quarta-feira, 28 de março de 2012

Força estranha


O circo mágico da alegoria


O circo mágico da alegoria

Marcos Bayer

“Na celebração dos 90 nos do PC do B, José Sarney contou também sobre sua relação com os comunistas desde a infância em sua casa, sua família e na escola, entre outros episódios, com a sua professora, Mãesinha Mochel, da tradicional família Mochel, de conhecidos idealistas e esquerdistas” informa o blog do Décio. Este discurso comprova dois fatos: que Sarney é comunista ferrenho visto que não larga o poder desde 1955 quando foi eleito deputado federal. São 57 anos no poder e ao lado do poder. Nikita Kruschev governou a URSS de 1953 até 1964, apenas. O outro fato, já comprovado, é que Sarney brincava com bolinhas de plástico vermelhas. Inclusive, em suas festas de aniversário, exigia de sua mãe, Dona Kiola, balões e velas vermelhas para a decoração do bolo e das amplas salas de sua morada. Vem daí sua admiração pelo comunismo. Além dos tapetes vermelhos, claro. Enquanto isto, um ex-funcionário do Banco do Brasil, que virou ministro da fazenda do Sarney e depois consultor de empresas, especialista na obtenção de recursos de bancos governamentais para empresas abaladas por qualquer razão, diz em manchete de jornal catarinense: “Novo ICMS é ruim para o país e pior para SC”. Posiciona-se contra a unificação das alíquotas estaduais. Além de representar sua opinião, a afirmação é um grande lobby. Noutra ponta, o presidente da FIESC parabeniza e lamenta, com cópia à ministra da secretaria das relações institucionais, o desconvite às empresas catarinenses na reunião sobre a desindustrialização. Ninguém lembra de que foi o advogado Aldo Hey Neto, preso pela Polícia Federal em agosto de 2006, acusado de algumas traquinagens na secretaria da fazenda estadual, entre elas a venda de benefícios fiscais, cujos lucros, em parte, foram encontrados numa maleta, num apto em Jurerê, recheada de dólares, libras, reais e dois vibradores. Presume-se que os últimos fossem para estimular os negócios das partes. Foi ele, um misto de mago e engolidor, quem concebeu o fantástico ralo por onde foi escoada, no ano passado, a quantia de R$ 4,2 bilhões de reais em razão da tarifa especial de ICMS de SC para as importações. Este programa, denominado “Pró-emprego”, antes Compex, foi uma de suas contribuições ao governo de Luiz Henrique da Silveira. Entre os anos de 2003 e 2011, as importações nos portos de Itajaí e Navegantes, aumentaram em cinco vezes. E, dizem os estudos, que os empregos cresceram em 195%, ou seja, 18 mil empregos. Não se especifica que tipo de emprego nem quais os salários. Mas, sabe-se que dentre os setecentos escritórios credenciados para a promoção das importações, estão amigos e filhos de amigos do então governador visionário, que embora oblíquo, foi capaz de contribuir definitivamente para a atual desindustrialização de Santa Catarina. Também não se fala em quantas empresas fecharam e quantos catarinenses foram demitidos em razão desta aventura incestuosa entre Joinville e Curitiba, a cidade do mago engolidor.

Nada contra as preferencias do mago em relação aos seus objetos lúdicos. Mas, total reprovação aos atos contra a economia catarinense. Vale lembrar que este estado é dotado de uma capacidade fenomenal para produzir. Tem uma indústria exemplar, com padrões similares aos melhores do mundo. Tem um caráter empresarial que emociona e empolga gerações com histórias que vão desde os dois peixinhos até as perdizes do campo. Santa Catarina tem dois tipos de empresários: os que trabalham e sabem fazer e os que sugam, com autorização do governo, recursos que pertencem ao povo. Os primeiros pagam pesados tributos e honram com suas marcas a produção nacional. Os segundos sonegam e vivem de facilidades temporárias, cujo legado e nem o exemplo poderão ser úteis aos seus filhos. Este é o debate que evitam fazer.

sexta-feira, 23 de março de 2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

O outro




O outro

Marcos Bayer

O outro é máximo da possibilidade humana. Um não se completa senão no outro. O quadro pintado será legitimado pelo olhar atento do outro. A música será ampliada pelos ouvidos de muitos outros, assim como o texto será pelos olhos de tantos mais.

O amor se manifesta somente no outro. Esse tal de amor-próprio que tanto reverenciam, aqui e lá, nada mais é do que cuidado solitário. Uma ficção linguística para esconder a dor. A dor da ausência.

A inesgotável capacidade humana para criar e dar continuidade à raça se funde na eterna percepção do outro.

Eu te vejo nos meus olhos e me vejo nos teus.

Troca santa de sentidos faz do homem oportunidade monumental.

Tato milenar e industrial.

Enfermo e dor recebe compaixão e prolonga a vida.

Eu fundamental em quem me sabe e sente existência atemporal.

Ondas e curvas físicas ou meta físicas, harmonia conceitual.

Ondas do mar que quebram com as ondas cerebrais.

Movimentos internos conduzem todas as energias vitais.

Talvez por isto cante o poeta: For me there is no one but you...

O momento da percepção do outro é o máximo da possibilidade humana.

E não há outra hipótese, senão esta...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Rue Bonaparte



Os sistemas


Os sistemas

Marcos Bayer

Os sistemas são construídos pelos mais inteligentes, sempre. São também, sempre, destruídos pelos mais inteligentes. Não importa o momento histórico, nem o local.

O sistema cria regras, padrões de conduta e códigos de relacionamento. As regras só podem ser quebradas por aqueles que o controlam. Ou pelos que se rebelam contra seus controladores.

Foi assim com Júlio César, Martinho Lutero, Napoleão, Hitler ou Roosevelt. No Brasil, Juscelino Kubitscheck e Leonel Brizola talvez tenham sido os casos mais emblemáticos. Enxergavam largo e Darcy Ribeiro foi de ambos, a comprovação.

A política em Santa Catarina é pouco fértil na criação de sistemas. Apesar de riquíssima, competente na agricultura, na industrialização, na diversidade geológica, na paisagem e na qualidade de seus filhos, não avança politicamente.

Salvo alguns raros governadores, melhor não citá-los ainda, temos sido governados por gente abaixo da média. Não só da média intelectual, mas da média moral e da média gerencial.

A classe politica atrasa nosso desenvolvimento como povo produtivo, criativo e fraternal.

Somos essencialmente acolhedores, prestativos, trabalhadores e honestos. Somos catarinenses e o nosso fazer, nosso construir, nosso celebrar é bastante diferente do que temos visto na administração pública nos anos mais recentes.

Não é apenas o roubo do dinheiro público, mas a vaidade estéril que lhe sobrevém.

Não é apenas o descaso e o desperdício, mas o arrependimento que não vem.

Não é apenas o desejo inalcançado de governar, mas a inaptidão Calabar.

O choque que Santa Catarina precisa é um choque de honestidade.

Um choque que deve começar dentro do governo antes de eletrocutar a população.

Picasso, Piazzolla, Mulligan e Miró



domingo, 11 de março de 2012

patti austin


años de soledad




paranita (II)

olha, pensa e passa...

louca, leve e solta...

tria, ria e mia para teu observador

flor, cor e dor

navega, entrega e esfrega

tua pele ao toque do sabor...

canta e santa de louvor...

sábado, 10 de março de 2012

paranita (I)




pode ser uma vida inteira para chegar e uma vida inteira para viver

amores de meia hora

que ficaram nas estações de trem

nos aeroportos

nas festas

na lembrança da menina

na esperança do menino

na lágrima que correu pelo rosto

e salgada fez-se notícia à boca de quem amou...

meus amores de meia hora eternizados na memória...

quinta-feira, 8 de março de 2012