo de risos em outras partes do mundo.
Juízes não cumprem prazo por sobrecarga de trabalho, por falta de pessoal de apoio e por razões outras.
Se a legislação processual em todos os ramos do Direito determinasse, por exemplo, trinta dias para a contestação, após lida e aceita a petição inicial, e dali mais trinta para a impugnação, e outros trinta para a audiência de conciliação e não havendo, mais trinta para o julgamento final, teríamos em 120 dias uma sentença de primeiro grau.
E se dobrássemos todos os prazos, em 240 dias poderíamos ter uma sentença de segundo grau. Embargos, agravos e apelações teriam que ser apreciados, indistintamente, em até 30 dias, também.
Assim, em 360 dias, ou um ano, o cidadão saberia do seu Direito.
Não digam que é impossível. Basta contratar pessoal: magistrados e técnicos de apoio.
Estes prazos são razoáveis no chamado primeiro mundo porque lá o cidadão precisa da resolução judicial para tocar sua vida.
O Brasil caminha em duas velocidades. A da cibernética que impõem seu tempo ao Executivo e ao Legislativo e a medieval que baliza o Judiciário.
Não pensem também que a digitalização processual vai melhorar a velocidade eficazmente. Ela apenas transfere do papel para a tela os autos do processo. E pode dar uma pequena contribuição no andamento cartorial.
O prazo do Juiz é que é a bomba relógio. Sem a agilidade no julgamento não há segurança jurídica, não há direito reconhecido, não há cidadania plena.
O novo Congresso Nacional eleito recentemente deveria cuidar da matéria. Não vislumbro nos senadores Silveira, Bauer e Berger o perfil para tratar da questão. Ou por falta de interesse na matéria, ou por não alcançar a importância da questão ou por precisar de prazos longos e prescrições para a sobrevivência política.
Talvez na bancada federal, alguém com perfil de homem de Estado, pudesse compreender a lógica embutida na celeridade processual com a longevidade da democracia. Coisa que os ingleses ensinaram ao mundo e os norte-americanos e os alemães tão bem copiaram.
Não por acaso, todo estudante do Direito aprende o conto do moleiro alemão molestado pelo emissário do Kaiser para demolir seu moinho a fim de não prejudicar a paisagem da nobreza: Ainda temos Juízes em Berlin...
O debate está aberto: Prazo para o processo definido em Lei e executado pelo Juiz.








sábado, 18 de outubro de 2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

I found you

http://youtu.be/WS0w8Tnfluk






sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O momento político e o Brasil de agora...




O momento político e o Brasil de agora...

Marcos Bayer

A queda do avião que transportava Eduardo Campos e seus auxiliares mais próximos, desnuda mais uma vez o Brasil e a sua vida política. Não há dúvidas de que era um homem preparado, sensível e disposto em relação ao país.
Em razão dos curtos períodos democráticos que a nação pode viver, de 1946 até 1964 e depois de 1989 até hoje, não experimentamos ainda, pelo menos, 100 anos de eleições livres e continuadas. Somos um país em construção, inclusive institucional. Por isto, dizem, que ao redor de 200 famílias influenciam nossa vida política. Eu diria, acrescentando, que os que não pertencem às tais famílias, delas são empregados. É o caso em Santa Catarina, atualmente.
As famílias são de tradição política variada. Podem ser socialistas como os Arraes, os Mangabeira, os Brizola ou podem ser de extrema direita como os Maia, os Maluf, os Sarney e tantos outros. E volta e meia, surgem personagens isoladas, fora das tais famílias, como o Gabeira, o Bolsonaro, o Barreto ou o Lerner.
Os independentes são poucos e raros. O Brasil ainda é uma grande oligarquia, controladora do Estado e de seus empregados imediatos. Com a prática das eleições continuadas haverá a depuração e polinização da política. Nossos netos a verão.
A costura política de Eduardo Campos é uma amostra perfeita da situação brasileira na sua composição política. Construiu um arco que vai desde o velho e acabado PFL, agora com novas siglas (DEM – PSD – outros) e foi até os Verdes da Rede Solidariedade.
Se vitorioso, teria que ser o mágico e o equilibrista simultaneamente.
Não é diferente na chapa PT/PMDB ou na chapa de Aécio Neves. Todos estão misturados com todos. Estamos vivendo a geleia geral brasileira.
Faz parte do processo de estruturação partidária esta “meleca” democrática. Espero...
A comoção vivida em razão de seu desaparecimento prematuro será condimento eleitoral. Aumentará o interesse do eleitor que estava apático e sonolento com tanta embromação.
O fato é que Eduardo Campos deu uma pitada de sal na nossa política. Sua figura exigiu mais seriedade, mais competência, mais simpatia, mais alegria e mais brasilidade. Nordestino, foi forte e honrou a tradição dos Arraes. Perdeu o Brasil, mais uma vez.






terça-feira, 1 de julho de 2014

I did it my way





I did it my way

Marcos Bayer

Com esta frase, I did it my way, parte da letra de Paul Anka, Jacques Reveaux e Claude François na música My Way, Esperidião Amin levantou seu partido e mais de mil pessoas na noite de 30 de Junho de 2014.
Uma convenção partidária que começou sob a nítida indução de seus dirigentes tentando embretar - colocar o gado no brete - antes do sacrifício final e que foi abortada pelos membros e simpatizantes do PP.
Quando a mesa diretora perdeu o controle para a plateia, não restou outra solução senão abrir a palavra aos dois protagonistas da noite.
O primeiro falou como amador. Joares Ponticelli perdeu muito tempo contando estória sobre o tal de “senhor mandão”, vangloriando-se de ter ajudado prefeitos desesperados em tempos de vacas magras, comuns à oposição, graças ao relacionamento da bancada estadual como governador. Primário, colocou-se na posição de vítima de uma traição. Disse que queria colocar o partido de volta no poder. Esqueceu-se de dizer que o PDS/PP só esteve no poder com Esperidião Amin, tanto em 1983/86 e depois em 1999/2002. Antes disto, só com Jorge Konder Bornhausen, nomeado pelo governo militar na robusta ARENA. (Aliança Renovadora Nacinal).
And now the end is near,
And so I face the final curtain.
My friend, I'll say it clear,
I'll state my case, of which I'm certain.
Aplaudido pela “charanga” que trouxe de algum lugar e por mais meia dúzia de simpatizantes, entregou o microfone ao segundo protagonista.
Amin Helou, autor de belíssimas páginas da História Política de Santa Catarina, de quem fui adversário em 1985 e aliado em 1998, não precisou dizer o que fez nos dois mandatos de governador e dois de prefeito, senador, deputado federal e secretário estadual de transportes. Constrangeria o jovem deputado que para presidir uma assembleia teve que dividir o mandato...
Seu talento na oratória, comparável ao loquaz Jaison Barreto, sua inteligência, determinação, conhecimento, memória e caráter, foram os ingredientes para levantar a convenção.
Disse: Eu não sou surdo, referindo-se às manifestações. Disse que não veria seu partido ser engolido por tratativas escusas. Falou da vida, das dores e alegrias.
I've lived a life that's full,
I travelled each and every highway.
And more, much more than this,
I did it my way.
Chamou a convenção aos brios, deu sopro – pneuma – ao espírito.
Aclamado várias vezes, mudou os semblantes das pessoas.
As senhoras encasacadas que vieram de Lages na comitiva do ex-prefeito Renatinho, previamente orientadas para aceitar a hipótese Ponticelli na chapa de Colombo, compreensível na dimensão serrana, diziam: o Amin vai ser o governador... Naquele momento, mil pessoas falaram por Santa Catarina.
Regrets I've had a few,
But then again too few to mention.
I did what I had to do,
And saw it through without exemption.

Ensinou sobre a emancipação na vida. Da casca do ovo que precisa ser furada, da tentativa de superação do filho em relação ao pai, da entrega aos sabores e dissabores da existência. Maestro, conduziu mais uma vez seu partido. Lições, deixou várias. Exemplos, deu incontáveis.
Desde a participação direta nas enchentes de Blumenau e arredores em seu primeiro governo, até suas andanças pelo mundo no segundo mandato governamental.
Brilhante raciocínio o coloca à vontade em qualquer cenário. Pode ser em Arabutã no interior de Santa Catarina ou em Riyadh na Arábia Saudita.
I planned each chartered course,
Each careful step along the by way.
And more, much more than this,
I did it my way.

Príncipes e princesas, primeiros-ministros, governadores, presidentes ou Rei, soube colocar-se com galhardia perante todos. Santa Catarina teve nele seu melhor embaixador.
Ao lado dos colonos, agricultores de todos os naipes, operários de todos os fornos, comerciantes e industriais; foi parceiro nas horas mais difíceis.
Dormiu pouco e nunca de touca. Afinal, dela não precisava. Cabelos não havia.

I've loved, I've laughed, and cried,
I've had my fail, my share of losing.
And now, as tears subside,
I find it all so amusing.

Temperamento instável, era capaz de azedar a maionese em poucos instantes como dizia o Zico. É um interessante amigo, o libanês.
Expansivo, ocupou todos os espaços por onde passou. Na convenção de ontem mostrou ao PP, e aos que quiserem saber, o que é Política.
Saiu aplaudido, governador eleito pela terceira vez. Autorizado pela ética, pela virtude e pela emoção...
For what is a man, what has he got,
If not himself, then he has not
To say the things he truly feels,
And not the words of one who kneels.

Dali em diante, na sala reservada às cúpulas do PP e do PSDB, já não sabemos o que houve.
Quais as razões que nortearam a composição da chapa PSDB/PP/PSB, também não conhecemos.

Santa Catarina perdeu ontem. Perdeu muito...

The record shows,
I took the blows
And did it my way.

Yes, it was my way.





terça-feira, 13 de maio de 2014

Sociedade por quotas de responsabilidade limitada





Sociedade por quotas de responsabilidade limitada

Marcos Bayer

Todos leram, nos diversos jornais, que nos dois primeiros anos de governo Colombo/Pinho Moreira (2011/2012) nada faziam porque estavam conhecendo a máquina administrativa. Mentira serrana. A máquina era a mesma que LHS havia gerido entre 2003 e 2010, em seus dois mandatos, e o PMDB continuava no processo. O que não havia era dinheiro para o Colombo gastar. Além da escassez financeira, acabaram os privilégios das alíquotas de importação que premiavam alguns estados, entre eles Santa Catarina. Um artifício fiscal montado pelo Aldo Hey Neto, o mago das finanças de LHS, preso pela Polícia Federal por práticas criminosas em outubro de 2006, durante as eleições.
Quando a fonte secou, houve intensa mobilização política para compensar a receita perdida, surgindo neste novo cenário um empréstimo de R$ 10 bilhões de reais, conhecido pelo simpático nome de Pacto por SC.
Com o Pacto da Dilma, salivas voltaram às bocas secas e Colombo jurou fidelidade à Presidenta. Jura ainda hoje. Até quando?
Veio então o segundo momento do Pacto por SC: Como e com quem gastá-lo?
As respostas adequadas poderiam garantir a reeleição de Raimundo Colombo, o governante das conversas afáveis e amistosas, como ele mesmo se auto define.
Afora isto, o Tesouro do Estado terá outros negócios para realizar, entre os quais o pagamento dos precatórios, a questão dos benefícios dos inativos, as finanças da INVESC.
É preciso então, muita coesão, uma coligação silenciosa e operante para validar decisões de amplitude notável.
Assim, fez-se necessário o afastamento de Esperidião Amin das decisões de proa, visto que ele poderá questionar a licitude de certos procedimentos.
Com apoio de Raimundo, membros do PP roem o partido por dentro, enquanto LHS veta por fora. O alvo, no dizer do senador de Joinville, é acabar com o único animal que ressuscita: o animal político.
Eu ainda não havia visto uma coalizão política, em SC, tão decidida a calar vozes dissonantes.
O cenário atual impõe ao PSDB estadual e ao ex-governador Esperidião Amin a construção de uma barreira política que impeça mais quatro anos de negócios por toda Santa Catarina.
Sindicatos, personalidades, a imprensa livre, estudantes e a população em geral precisam ser esclarecidos, didaticamente, do grande acordo que pretendem celebrar para desmoralizar, em definitivo, a política estadual.
A parte menor do PMDB, e nem por isto menos ativa, o PT reunido à volta de Vignatti e até o PSOL precisam compreender o tamanho da sociedade por quotas de responsabilidade limitada que está prestes a nascer...









quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O estado geral das coisas em Santa Catarina








O estado geral das coisas em Santa Catarina

Marcos Bayer

Dito foi, tempo faz, que Santa Catarina caminha por suas próprias pernas e que bem governá-la é apenas um exercício de talentos e inspirações. O governo não pode atrapalhar sua magnífica capacidade de expansão, sua criatividade, sua sinergia...
Deve apenas apoiar, corrigir desvios e oferecer a infra-estrutura intrínseca ao dever de governar.
Desde 2003, no entanto, visões míopes e infelizes mandatários corromperam o processo político de tal forma que a recuperação custará esforço redobrado. O Estado passou a ser organizado para beneficiar determinadas classes, com salários e vantagens, colocando professores, bombeiros e médicos no extremo oposto da serventia pública. Este doce veneno que desequilibra salários e funções, cria castas arrogantes e improdutivas ao desenvolvimento do povo catarinense.
Há um conluio tão bem forjado que os partidos políticos pensam numa aglutinação totalitária para disputar as eleições deste ano contra o povo.
O PMDB, o PSD, o PT e o PP se espremem no famoso “três em um” tentando acomodar quatro aspirações em três cargos.
Isto é tão nefasto ao processo democrático que o próprio PMDB, carro chefe desta estapafúrdia engrenagem, começa a tomar consciência do logro proposto.
Esta convivência compartilhada sem a vigilância própria da oposição política permite pequenos negócios entre famílias até grandes desfalques em terra, mar e ar. Estradas, pontes e helicópteros para exemplificar.
O prazer passageiro do automóvel novo e da janela emoldurada pelo alumínio escovado dá aos velhos um sentimento de conforto e aos novos a dúvida da retidão do caráter. Dúvida perigosa a todas as tribos ao longo da História.
A imprensa mais exposta noticia que não há crise em Santa Catarina, mas um surto de desenvolvimento com safras imensas, empresas novas e outros recordes.
O mesmo jornal, no mesmo dia, dá conta do prejuízo aos avicultores do Oeste que perdem até 30 mil aves por semana em razão das quedas no fornecimento da energia elétrica.
Há uma esquizofrenia administrativa onde a propaganda oficial e regiamente paga mostra o governador vaqueiro pescando trutas negras em suas Coxilhas Ricas. Quando vaqueiros trocam seus cavalos pelas trutas negras (black bass), Hollywood muda seus paradigmas.
É um governo que reforma escolas por determinação do Ministério Público e as anuncia como se fossem capricho conceitual.
Não me peçam provas que estão nos processos judiciais e administrativos. Não me peçam fotos de encontros não havidos no exterior. Não me peçam senão o comprometimento da palavra escrita e publicada, mais eficaz do que os sussurros íntimos cambiáveis a cada momento oportuno.
Este é o quadro em que nos movimentamos.
A Política não se organiza em torno do sublime, mas do possível.
E queiramos ou não, neste momento, só um cidadão é capaz de mudar os rumos da História de Santa Catarina.
Duas vezes prefeito, duas vezes governador, senador da República, deputado federal e candidato à Presidência do Brasil.
Ele reúne qualidades intelectuais e administrativas. Possui disposição física e vontade psíquica, autoridade política e moral para organizar um movimento de transformação em nossa sociedade.
Se olharmos para a questão das águas, doces ou salgadas, vemos os mananciais desprotegidos, as nascentes descuidadas, a mata ciliar danificada, rios poluídos desaguando esgoto não tratado em nossas praias. Só este aspecto é digno de uma restauração sem precedentes, pois coloca nosso futuro comum em jogo.
Para obter êxito qualquer processo necessita de um conjunto de forças capaz de mobilizar a sociedade, convencer desavisados e entusiasmar a maioria.
Pode o PP encabeçar o movimento, cabe ao PSB apresentar seu vice-governador e ao PSDB, finalmente, entender sua importância política nesta fase e demonstrar grandeza ao oferecer um nome ao Senado da República.
Ou conseguimos um entendimento entre os homens interessados no futuro de Santa Catarina ou navegaremos em águas fétidas, mais uma vez.
Afastando aspectos periféricos de nossas personalidades, agradáveis ou não, vamos ao cerne de nossos homens públicos e lá encontraremos as soluções.
Não há outro caminho, senão a mudança competente daqueles que quando perdem voltam à Universidade para estudar, aprender e ensinar.
Coisa que muitos outros não fazem nem antes e nem depois das derrotas eleitorais. E de analfabetos políticos monossilábicos não precisamos mais...











quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os manés, nossa história e a arquitetura...






Os manés, nossa história e a arquitetura...
Marcos Bayer

Dia destes, assistia ao canal de TV exibindo programa sobre as cidades europeias. E aí, não sei por que, imediatamente dividi meu cérebro em duas partes: uma assistia ao programa e a outra revia Desterro até Florianópolis, com imaginação e imagens reais que a  memória permitia.
E aí então compreendi que mesmo sendo uma ilha de imigrantes açorianos, gregos, libaneses, alemães, italianos e outras etnias, estamos fadados aos alvarás de demolição.
O Coliseu, em Roma, se aqui fosse já teria sido demolido para dar lugar a um estádio de futebol. A Torre de Pisa já teria sido escorada de um lado e guinchada por cabos de aço no outro, na tentativa de verticaliza-la novamente. Os laranjais de Sevilha, cuja sombra e aroma embelezam a Andaluzia, já teriam sido substituídos por pequenos prédios como aconteceu na Trindade com sua Festa da Laranja. As palmeiras tropicais foram transportadas para a Europa a fim de adornar cidades nas bordas mediterrâneas. Aqui, o pau-brasil foi ceifado até a inexistência. Cemitérios ingleses e catacumbas italianas, aqui teriam sido, como foram, transformados em terrenos abandonados como a cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz.
Petiscos como calamari, azeitonas e doces gregos, tapas e tortilhas espanholas, patês de foie gras e rins ensopados aqui se transformaram em anchovas na chapa, vendidas como grelhadas, cujo azeite é uma emulsão estimuladora do vômito, a cem reais o par, como estão à disposição no Pântano do Sul. Ruas de paralelepípedo que legitimavam a praça XV, o Palácio Cruz e Souza e outras construções, foram asfaltadas sobre o argumento de que a trepidação prejudicaria as construções. Azulejos artesanais pintados à mão como na Galícia, em Valência ou Óbidos em Portugal, aqui foram transformados no Porcelanato 60X60 cm vendidos nas melhores casas comerciais. A rica e miscelânea área comercial da Rua Conselheiro Mafra, o Mercado Público e adjacências, foram substituídos por lojas de produtos de gosto e preço duvidosos.
Salvamos a sede do Corpo de Bombeiros, a sede do Comando Militar, a Igreja e o Orfanato e alguns casarios da Praça Getúlio Vargas. Inúmeras residências nas principais avenidas como Trompowsky, Rio Branco, Mauro Ramos e Hercílio Luz deram lugar aos prédios retos de janelas quadradas numa arquitetura próxima do sufocante. Faltou Gaudi ou Calatrava. Ou Niemeyer quando integrava a curva à reta. Carros de mola puxados por cavalos estacionados na praça XV, como no Central Park de Nova York ou no Ringstrasse de Viena, de valor turístico apreciável, aqui deram espaço aos táxis brancos cujas placas pertencem aos vereadores.
E assim, poderíamos passar a noite fazendo paralelos entre o azul, limpo e transparente Mar Mediterrâneo e nossas belíssimas praias pigmentadas por coliformes fecais.
Nossas ostras são oxigenadas pelas águas das baías cuja pureza só a Fatma pode atestar. Então, sob o comando político de manés iletrados com curso superior em Organização & Métodos, planejamentos intermináveis e reuniões inconsequentes vamos perdendo os músicos que poderiam tocar pelas ruas, o Boi de Mamão, as festas populares e religiosas substituídas pelos beach clubs de Jurerê onde os marombados e as Marybundas tentam impor um novo padrão cultural. No extremo sul da Ilha, para demonstrar que a crítica não é dirigida, temos a Praia dos Açores, cujas ruas lajotadas assemelham-se às de Bagda, depois da ofensiva norte-americana.
O Prefeito vai à Disney, em férias, para mostrar aos seus a Minnie e o Mickey. Paga R$ 4,6 milhões de reais pela festa e a transmissão dos fogos que se queimam em vinte minutos de espetáculo inigualável em todo o planeta. Florianópolis é a única cidade no planeta que festeja o Ano Novo de forma pirotécnica. Haja originalidade! Os músicos locais que tocaram na Fenaostra ainda não haviam recebido seus créditos junto ao Município. Aliás, a Fenaostra deveria ser comemorada nos diversos restaurantes do Ribeirão da Ilha e num espaço mais apropriado do que aquele Centro de Convenções, enclausurado na Baía Sul, onde nem o por do sol se pode apreciar. Esqueceram-se das janelas num rasgo de arquitetura cósmica.
Não sabemos quais os maiores devedores do IPTU, nem da quadrilha que fraudava quitações tributárias na Prefeitura Municipal e, no entanto, houve um aumento considerável do Imposto Territorial  e Predial Urbano.
Votou-se um plano diretor cujos anexos até hoje estão desanexados. Nesta balburdia, os principais responsáveis tratam-se respeitosamente pela alcunha de Vossa Excelência.
A Ilha, tristemente, afasta-se da excelência que já experimentou, para um momento de conurbação, onde as autoridades políticas serão conhecidas pelo vulgo.

Esta tem sido a nossa sina...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Os nossos e os deles...





Os nossos e os deles...

Marcos Bayer

Depois que o nosso mais lido colunista político, pago pelo TCE/SC, entrou na área turística, somos compelidos a fazer breves considerações.
Lá, os europeus estudam oito horas por dia na educação básica, falam mais de um idioma, conhecem História, preservam suas identidades culinárias, arquitetônicas, musicais e tantas outras...
Lá, na Europa ou nos EEUU, quando o político afana ou furta, vai para a cadeia...
Lá eles preservam o antigo e constroem o novo. Às vezes lado a lado, como em Berlin, por exemplo.
Lá, nas águas da Grécia, não se vê dejetos humanos boiando. Nem ao longo da borda mediterrânea de cima.
Lá eles já resolveram o problema do esgoto enquanto nós ainda estamos a resolver o problema da água... Aqui tão abundante.
Lá quando lota é porque está lotado. Usam um sistema de reservas, até para os restaurantes melhores...
Em Porto Fino, na Itália, na foto, não se veem os automóveis, nem monstrengos arquitetônicos...
Em Saint Tropez, na França, na foto, não há espigões...
Em Cherry Groove, na Fire Island, em Nova York, pelas condições geográficas, os automóveis ficam aqui e a travessia é feita em ferry boats para o lado de lá...
Aqui, na Ilha da Magia, governada por um bando de manés iletrados, quase todos financiados por meia dúzia de espertalhões, as leis são para a exploração máxima, em todos os sentidos. Exaustão...
Além de mal preparados, muitas vezes até no caráter, sequer vão ao cinema para aprender com o que os filmes mostram...
O sistema CASAN, um poço sem fundo, opera com 40% de perdas. Para cada 100 litros produzidos, 40 são perdidos em pequenos vazamentos ou em “gatos”. No outros 60% ainda temos que contabilizar quanto sai pelos ladrões...
Não sabemos cuidar dos nossos rios, sequer dos nossos canos...
A bastança nos faz perdulários...
Poderíamos ter grandes estacionamentos na área de Paulo Lopes e ou Biguaçú e de lá trazer os turistas embarcados para ocuparem o sul e o norte da Ilha. Nela usariam bicicletas ou motos, como nas Ilhas gregas, ou táxis e bondes.
Aqui já houve uma arquitetura açoriana, casarões imponentes, uma cultura grega e libanesa, mesclada à negra, na região comercial do Mercado Público. Puseram abaixo. Tudo bem, não sabiam onde era Curaçao no Caribe ou Amsterdam. Nem fotos viram...
Começaram os edifícios... A maioria caixotes sem graça... Sequer as loucuras de Nova York souberam copiar... Ou da Postdamer Platz de Berlin ou até mesmo o aço envidraçado de Dubai... E havia Brasília como inspiração inserida na Lagoa da Conceição e no Aterro da Baía Sul tomado pelo bazar dos mais necessitados e pelos ônibus desabrigados...
Nem em Veneza souberam buscar ideias ou inspirações...
E aí os espertos, os tansos e os bocós que conviviam tão bem com os imigrantes europeus, aportados no século XIX e que formaram as famílias que demarcavam a Ilha e seu entorno, foram perdendo “terreno” para os novos cowboys and rangers, como em Los Angeles, na corrida do ouro norte americana...
E a Ilha virou esta geleia geral brasileira com pitadas estrangeiras, onde uma classe de burocratas ociosos e políticos meia boca, vendem licenças e favores em troca de alguns trocados a fim de entrarem para o mundo das estrelas do pagode, do futebol, da gastronomia, da publicidade, da música eletrônica e de outras tribos que aportam por aqui...
Eles matam a galinha dos ovos de ouro, a Ilha que poderia dar sombra e água fresca para tantas gerações, como deu para a minha e as anteriores...

E foi na sombra e na água fresca que a Ilha foi mais exuberante sob todas as formas... Inclusive com as pessoas que aqui construíram e viveram seus sonhos.