sexta-feira, 28 de junho de 2019

O PODER





O PODER
Marcos Bayer

Roma, o Império, cujo apogeu foi em 117 D.C. com Trajano, construiu mais estradas que a malha rodoviária norte americana na era moderna. Exército forte composto de várias legiões, Senado forte como formulador das leis e poder político (SPQR) e sistema Judiciário eficaz. A figura do advogado público aparece aí. Era recrutado entre os presentes ao julgamento, alguém que se sentisse preparado para defender o acusado desvalido. Exército – Senado – Justiça. O triunvirato do poder.
Londres, capital do Reino Unido, repete a proeza. O Império de sol a sol. Uma esquadra naval poderosa, um parlamento forte e um sistema judiciário eficiente. Os britânicos aperfeiçoam a democracia grega com o instituto do impeachment em 1376 para punir os poderosos infratores de seu sistema político. My vote and my taxes. Meu voto e meus tributos. O cidadão, ao longo da História, adquire a exata noção do valor do voto e do pagamento dos impostos. Aprendem a escolher seus representantes e a fiscalizar a aplicação de seus dinheiros. Robin Wood e o Rei Arthur de Camelot, lendas ou não, são elementos constitutivos da cidadania britânica por causa destes dois conceitos: Meu voto e meu imposto.
Washington D.C. na América do Norte repete a fórmula. Após a Segunda Grande Guerra (1945), os americanos constroem suas forças armadas poderosíssimas – exército, marinha e aeronáutica – um Congresso bicameral atuante e fiscalizador e um sistema judiciário rápido, eficiente e implacável. Eles aperfeiçoam a democracia direta grega, criando os colégios eleitorais estaduais, filtros primários das candidaturas presidenciais, mantém o instituto do impeachment e criam o “recall”.
Sempre a trilogia: Exército (Forças Armadas) – Senado – Sistema Judiciário. Dentro de um sistema democrático pleno.
No Brasil estamos aprendendo a votar. As eleições presidenciais de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Fernando Collor, FHC, Lula e Bolsonaro são movimentos políticos radicais da população buscando saídas para as crises de sempre.
Temos outros dois movimentos na esfera do Senado que devem ser registrados: Nereu Ramos, seu presidente, quando garantiu a posse de JK em 1956 e a eleição dos 16 senadores do MDB em 1974, um aviso aos militares no poder de que as eleições diretas estavam a caminho, como de fato, dez anos depois, em 1984, os brasileiros foram às ruas lutar por elas.
Teotônio Vilela, Marcos Freire, Jaison Barreto, Paulo Brossard, Mário Covas, Franco Montoro entre outros foram fundamentais na redemocratização do país.
Hoje, na estabilidade democrática, o Senado Federal deve à nação muito trabalho. Deve o estabelecimento de prazos para julgar, deve diretrizes para as taxas de juros, deve a fixação de limites ao gerenciamento da divida pública, deve definições mais claras na política externa.
Por enquanto, neste semestre, o Senado conseguiu aprovar matéria relativa à apreciação das Medidas Provisórias, através da PEC 91/2019, onde obtém pelo menos 30 dias para discuti-las e deliberá-las. E comemorou efusivamente em plenário.
Rui Barbosa, observador atento, ainda que sob a forma de estátua, deve estar apreensivo...
Sobre o exército, falamos noutro dia.







quarta-feira, 19 de junho de 2019

Lord Bertrand Russel e a política Macunaíma









Lord Bertrand Russel e a política Macunaíma.

Marcos Bayer

Perguntado sobre que legado gostaria de deixar para seus sucessores, respondeu: Duas coisas. Uma de ordem Intelectual e outra de ordem moral. Intelectualmente, sugeriu: Quando estiverem estudando algum assunto perguntem a si quais são os fatos e o que eles revelam. Nada mais. Não se deixe arrastar para fora dos fatos.
O Congresso Nacional acaba de aprovar com pompa e circunstância um crédito de R$ 250 bilhões de reais para o governo Bolsonaro. Onde o governo vai buscar este dinheiro? No mercado, supõe-se. Qual será o prêmio para a captação e qual a taxa de juros para a remuneração?
Quem faz a operação? O BACEN diretamente ou através de corretoras de valores? Quem são os donos das corretoras?
A imprensa em geral, por descuido ou má fé, sequer analisa que mais três operações destas, em 2020, 2021 e 2022, somarão R$ 1 trilhão de reais.
A mesma quantia que o ministro Paulo Guedes quer poupar com a reforma da providência em 10 anos.
Afora isto, temos um comprometimento do Orçamento Nacional com a dívida pública muito interessante. O valor dela, para 2019, soma R$ 1,424 trilhão de reais. Sendo que o refinanciamento é da ordem de R$ 758,7 bilhões, amortização efetiva de R$ 287,3 bilhões e pagamento de juros no total de R$ 378,9 bilhões. Ou seja, os R$ 250 bilhões aprovados nesta semana não são suficientes nem para pagar os juros da dívida pública.
O PIB nacional, Produto Interno Bruto, a soma do que os brasileiros produzem no ano, está estimado em R$ 7,43 trilhões de reais.
Os números mostram: Produziremos 7,43 unidades monetárias e devemos 1,42 unidades monetárias. Devemos 20% do que produzimos.
No orçamento de 2018, executado e pago, gastamos 40,66% com a amortização e juros da dívida. E com a previdência social gastamos 24,48%.
Na agricultura, só para comparar, gastamos 0,61% do Orçamento Nacional.
É como alguém que ganha um salário de R$ 1.000,00 reais e gasta R$ 400,00 reais com dívidas. Isto é o povo brasileiro. E na classe média, quem ganhasse R$ 10 mil reais e gastasse R$ 4 mil com juros.
A segunda lição de Lord Russel, é: Love is wise and hate is foolish. O amor é sábio e o ódio é tolo. No mundo interconectado temos que aprender a tolerar uns aos outros.
Mas, a pergunta de devemos fazer é: Como conviver com uma classe política que governa para si e não para o povo?
Se com Juscelino Kubitschek – nosso JK – amigo de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Tom Jobim, Vinicius de Morais, com um ministério de gala, com um plano de fazer 50 anos em 5, com Brasília e muito mais, já foi difícil, imaginem agora. Até os CIEPS do Brizola conseguiram sabotar.
Vocês verão na aprovação da reforma da previdência, mais um engodo nacional.
As corporações manterão seus “direitos” e o povo continuará pagando a conta. O Brasil não se constrói como nação, porque é mal educado, mal tratado e mal representado. Os que chegam lá no topo, corrompidos ou não, com raras exceções, trabalham para o país. O resto faz figuração...