sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Dos valores das coisas em geral...





Dos valores das coisas em geral...

Marcos Bayer

Cada dia mais distantes das regras econômicas clássicas, onde para Adam Smith as coisas tinham dois valores: “A água é útil, portanto, tem valor de uso, no entanto, não tem valor de troca. Já o diamante, não tem valor de uso, mas com ele se pode obter muitas outras coisas em troca”, vemos lentamente a modificação de certas afirmações. (1776).
A água, bem essencial à vida, adquire a cada dia mais valor de troca em razão da escassez, da negligência dos homens e do aumento populacional.
Claro que encontraremos soluções para as crises de abastecimento. Seja pela reutilização, pela dessalinização ou por outros processos químicos ainda não inventados.
A água já é uma commodity e pode vir a ser um bem com alto valor de troca.
Por outro lado, mais uma vez, o mercado determinará preço em razão da escassez ou da dificuldade de obtenção do precioso líquido.
Este introito é apenas para dizer que a água já faz parte do rol das coisas com valor de mercado e que seu preço estará sujeito às leis clássicas da economia liberal. No Kwait, por exemplo, a água potável vale mais do que a gasolina.
O avanço do capitalismo sem oponentes, pelo menos desde a queda do muro de Berlin em 1989, tem na escassez uma fonte de lucro. Aliás, é a escassez que determina o valor das coisas no sistema capitalista. O risco “protegido” também...
A social democracia escandinava, a melhor forma de organização política até agora experimentada pelos homens, poderia ser modelo para o planeta. Mas, não é...
Assim, na busca incessante do lucro, a qualquer preço, vemos a falência política de alguns países, entre eles o Brasil, onde nem os princípios básicos de proteção à cidadania são respeitados.
Nossos partidos políticos não conseguem manter uma conduta paralela entre a doutrina e a prática. Ambas são cruzadas ao longo do caminho.
Conseguimos construir uma capitalismo de favores (vide Eike Batista), de falsos talentos financiados por verbas públicas (vide as agências de publicidade e empresas de consultoria), de favores estatais, de castas funcionais bem remuneradas.
A tal da isonomia do serviço público tão discutida e debatida pela nação no processo constituinte (1987/88) deu espaço para carreiras de estado como juízes, promotores, diplomatas, fiscais de tributos, delegados e procuradores com remuneração absurdamente maior do que a de professores, médicos, dentistas, bombeiros e outras atividades públicas.
No setor privado, a corrupção na Petrobrás, mostra como estamos bem na prática de crimes financeiros. A nova CPI instalada na Câmara dos Deputados, entre seus 27 membros, tem dez deles financiados pelas empreiteiras envolvidas. Logo...
A argentocracia ou moneycracia, como queiram, controla o Brasil. 
Cada dia mais...
Ou o cidadão se corrompe ou sofre o peso da honestidade.
Conseguimos, com muito talento e brasilidade, construir um novo modelo político: a cleptocracia tropical.