quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os manés, nossa história e a arquitetura...






Os manés, nossa história e a arquitetura...
Marcos Bayer

Dia destes, assistia ao canal de TV exibindo programa sobre as cidades europeias. E aí, não sei por que, imediatamente dividi meu cérebro em duas partes: uma assistia ao programa e a outra revia Desterro até Florianópolis, com imaginação e imagens reais que a  memória permitia.
E aí então compreendi que mesmo sendo uma ilha de imigrantes açorianos, gregos, libaneses, alemães, italianos e outras etnias, estamos fadados aos alvarás de demolição.
O Coliseu, em Roma, se aqui fosse já teria sido demolido para dar lugar a um estádio de futebol. A Torre de Pisa já teria sido escorada de um lado e guinchada por cabos de aço no outro, na tentativa de verticaliza-la novamente. Os laranjais de Sevilha, cuja sombra e aroma embelezam a Andaluzia, já teriam sido substituídos por pequenos prédios como aconteceu na Trindade com sua Festa da Laranja. As palmeiras tropicais foram transportadas para a Europa a fim de adornar cidades nas bordas mediterrâneas. Aqui, o pau-brasil foi ceifado até a inexistência. Cemitérios ingleses e catacumbas italianas, aqui teriam sido, como foram, transformados em terrenos abandonados como a cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz.
Petiscos como calamari, azeitonas e doces gregos, tapas e tortilhas espanholas, patês de foie gras e rins ensopados aqui se transformaram em anchovas na chapa, vendidas como grelhadas, cujo azeite é uma emulsão estimuladora do vômito, a cem reais o par, como estão à disposição no Pântano do Sul. Ruas de paralelepípedo que legitimavam a praça XV, o Palácio Cruz e Souza e outras construções, foram asfaltadas sobre o argumento de que a trepidação prejudicaria as construções. Azulejos artesanais pintados à mão como na Galícia, em Valência ou Óbidos em Portugal, aqui foram transformados no Porcelanato 60X60 cm vendidos nas melhores casas comerciais. A rica e miscelânea área comercial da Rua Conselheiro Mafra, o Mercado Público e adjacências, foram substituídos por lojas de produtos de gosto e preço duvidosos.
Salvamos a sede do Corpo de Bombeiros, a sede do Comando Militar, a Igreja e o Orfanato e alguns casarios da Praça Getúlio Vargas. Inúmeras residências nas principais avenidas como Trompowsky, Rio Branco, Mauro Ramos e Hercílio Luz deram lugar aos prédios retos de janelas quadradas numa arquitetura próxima do sufocante. Faltou Gaudi ou Calatrava. Ou Niemeyer quando integrava a curva à reta. Carros de mola puxados por cavalos estacionados na praça XV, como no Central Park de Nova York ou no Ringstrasse de Viena, de valor turístico apreciável, aqui deram espaço aos táxis brancos cujas placas pertencem aos vereadores.
E assim, poderíamos passar a noite fazendo paralelos entre o azul, limpo e transparente Mar Mediterrâneo e nossas belíssimas praias pigmentadas por coliformes fecais.
Nossas ostras são oxigenadas pelas águas das baías cuja pureza só a Fatma pode atestar. Então, sob o comando político de manés iletrados com curso superior em Organização & Métodos, planejamentos intermináveis e reuniões inconsequentes vamos perdendo os músicos que poderiam tocar pelas ruas, o Boi de Mamão, as festas populares e religiosas substituídas pelos beach clubs de Jurerê onde os marombados e as Marybundas tentam impor um novo padrão cultural. No extremo sul da Ilha, para demonstrar que a crítica não é dirigida, temos a Praia dos Açores, cujas ruas lajotadas assemelham-se às de Bagda, depois da ofensiva norte-americana.
O Prefeito vai à Disney, em férias, para mostrar aos seus a Minnie e o Mickey. Paga R$ 4,6 milhões de reais pela festa e a transmissão dos fogos que se queimam em vinte minutos de espetáculo inigualável em todo o planeta. Florianópolis é a única cidade no planeta que festeja o Ano Novo de forma pirotécnica. Haja originalidade! Os músicos locais que tocaram na Fenaostra ainda não haviam recebido seus créditos junto ao Município. Aliás, a Fenaostra deveria ser comemorada nos diversos restaurantes do Ribeirão da Ilha e num espaço mais apropriado do que aquele Centro de Convenções, enclausurado na Baía Sul, onde nem o por do sol se pode apreciar. Esqueceram-se das janelas num rasgo de arquitetura cósmica.
Não sabemos quais os maiores devedores do IPTU, nem da quadrilha que fraudava quitações tributárias na Prefeitura Municipal e, no entanto, houve um aumento considerável do Imposto Territorial  e Predial Urbano.
Votou-se um plano diretor cujos anexos até hoje estão desanexados. Nesta balburdia, os principais responsáveis tratam-se respeitosamente pela alcunha de Vossa Excelência.
A Ilha, tristemente, afasta-se da excelência que já experimentou, para um momento de conurbação, onde as autoridades políticas serão conhecidas pelo vulgo.

Esta tem sido a nossa sina...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Os nossos e os deles...





Os nossos e os deles...

Marcos Bayer

Depois que o nosso mais lido colunista político, pago pelo TCE/SC, entrou na área turística, somos compelidos a fazer breves considerações.
Lá, os europeus estudam oito horas por dia na educação básica, falam mais de um idioma, conhecem História, preservam suas identidades culinárias, arquitetônicas, musicais e tantas outras...
Lá, na Europa ou nos EEUU, quando o político afana ou furta, vai para a cadeia...
Lá eles preservam o antigo e constroem o novo. Às vezes lado a lado, como em Berlin, por exemplo.
Lá, nas águas da Grécia, não se vê dejetos humanos boiando. Nem ao longo da borda mediterrânea de cima.
Lá eles já resolveram o problema do esgoto enquanto nós ainda estamos a resolver o problema da água... Aqui tão abundante.
Lá quando lota é porque está lotado. Usam um sistema de reservas, até para os restaurantes melhores...
Em Porto Fino, na Itália, na foto, não se veem os automóveis, nem monstrengos arquitetônicos...
Em Saint Tropez, na França, na foto, não há espigões...
Em Cherry Groove, na Fire Island, em Nova York, pelas condições geográficas, os automóveis ficam aqui e a travessia é feita em ferry boats para o lado de lá...
Aqui, na Ilha da Magia, governada por um bando de manés iletrados, quase todos financiados por meia dúzia de espertalhões, as leis são para a exploração máxima, em todos os sentidos. Exaustão...
Além de mal preparados, muitas vezes até no caráter, sequer vão ao cinema para aprender com o que os filmes mostram...
O sistema CASAN, um poço sem fundo, opera com 40% de perdas. Para cada 100 litros produzidos, 40 são perdidos em pequenos vazamentos ou em “gatos”. No outros 60% ainda temos que contabilizar quanto sai pelos ladrões...
Não sabemos cuidar dos nossos rios, sequer dos nossos canos...
A bastança nos faz perdulários...
Poderíamos ter grandes estacionamentos na área de Paulo Lopes e ou Biguaçú e de lá trazer os turistas embarcados para ocuparem o sul e o norte da Ilha. Nela usariam bicicletas ou motos, como nas Ilhas gregas, ou táxis e bondes.
Aqui já houve uma arquitetura açoriana, casarões imponentes, uma cultura grega e libanesa, mesclada à negra, na região comercial do Mercado Público. Puseram abaixo. Tudo bem, não sabiam onde era Curaçao no Caribe ou Amsterdam. Nem fotos viram...
Começaram os edifícios... A maioria caixotes sem graça... Sequer as loucuras de Nova York souberam copiar... Ou da Postdamer Platz de Berlin ou até mesmo o aço envidraçado de Dubai... E havia Brasília como inspiração inserida na Lagoa da Conceição e no Aterro da Baía Sul tomado pelo bazar dos mais necessitados e pelos ônibus desabrigados...
Nem em Veneza souberam buscar ideias ou inspirações...
E aí os espertos, os tansos e os bocós que conviviam tão bem com os imigrantes europeus, aportados no século XIX e que formaram as famílias que demarcavam a Ilha e seu entorno, foram perdendo “terreno” para os novos cowboys and rangers, como em Los Angeles, na corrida do ouro norte americana...
E a Ilha virou esta geleia geral brasileira com pitadas estrangeiras, onde uma classe de burocratas ociosos e políticos meia boca, vendem licenças e favores em troca de alguns trocados a fim de entrarem para o mundo das estrelas do pagode, do futebol, da gastronomia, da publicidade, da música eletrônica e de outras tribos que aportam por aqui...
Eles matam a galinha dos ovos de ouro, a Ilha que poderia dar sombra e água fresca para tantas gerações, como deu para a minha e as anteriores...

E foi na sombra e na água fresca que a Ilha foi mais exuberante sob todas as formas... Inclusive com as pessoas que aqui construíram e viveram seus sonhos.