quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Futuro da Humanidade

O declínio e a queda do império romano começam exatamente quando os imperadores deixam de se submeter às decisões do senado. Este representava a vontade colegiada, temperada pelas diversas tendências e opiniões, enquanto aqueles representavam suas vaidades, sonhos e alucinações. O senado era o estado. O imperador era o indivíduo. E quando a vontade individual se sobrepôs à vontade coletiva, o império ruiu.
Então, o ocidente viveu o feudalismo, a chamada idade das trevas, o renascimento e a descoberta do novo mundo, através das grandes navegações, para se reorganizar e recriar o conceito político de república, dando origem ao estado moderno de 1789. Ele durou apenas duzentos anos. Em 1989, a queda do muro de Berlim, significa historicamente, mais uma vez, a ruptura do poder coletivo sobre a vontade individual. O mercado, a livre iniciativa, o desejo pessoal, a liberdade individual e o egoísmo são manifestações imperiais.
A exaustão, sob várias formas, por que passa a Terra é um sintoma do caráter imperial da sociedade global.
Ou entendemos que o planeta é um ser vivo e como tal merece os cuidados inerentes à vida, ou chegaremos ao caos para renascer.
Qualquer ideologia centrada no mercado aposta em ganhos e enquanto alguns ganham, e sempre tem alguém ganhando, as soluções coletivas vão sendo postergadas. Quem ganha vai se protegendo das situações de miséria e desconforto ambiental. É um movimento contínuo, uma rosca sem fim.
O apelo ambiental é tão forte neste início do século XXI que várias corporações já se apropriaram dele para dinamizar seus negócios.
Ouso dizer que o desenvolvimento da tecnologia informática já é uma forma de preparação para uma vida virtual, digital e distante dos cenários naturais. A expansão dos desejos individuais sobre a apropriação dos bens públicos, significa a possibilidade de aumentarmos a tragédia dos comuns, onde cada um explorará o mais rápido possível o que puder sob pena de que o outro o faça antecipadamente.
Não se trata de negar o avanço tecnológico, tampouco a liberdade para empreender. Ao contrário, reguladas pelo estado, todas as iniciativas individuais devem florescer. Elas significam a expressão do homem na sua mais perfeita forma.
No entanto o que estamos assistindo é a consolidação imperial do mercado sobre a vida de todos nós, onde os que não tem dinheiro ficam alijados de qualquer possibilidade de defesa. O mercado não considera os incapazes financeiramente.
Assim, estamos permitindo a construção de um complexo sistema econômico em que são oferecidas as últimas maravilhas aos que podem comprar e a degradação resultante aos que não podem pagar.
O estado foi concebido para garantir o equilíbrio entre os cidadãos. O mercado, por sua vez, sobreviveu porque não tem compaixão.