quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Não é um país sério...



                                                      Não é um país sério...


Marcos Bayer

Pouco importa se a frase é do General Charles De Gaulle ou do Embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza Filho, por ocasião da Guerra da Lagosta, em 1962, quando a França e o Brasil discutiam se as lagostas que passavam pelo litoral de Pernambuco, andavam ou nadavam.
Caso “nadassem” eram “internacionais”. Se “andassem” eram brasileiras, pois o solo submarino pertencia ao Brasil.
O fato é que de lá para cá temos visto um país pouco sério nos seus caminhos políticos.
Veio o golpe militar de 1964 com o argumento de que o Brasil não podia virar para o lado do comunismo.
Os generais impuseram dois partidos políticos: ARENA e MDB. A Aliança Renovadora Nacional apoiava o regime. O Movimento Democrático Brasileiro podia fazer oposição. Era uma “democracia” militar.
Com o passar dos anos, em 1968, a situação ficou mais complexa. Liberdades civis suprimidas com censura geral, mandatos políticos cassados e planejamento orçamentário rigoroso.
O “bolo” econômico deveria crescer para depois ser dividido entre a população, ensinava Delfim Netto. Havia dinheiro disponível nas bancas de Londres e Nova York provenientes dos “petrodólares” do Golfo Arábico.
Os subdesenvolvidos eram estimulados à contratação de empréstimos com taxas de 17% até 21% ao ano. Na Europa as taxas giravam em torno de 6% a.a. Olha a maravilha do “spread”.
Construiu-se muita coisa, grandes obras, estradas federais, industrialização nacional e um pouco de tortura e corrupção, nas medidas permitidas por alguns generais.
O MDB criava corpo, gritava e sacudia a nação rumo à democracia. Abertura política, anistia, eleições diretas em todos os níveis.
A Arena respondia com sublegendas, senadores biônicos e colégio eleitoral.
E assim fomos, até que em 1988 proclamamos uma Constituição e em 1989 elegemos um presidente civil pelo voto secreto e direto. 
No úbere do MDB estavam os comunistas, socialistas, democratas, trabalhistas, anarquistas e todos os matizes que se possa imaginar.
O MDB abrigava a todos. Com o tempo foi se depurando. Saíram tendências ideológicas para a construção de novos partidos.
Surgiu o PT – Partido dos Trabalhadores. Nasceu o PSDB, a parte boa do PMDB. Nasceu o PSOL, a parte ética do PT.
Da Arena, fizeram-se PDS, PFL, DEM e até o PSD.
Surgiram outros. Quase 30 partidos políticos, hoje registrados e em funcionamento.
Depois das tentativas de vários deles em governos estaduais, ou no federal, finalmente o PT, na quarta eleição, em 2002, chega à Presidência.
Lula recebe seu primeiro diploma na vida: o de Presidente do Brasil.
Inegavelmente consegue impor avanços na economia, na produção, na educação, no consumo e na oferta de crédito.
Parecia que vinha bem, até que o Presidente Mujica, do vizinho Uruguay, revela em seu livro que Lula admitia lidar com coisas imorais e chantagens para poder governar o Brasil.
Aí veio o Mensalão, o Petrolão e outros casos ainda submersos, conectados a vários partidos políticos.

Mas, o pior é ter que assistir o PT desconstruir, no Congresso Nacional, todo avanço legal que conseguiu nos últimos tempos, especialmente no que se refere aos trabalhadores.
O ajuste fiscal pretendido pelo governo da Dilma pode ser sintetizado assim:
O PIB do Brasil em 2014 foi de R$ 5,5 trilhões de reais. Foi quanto a nação produziu, a soma dos esforços de todos os brasileiros. Gastamos com o pagamento dos juros da dívida pública (o valor que o Tesouro paga aos bancos) R$ 250 bilhões de reais, cinco por cento do PIB. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quer economizar R$ 66 bilhões de reais no tal do ajuste fiscal, basicamente nas costas do trabalhador. Isto é 1/4 do valor do pagamento dos juros anuais.
Pergunta se alguém vai mexer na receita dos bancos...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

William Ear Long no Cangablog








http://cangarubim.blogspot.com.br/search?q=William+Ear+Long

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

É na arena política...





É na arena política...

Marcos Bayer

Nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal haverá o embate político. E neles acontecerá a discussão política do “impeachment”.
O “impeachment” é uma instituição norte – americana.
Foi concebido pela democracia presidencialista mais sólida da História.
Richard Nixon sofreu o “impeachment” no Congresso dos Estados Unidos da America porque mandou espionar a sede do Partido Democrata no Edifício Watergate... Aliás, renunciou antes da imposição do “impeachment”.
Não está escrito na Constituição dos Estados Unidos da America que é crime espionar a sede de partidos políticos. Não, não está...
Mas, um presidente após o juramento de governar respeitando as leis e a constituição não pode mentir sobre coisa pública...
Bastou a mentira para que os dois jornalistas do Washington Post levassem o caso Watergate às ruas e deu no que deu.
Os brilhantes jornalistas Bob Woodward and Carl Bernstein foram os heróis do caso.
No Brasil, agora, nossos heróis são o Juiz Moro e os promotores federais de Curitiba que, junto com a Polícia Federal, iniciaram a Operação Lava a Jato, palco do início desta grande tragédia nacional.
O Brasil está sendo exposto pelas suas tripas ao mundo.
Vísceras apodrecidas pelas práticas sorrateiras “daszelites” com ampliação do pessoal “de esquerda” desta nação espoliada desde sempre.
É um dos momentos mais salutares da jovem democracia brasileira. Senão for o maior.
Heróis bandidos fazem o trabalho “sujo” sobre a sujeira de outros heróis bandidos.
Pena que o nosso Senado não é mais palco de eloqüentes homens de Estado. Agora é composto por homens das estatais.
O Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, cumpriu seu papel. Foi provocado e decidiu sobre um roteiro atualizado do processo de impedimento presidencial.
Não vamos entrar nas minudências dos votos de seus membros.
A arena agora é política. E a população usando as redes sociais e os aplicativos tecnológicos, pode sair às ruas e dizer o que quer.
A classe política, ainda que contaminada pelas gentilezas pecuniárias dos recursos financeiros do Tesouro Nacional, terá que ouvir e se subordinar ao grito popular.
O país avança sobre o Congresso Nacional.
Ainda não somos e não seremos uma “Venezuela”.
Somos maiores do que Veneza. Somos a Roma tropical.
Nosso amadurecimento político se consolida por estas duas experiências recentes: “mensaleiros” e “petroleiros”.
A República está podre. Mas, ela é maior do que a podridão.
O povo brasileiro sabe e saberá encaminhar a votação que ocorrerá no Senado Federal.
E sairemos melhores e mais democratas desta nova experiência institucional.
Podem apostar em baixo da figueira da Praça XV de Novembro, na Capital.






sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

CARTA AO SENHOR FACHIN






Carta ao senhor Fachin

Marcos Bayer

Bom dia senhor Fachin... Saiba que na sexta-feira todo mundo é baiano aqui no Brasil.
Como foi Rui Barbosa, Glauber Rocha e Octávio Mangabeira...
Sabe o senhor que o “impeachment” é uma instituição norte – americana.
Richard Nixon sofreu o “impeachment” no Congresso dos Estados Unidos da America porque mandou espionar a sede do Partido Democrata no Edifício Watergate... Aliás, renunciou antes da imposição do “impeachment”.
Não está escrito na Constituição dos Estados Unidos da America que é crime espionar a sede de partidos políticos. Não, não está...
Mas, um presidente após o juramento de governar respeitando as leis e a constituição não pode mentir sobre coisa pública...
Bastou a mentira para que os dois jornalistas do Washington Post levassem o caso Watergate às ruas e deu no que deu.
Bob Woodward and Carl Bernstein foram os heróis do caso. Brilhantes jornalistas.
Como tem sido nosso Juiz Moro e os promotores federais de Curitiba.
Senhor Fachin não venha com balelas e artimanhas Felipinas, Manoelinas ou Afonsinas.
O “impeachment” é um processo eminentemente político. Eminentemente político, senhor Fachin.
Eu não vou falar das acusações que pesam sobre membros de um partido que governa o Brasil nos últimos 13 anos...
Não vou escrever sobre mentiras, desvios, cinismos ou ilegalidades...
Seria bobagem repetir o que a imprensa “golpista” vem mostrando nos tempos recentes.
Senhor Fachin, saiba que sua postura magistrada não pode se confundir com sua atuação política.
Deixe para os políticos “golpistas” a tarefa de acabar com o “golpe”...
Atenha-se a Constituição da República Federativa do Brasil.
Basta a Constituição. A Lei maior.
É o que compete ao Supremo Tribunal Federal: Impor ao povo o respeito à Constituição que em seu nome foi escrita.
Ouça sua professora...

Em, 11 de Dezembro de 2015.

https://youtu.be/u7kjH0PcE5A




terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A canoa do Tasso...




A canoa do Tasso...


Meu primeiro presente neste Natal de 2015.
A canoa do 
Tasso Claudio Scherer...
Que singra todos os mares...
Desde o sul até Antares...
A estrela dama de vermelho que passeia pelos ares...
Passa por Mataró ou Benicassim e outros lugares...
Leve, rígida e reta como garapuvus verdes e utópicos sonares...
Vai canoa navegando procurando novos olhares...
Bombordo e Boreste desde a Escola de Sagres...
Aporta em todos os lugares...
Lança tua rede em todos os avatares.

Em, 05 de dezembro de 2015.




Poemita para Dalí en Costa Brava...





Poemita para Dalí en Costa Brava


Una vida de mesclas y tiempos y sentidos y aires y soles y águas y risas y delícias y noches y mañanas y tardes y amores...


04.12.2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015




Os babacas de Paris (*)


Marcos Bayer



Reunidos mais uma vez na Conferência da ONU para o Clima, em Paris, eles montam um circo cada vez mais pirotécnico. Roma e Nero ficam continuadamente diminuídos.
Começou com o Clube de Roma, em 1968, que resultou no “Limits to Growth”. Depois no dia 5 de Junho de 1972 em Estocolmo, na Suécia. Então, no Rio de Janeiro, a Eco-92, o último gesto do eloqüente Fernando Collor antes da queda mortal.
E assim tem sido...
Já no começo dos anos 1980, na Califórnia, se estudava Ecology and Politics of Scarcity do William Ophuls. Todo o meio acadêmico alertava para as descompensações ambientais.
E a classe política nada vezes nada. Alguns movimentos dos “greens” na Alemanha e que aqui no Brasil, afora exceções honestas e bem intencionadas, virou picaretagem da braba. Inclusive em Santa Catarina.
Órgãos de controle ambiental, como a FATMA, concebida por Alcides Abreu e criada pelo Konder Reis, em 1976, acabaram virando toca de hienas que a “Operação Moeda Verde” demonstrou.
Para não delirar no cenário mundial, vamos pegar as praias da Ilha que foram detonadas aos poucos sem o cuidado primário de quaisquer dos prefeitos desta cidade. Foram acabando com nosso maior patrimônio.
Ninguém vem para Florianópolis para ver os prédios da Beira-Mar denominados em francês. Tais quais, “Versailles” ou “ Maison de La Marie”.
As pessoas que aqui aportam querem saber das águas limpas, da tainha com ova, dos ilhéus e de certo charme que existia na arquitetura derrubada no centro da vila.
Como fazem em Curaçao, Martinica, Portofino ou Marguerita.
Mas, lá estão, neste circo mágico do ambientalismo, todos bradando por um mundo mais limpo e melhor, na bela Paris.
One Human Family é o que propõem todos. Do Barack Obama ao homem de cocar sobre os ombros do terno com gravata.
Nos últimos 50 anos governantes em todo o planeta promoveram uma arruaça total, em Tijucas também, resultando na morte de baías, rios e lagoas.
Tudo em nome de um progresso que concentrou renda, e eles mesmos provam isto, aumentou a desgraça na África e a guerra no Oriente Médio pelo domínio do petróleo.
Insanos, todos insanos.
Um milhão de dólares já não contenta nenhum deles. Aqui no Brasil querem vários milhões e roubam dos cofres públicos porque não têm talento para nada, a não ser roubar.
Olhem para a cara deles. Olhem suas expressões faciais. Olhem como são mórbidos...
E só bebem whiskey para poder amortizar a dor e a vergonha de roubar.










Os babacas de Paris




Os babacas de Paris

Marcos Bayer

Reunidos mais uma vez na Conferência da ONU para o Clima, em Paris, eles montam um circo cada vez mais pirotécnico. Roma e Nero ficam continuadamente diminuídos.
Começou com o Clube de Roma, em 1968, que resultou no “Limits to Growth”. Depois no dia 5 de Junho de 1972 em Estocolmo, na Suécia. Então, no Rio de Janeiro, a Eco-92, o último gesto do eloqüente Fernando Collor antes da queda mortal.
E assim tem sido...
Já no começo dos anos 1980, na Califórnia, se estudava Ecology and Politics of Scarcity do William Ophuls. Todo o meio acadêmico alertava para as descompensações ambientais.
E a classe política nada vezes nada. Alguns movimentos dos “greens” na Alemanha e que aqui no Brasil, afora exceções honestas e bem intencionadas, virou picaretagem da braba. Inclusive em Santa Catarina.
Órgãos de controle ambiental, como a FATMA, concebida por Alcides Abreu e criada pelo Konder Reis, em 1976, acabaram virando toca de hienas que a “Operação Moeda Verde” demonstrou.
Para não delirar no cenário mundial, vamos pegar as praias da Ilha que foram detonadas aos poucos sem o cuidado primário de quaisquer dos prefeitos desta cidade. Foram acabando com nosso maior patrimônio.
Ninguém vem para Florianópolis para ver os prédios da Beira-Mar denominados em francês. Tais quais, “Versailles” ou “ Maison de La Marie”.
As pessoas que aqui aportam querem saber das águas limpas, da tainha com ova, dos ilhéus e de certo charme que existia na arquitetura derrubada no centro da vila.
Como fazem em Curaçao, Martinica, Portofino ou Marguerita.
Mas, lá estão, neste circo mágico do ambientalismo, todos bradando por um mundo mais limpo e melhor, na bela Paris.
One Human Family é o que propõem todos. Do Barack Obama ao homem de cocar sobre os ombros do terno com gravata.
Nos últimos 50 anos governantes em todo o planeta promoveram uma arruaça total, em Tijucas também, resultando na morte de baías, rios e lagoas.
Tudo em nome de um progresso que concentrou renda, e eles mesmos provam isto, aumentou a desgraça na África e a guerra no Oriente Médio pelo domínio do petróleo.
Insanos, todos insanos.
Um milhão de dólares já não contenta nenhum deles. Aqui no Brasil querem vários milhões e roubam dos cofres públicos porque não têm talento para nada, a não ser roubar.
Olhem para a cara deles. Olhem suas expressões faciais. Olhem como são mórbidos...
E só bebem whiskey para poder amortizar a dor e a vergonha de roubar.


 Para ouvir: https://youtu.be/3nxjcYhiWjY







terça-feira, 24 de novembro de 2015

Erramos... desculpem, roubamos...




Erramos... desculpem, roubamos...

Marcos Bayer

A prisão de mais um, desta vez o pecuarista Bumlai, na Operação Lava a Jato, vai revirando as tripas do Brasil.
O ex-presidente Lula declarou em recente entrevista para Roberto D’Avila, em tom de pergunta, o seguinte: Então o dinheiro que o PSDB pega na Petrobrás é o limpo, e o dinheiro do PT, no outro cofre, é o sujo?
Com esta pergunta/afirmação fica expressa não só a confissão como também o reconhecimento de que todos os partidos políticos vão buscar dinheiros nas empresas públicas para suas campanhas eleitorais.
Da mesma forma que a CELESC e CASAN e o BESC, faziam o papel de “estruturadores” de campanhas políticas. Ainda fazem...
Na Roma antiga, há uma citação de Túlio Cícero, sobre o financiamento das campanhas militares... E da gratidão aos empreiteiros financiadores.
É urgente regulamentar a matéria... Ainda que seja pelas mãos do STF.
É por isto que temos governos mais corruptos e outros menos. Em todos os níveis... Ou mais caros e mais baratos, como refere um político catarinense.
Da Ave de Rapina, passando pela Monreal/Celesc até a Petrobrás.
A população brasileira está aprendendo muito com a sua classe política.
O exemplo vem de cima... Claro que vem de cima. Dizer que a política reflete a sociedade é uma sacanagem para justificar outras.
O que o PT fez, ao prometer o Nirvana ao povo brasileiro, foi um lamentável engano, desculpe, um roubo.
Agora, por lógica de movimento pendular, a tendência será votar em quem representar o anti-PT.
Assim demonstram as pesquisas de opinião.
E, mais uma vez, muito ladrão aproveita para lavar suas condutas.
Mas, no fundo, estamos aprendendo a praticar a democracia. Ainda que sob uma fachada de “cleptocracia tropical”.
Ou como disse o Gustavo Franco recentemente, na Roda-Viva da TV Cultura: Existem vários capitalismos... Inclusive o capitalismo de quadrilhas...
E o Juiz Moro que mostre ao Brasil que ainda é possível existir Juízes como os de Berlin...














Do Cangablog



http://cangarubim.blogspot.com.br/search?q=Leal+Roub%C3%A3o



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domingo, 22 de novembro de 2015

En rodelitas, señora...





En rodelitas, senõra...


Aproximava-se o verão e os argentinos começavam a chegar à Ilha de Santa Catarina. Era a década de oitenta do século XX, o câmbio era favorável aos vizinhos do Rio da Prata e, por isto, eles inundavam nossa cidade.
Duas argentinas de meia idade, muito bem falantes e curiosas chegaram de táxi ao Oliveira, o mais tradicional restaurante da Lagoa da Conceição.
Chamaram pelo garçom, e, imediatamente, foi designado o Ademir, por sua grande capacidade de compreensão de vários idiomas.


Solicitaram a ele o cardápio, leram, pensaram e após um breve olhar, perguntou uma delas: señor, por favor, como son las lulas à dore?

Ademir não se fez de rogado. Imediatamente largou os outros cardápios que estavam sob sua axila, colocando-os sobre a mesa, e utilizando-se das duas mãos, juntou a ponta do dedo indicador à ponta do polegar, formando aquela famosa circunferência já conhecida de todos os brasileiros. Com o indicador da outra mão girava sobre a circunferência recém construída, dizendo:


En rodelitas senõra, en rodelitas...








(Da convivencia com o pessoal do Oliveira na Lagoa da Conceição)

No Restaurante Oliveira, na Lagoa...




Uma família de São Paulo e o Piá


Chegaram ao Oliveira três caminhonetes importadas, placas de São Paulo, com aproximadamente 13 pessoas. Uma família em viagem de férias de verão.

Quando o Piá, um dos garçons que mais entende de futebol em Santa Catarina, viu aquele pessoal endinheirado, correu para atender a grande mesa.

O mais velho deles, talvez o avô, perguntou: Por favor, o que você sugere?

Então o Piá, pensando na gorjeta, respondeu: O ideal é um rodízio de frutos do mar...

Explicou então que era composto de porções variadas de camarões, siri, ostras, mariscos e peixes, todas acompanhadas de pirão, arroz e saladas.

Eles concordaram, pediram cerveja gelada e alguns refrigerantes.

Após experimentarem de tudo, chamaram novamente o Piá, e disseram: Há mais alguma especiaria?

O Piá, muito esperto, respondeu que iria verificar. Foi até a cozinha e perguntou para a Marleci, a cozinheira: Tem mais alguma coisa que a gente possa servir para aqueles paulistas?

Ela respondeu: Olha, tem ali no canto uns dois baldes cheios de “manjuva” que o Célio pediu para separar a fim de usar como isca na pescaria.

O Piá, prontamente, resolveu: Então, frita agora...

Foram então servidas quatro travessas de “manjuvinha” frita e mais cerveja gelada.

Eles comeram, acharam uma delícia, pediram mais duas travessas, e finalmente, a conta.

Ao pagá-la, um dos comensais exclamou: Nós já tínhamos experimentado tudo isto em vários lugares do mundo. Mas, esta última especiaria frita, foi pela primeira vez e é uma delícia...

Como é que vocês a chamam?

O Piá então respondeu: Olha só: Chama, nós “chamemo” de “cagão”...
Pois ela dá tanta, dá tanta, que chega a dá nojo...
Mas, o nome mesmo é Manjuva...




Por Marcos Bayer.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Hi Fi (a bebida)

o Portátil e o Fai Rai...









O nome é inspirado no nome do programa "Crush em Hi-Fi" exibido no Brasil no início dos anos 60. "Crush" é o nome de um refrigerante de laranja, patrocinador do programa. "Hi-Fi" é o nome de uma tecnologia (abreviatura da expressão em inglês "High Fidelity", alta fidelidade) recém-criada na época, que tentava aproximar a reprodução do som gravado ao som real.
Pois bem, faz algum tempo e o dinheiro para tomar a cerveja santa de cada dia estava escasso... Dava só para umas cinco ou seis diárias, na Praia da Joaquina, no inverno, no Bar do Carécio ou do Maurílio II.
Eram os dois irmãos Andrino de Oliveira, o Já Já e o Caçula, mais alguns nativos da Lagoa que iam quase diariamente à Joaquina para ver a pesca da tainha... Bater papo e beber cerveja...E eu na roda com eles...
Um dia fomos beber e apareceu o Portátil... Figura ímpar, bar man, leve e pequeno na estatura... por isto mesmo é portátil... Grande cozinheiro, também...
Alguém lembrou do Hi Fi, bebida do tempo da Cuba Libre (Coca-Cola com Rum de Cuba)...
Hi Fi era a mistura de Crush com Vodka.
Hi Fi daqui, Hi Fi dali e dá-lhe Hi Fi...
Até que o Portátil falou em Fai Rai... Fai Hai era outro tipo de Hi Fi...
Era uma bebida inventada pelo próprio quando estava completamente duro, sem grana...
Fai Rai...
A curiosidade me fez perguntar: Mas, o que é o Fai Rai...
Ele disse: É cachaça, cana da pura, com Ki - suco... Aquele em pó nos envelopes coloridos...
E da-lhe Fai Rai...
Aí ele completou: Quando não tem Ki - suco, vai borra de café mesmo...
Borra de café na cachaça...
Perguntei, por que??? Ele respondeu que era para esconder a cachaça...
kkkkkkkkkkkkkkk...
E terminou, solenemente: Fai Rai é coisa de mané da Lagoa...
É "Faz Raio"... Fai Rai na nossa língua... Fai Rai na cabeça...
Este é o Portátil...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Discurso sobre a honestidade




Discurso sobre a honestidade

Marcos Bayer

O drama humano não é a guerra que é sempre provocada por um grupo, bando ou governo contra outro.
O drama humano não é a fome que é sempre a ganância dos que têm sobras e não querem distribuí-las com os famintos.
O drama humano não é a prepotência dos poucos que se protegem nos mandatos de poder usufruindo benefícios que são financiados por todos.
O drama humano não é o medo dos que se abrigam nas calhas ou telhados já conhecidos por temeridade à vida a céu aberto.
O drama humano não é o roubo dos que surrupiam a riqueza coletiva pensando que assim se protegem dos rigores do ato de viver.
O drama humano não é a utilização da Natureza como insumo inesgotável para atender às exigências de obsoletos e fabricados mercados.
O drama humano não é a loucura do desempregado que existe para manter níveis salariais comprimidos e estáveis.
O drama humano não é a atitude covarde dos que sabem menos, parecem menos, sentem menos e que por isto mesmo precisam trapacear.
Nada disto sustenta o drama humano.
O drama humano é a desonestidade dos que sabem, sentem, podem e pouco ou nada fazem para mudar o mundo em que vivemos.
É a desonestidade dos que sugam as possibilidades do bem público para alimentar vontades privadas, menores e mesquinhas.
É a desonestidade da mentira pronunciada com se fora verdade na arena política.
É a desonestidade de quem é amado e não pode amar.
Não sei se Rui Barbosa foi um sujeito honesto e nem vou pesquisar sobre este assunto. Mas, quem escreveu: “De tanto ver triunfarem as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”, deve ter uma boa ideia do drama humano.
Quando ouço que a honestidade não é virtude, mas obrigação; rio por dentro.

A honestidade é uma das maiores qualidades do ser humano... Senão a maior delas.


https://youtu.be/2naehMUQpQY

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Um anjo rosa...





Um anjo rosa...

Marcos Bayer

É uma quarta-feira... Passei o dia rindo e relembrando coisas... Ao cair da tarde fui até o mar... O céu estava cinza, cinza chumbo... Um dos 50 tons...
Resolvi ir até a Praia da Solidão, minha companheira dos últimos tempos.
Lá encontrei o Betinho, meu amigo, filho da Dona Joaquina...
O sonho do Betinho, nativo da Solidão, é ir para Nova York...
Ele é anão e quer ir logo para uma cidade onde os prédios são enormes...
Gigantes, arranha-céus...
Cada um sabe de si... Não é mesmo?
Tomamos uma (s) cerveja (s) enquanto o céu escurecia... No horizonte uma luz rosa... Sinal de sol amanhã?
Lembrei de um texto escrito em Porto Belo:
From the eyes
Olhem para o horizonte
Lindo, linear e limítrofe
Inerte
Neutro
Definitivo
Azul
O Betinho falava de seus planos... E eu ria muito...
Ele fuma cigarros Dunhill e toma uns remédios para manter a saúde em dia... Não pode beber por recomendação médica...
Mas, ele me diz: Marcos, se eu não bebo, a crise volta...
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Muitas risadas da medicina...
Chegou o Vicente, vizinho dele na Solidão... Ele é dono de uma empresa de vigilância eletrônica... Monitora prédios na cidade...
Um deles na Rua Luiz Delfino...
Fomos apresentados pelo Betinho. Quando falei meu nome, ele, o Vicente disse que conhecia uma Rosângela, casada com o Ivan que era Bayer.
Pensei. Deve ser filho da Sinova, casada com o David...
Tijucas, então, entrou na conversa...
Pensei mais um pouco: Rosângela... Deve ser um anjo rosa... Rosângela...
Rimos muito...
Escurecia, o céu apresentou uma estrela no firmamento... Única...
Betinho trouxe o cinzeiro. Era uma panela de marmita, bem velha. Pelas bordas internas estava escrito: Chepas, por favor...
Achei um luxo... O cinzeiro mais sofisticado que já vi...
Ria muito... Eles também...
Tomei mais uns goles... Olhei para o céu... Ela estava lá, permanecia a estrela... Solitária no firmamento...
Peguei a moto, voltei pra casa rindo a toa...
Esse Betinho... kkkkkkkkkkkkkkkk...
Acho que voltei a me apaixonar pela vida...
Descobri um anjo rosa...
Boa noite...

 https://youtu.be/41K5Sqob2SQ





terça-feira, 10 de novembro de 2015

Run rabbit... Run...






Run rabbit... Run...

Marcos Bayer

O país parando quase parado... No Congresso Nacional a bacia das almas em lavação, no Palácio do Planalto a Via Crucis, no outro lado da Praça dos Três Poderes, a deusa Justitia cansada de segurar a balança e a espada, permanece sentada em pedra esculpida.
Enchentes no sul, lamaçal mineiro escoando para o Espírito Santo e desembocando no mar.
Caminhões em marcha lenta no mesmo ritmo da economia nacional.
Parece que poucos brasileiros trabalham neste momento: O Juiz Moro... E os Promotores de Curitiba com a Polícia Federal.
A Presidência da Câmara dos Deputados virou um “case” de estudos. Como constituir um “trust” além mar com dinheiros de uma “trading” que exportava para a África. Na Presidência do Senado Federal, hoje, a inteligência é menos sofisticada. Implante de cabelos usando o avião da República.
O Brasil só se atualizará ao mundo contemporâneo no dia em que o processo correr... Run  rabbit run...
O processo não é uma pilha de papéis a espera de um sorteio como se fora a premiação da Coca-Cola. Nem ela mais sorteia assim...
Enquanto o processo não andar na velocidade do mundo atual, não teremos Justiça no Brasil. Apenas efeitos colaterais.
E o processo, toda a legislação processual, do civil ao penal, do tributário ao administrativo, tem que funcionar com prazos determinados para o Juiz.
Recebe a petição e determina na hora em que verifica a inépcia: Trinta dias para contestar, mais trinta para a tréplica, mais trinta para audiência de julgamento e mais trinta para recursos. Em mais trinta a sentença de primeiro grau. São cento e cinqüenta dias no máximo. Assim também nos tribunais superiores.
Democracia e Justiça só existem se caminharem juntas. Não há outra hipótese...
Não pode a democracia correr enquanto a justiça engatinha...
Não é assim que funciona onde o mundo é real. Acompanhem o caso Marin nos Estados Unidos, como foi na Suiça...
É na base do Run rabbit... Run...


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Spiriti *





Spiriti *

Roma, 19 de Maio/2002 – d. C.

Dizem que o mundo, agora, é globalizado. Para uns, sempre foi. Do ponto de vista anatômico, a cabeça é redonda. Do ponto de vista geofísico, o globo também. Logo, nenhuma novidade. Tudo é esférico: o crânio, o globo, a ponta da caneta moderna e o nariz do avião.
No Kuwait, o carinho e a fidalguia da amizade árabe. A distinção no tratamento político, a confiança e o respeito institucional. De novo, Santa Catarina cobriu uma área semi-abandonada...
Tijucas apresentou seu suco de goiaba biodinâmico. Eles gostaram. Também viram móveis de São Bento do Sul, arroz do Alto Vale do Itajaí, sapatos de São João Batista e as possibilidades portuárias de São Francisco do Sul.
Gastam 70% da energia gerada na produção do frio. Logo, boas possibilidades para vender produtos de refrigeração...
No Egito, numa belíssima ponta triangular, envolvida pelas águas azuis-cristalinas dos golfos de Áqaba e do Suez, estava Sharm El Sheik.
Ao nascer do sol, os pardais cantavam em sinfonia dissonante, comiam migalhas de pão no restaurante e voam rasante sobre a piscina, arrodeada de bouganvilleas de cor cereja cintilante.
Pura magia, fluída energia.
Dali, de ônibus, sob o sol, em direção ao Monastério de Saint Katherine, encravado no deserto do Sinai, a 1.600 metros acima do nível daquele Mar Vermelho. Um lugar onde neva uma vez por ano e a temperatura, mesmo no verão, é amena e serena.
Além de toda dimensão espiritual, existem coisas raras: o tigre do Sinai, o pássaro baga e pelo menos 21 plantas medicinais, próprias da região.
Fez-se, de volta ao Oriente, a passagem do espírito.
Em Roma, chovia. Era domingo e a canonização transcorria enquanto o Papa santificava...
Em Florianópolis ela acordava, às vezes falava, muito escutava.
Naquele dia, descansava...
No Timor Leste, simultaneamente, a alma humana celebrava.
Naquele domingo, em todo o globo, era dia para honrar os espíritos...

Outras Opiniões, páginas 40/41, Letras Brasileiras – 2002.
Foto da capa: criação e autoria de Marcos Bayer.
O conteúdo, também.
Publicado no Jornal O Estado em 24 de maio de 2002.


https://youtu.be/u14bimquEx0




terça-feira, 3 de novembro de 2015

Papo eletrônico...





Papo eletrônico...


Pois é... Era madrugada, saindo dos Finados e voltando aos vivos...
Abro o meu Facebook antes de dormir para a última olhada panorâmica.
Encontro um “post” de um amigo, membro da Academia de Letras, apreciador da boa música, relembrando Vinicius de Morais e Toquinho : “Onde anda você” era a música.
Organizado e metódico ele usa os números romanos para classificar sua série: COM VONTADE DE OUVIR...
Interessei-me pela música, cliquei e ouvi enquanto percebia a numeração: IXL.
Imediatamente, porque também sou da Academia, não a dele, mas de outra menos badalada, avisei pelo espaço reservado aos comentários: “Olha, deve ser LIX se você quer marcar 59...”.
Ele imediatamente respondeu: Vou corrigir...
E, em seguida, escreveu: é 49 a numeração pertinente...
Aí, fui até tabela dos números romanos, via Google, e encontrei XLIX equivalente para 49...
Ele riu (rsrsrs) e escreveu que eu não deixava passar nenhuma em branco...
Então não me contive e como sou motociclista, escrevi: Também pode ser XLX para a Honda 350 cc... Ou NX para a Honda 150 cc...
E caímos na gargalhada eletrônica: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Aí, escrevi: Olha isto dá uma crônica. Um dos dois escreve... Ele deixou para mim...
Pedi seu e-mail para mandar a cópia. Ele informou “noljsenviking@...” ou algo assim...
Caí de novo na gargalhada e escrevi: Parece coisa de sueco ou norueguês...
Ele escreveu que era a Noruega.
Aproveitei para dizer que tinha um filho morando por lá. E que já haviam nascido dois netos: Lars e Erik, ambos Bayer.
Ele, não se conteve e replicou: Avisa quando nascer o Thor...
Mais gargalhadas... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
Eu devolvi: Estamos colonizando a área...
Ele deu a tréplica: “Solidário com a Colônia Bayer”...
O que me restou foi dizer: Prosit und Danke...


(por Marcos Bayer) em 03/Novembro/2015.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Do começo... Ao fim.




Do começo... Ao fim.

Marcos Bayer

No começo, antes da fala e da escrita, eram apenas gritos, sussurros ou gemidos.
Atentos, surpresos, amedrontados ou confiantes, agíamos pela curiosidade, por tentativas, instintos e alguma racionalidade. Em grupos e pequenas comunidades sobrevivemos aos animais ferozes, às doenças, aos medos, às dificuldades de toda ordem. A vida familiar e comunitária perpetuou a espécie humana. Como fez com diferentes animais...
Na medida em que ocorria a expansão do cérebro, provavelmente pelo cozimento das carnes e processamento da alimentação, modificavam-se os corpos, as arcadas dentárias e o andar.
A curiosidade, a tentativa e o prazer foram os condutores da evolução.
Flávio Gikovate diz que o prazer é a passagem de um estado pior para outro melhor. Aprendeu isto com seus pacientes.
Matar a fome, saciar a sede, repousar e dormir, acariciar e copular foram experiências que contribuíram para a erotização da vida. O prazer. Eros e Tanatos.
Vida e morte.
Aprendemos que havia dias amenos e agradáveis e outros frios e úmidos.
Descobrimos que algumas safras produziam belas colheitas, outras nem tanto...
Matávamos e morríamos nas lutas contra animais e ou nossos semelhantes de outras tribos.
Criamos entidades metafísicas ou psíquicas para nos proteger dos horrores, com também para compartilhar dos favores da Terra.
Atribuímos ao sol, aos ventos, às águas e a determinados animais funções extra-humanas. Divinas...
A divindade era a explicação para o desconhecido...
Assim, pela curiosidade, pela tentativa e pelo prazer fomos construindo o caminho... O processo civilizatório.
O mundo externo é tão extenso e enigmático quanto o mundo interno, criamos a concepção do Universo. Um só verso, infinito, inatingível, indefinido.
Como não há limites para a imaginação, a criatividade humana, especialmente pelo caminho das artes – o canto, a música, a pintura, a escultura, o teatro, a dança, a literatura e o cinema – ajudaram a construir o que a ciência demoraria um pouco mais para constatar.
O positivismo foi absurdo ao querer explicar e validar o mundo pela ciência, pela lógica comprovada, pela racionalidade. No seio dele, nasceu em 1857, com Allan Kardec, o Espiritismo. Uma tentativa de explicar o espírito pela ciência.
O espírito – pneuma – é apenas o sopro da Criação. Algo inexplicável porque intangível.
Mais sábio foi Einstein com sua Teoria da Relatividade ao definir que a equação: E = m.c2 – poderia explicar nosso mundo.
A energia é a massa de um corpo lançado no espaço na velocidade da luz ao quadrado. A velocidade da luz é a única constante no Universo. Toda massa ao atingir tal velocidade, desintegra-se e vira pura energia.
Assim como toda energia pode virar massa. A semente (fonte de energia ou energia concentrada) introduzida na terra, com a ação da luz solar e da água, transforma-se em árvore, algumas com frutas, ou em legumes ou cereais, portanto em massa. Fiat Lux. Fiat Panis.
Foi assim com o trigo que ralado e misturado ao sal e a água, fez-se pão.
A ciência (racionalidade) bebeu na fonte da arte (imaginação) para revelar-se.
Assim, movidos pela curiosidade, fazendo da tentativa um método e buscando o prazer, sempre, caminhamos sobre a Terra.



Fernando Pessoa, na Passagem das Horas, mostra como somos...

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.”

E segue:

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”

E mais:

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.”


É muito provável que assim como há uma transferência genética nas sucessões familiares – a morfologia – possa haver também uma transferência emocional ou psíquica nas descendências.
Somos partes físico-biológicas e psíquico-emocionais de nossos ancestrais.
Tudo foi átomo que virou célula que virou tecido que virou corpo que virou movimento. E nadou, rastejou, voou e ou andou...
Carl Sagan diz que com a formação do primeiro olho num ser vivo, o Universo se viu pela primeira vez...
Os mega ou giga bytes contidos nos “chips” da cibernética contemporânea são impulsos energéticos que não são matéria, nem espírito... Mas, outro elemento que não sabemos definir, ainda.
Não por acaso está escrito: Tu és pó e ao pó voltarás...
Somos energia com uma determinada forma e na decomposição do corpo, seremos também energia de outra forma.
A tal da racionalidade humana é apenas a tentativa, interminável, de compreender o mundo e o homem.
Boa sorte.