segunda-feira, 15 de junho de 2015

Rodeio


Rodeio
Marcos Bayer
Rodeio porque roda, tudo roda sem parar. Roda o vento, roda o tempo, roda a vida sem cessar. Tudo roda desde o começo até o final, sem mudar. Ciclo eterno, ciclo vivo, ciclo e agora reciclar.
Houve um momento, não importa quando, que nossos antepassados sentiram necessidade de conversar. A comunicação gestual e gutural deu lugar ao falar. Inventamos a língua e a linguagem, a escrita inclusive, em algum lugar do crescente fértil, milênios antes da Grécia pré-cristã.
Antecede a este momento, a linguagem escrita, a invenção dos deuses. Precisávamos deles para agradecer ou blasfemar. Ou a boa colheita ou a má sorte em qualquer sentido. Aos deuses chamamos depois, já na Grécia, de Theos.
Theos é vida, essencialmente vida. Entusiasmo, o sentimento que nos movimenta, que nos dá a capacidade de criação, de vivacidade, de procura e força, tem um significado simples: Em + Theos + Mos = com deus dentro. Entusiasmado é aquele que possui Deus dentro de si.
Como Deus era vento, sol, seca, maré ou qualquer outra manifestação da Natureza, Deus era a força interna também.
Na evolução pós Grécia, marco da civilização ocidental, todos os conceitos basilares refletiam Deus e sua ausência. Eros e Tanatos ou vida e morte.
A morte é a ausência de Deus, de entusiasmo.
Quando se escreveu phalo e dele derivou fascínio, mais uma vez, deu-se ao masculino a capacidade de procriar, reproduzir a espécie, formar a humanidade. Obviamente com a participação da mulher que em alguns momentos foi matriarca.
É possível que em algum momento não tenha havido a necessidade da separação formal entre masculino e feminino, como em algumas línguas modernas assim se confirma.
O que importa, e é tudo, é que o entusiasmo define os caminhos do homem.
Nele, no entusiasmo, consubstancia-se Deus: a força geradora, criadora, inventora.
A força que formula as sementes daquilo que serão as frutas, os peixes, aves, animais, flores e tudo que compõem a Natureza.
O mesmo entusiasmo que dá ao homem a capacidade de inventar a roda, a caravela, a máquina a vapor, a luz elétrica, o rádio, o avião ou o computador.
Em + Theos + Mos. O Deus dentro de mim.
O amor pode ser o encontro de dois entusiasmos que assim permanecem pelo tempo que lhes é permitido permanecer.
A política é entusiasmo coletivo pela organização da comunidade.
O esporte, no caso brasileiro, o futebol é o entusiasmo das diversas bandeiras.
A vida, em cada minuto, até o último sopro é a manifestação do entusiasmo de cada um de nós.
Por isto, Rodeio. Porque tudo roda sem parar...

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Musas set/2012 mb





Musas

Nem sempre ela vem toda de branco, toda molhada, despenteada e não é o meu amor... Às vezes, muitas vezes, ela é... O meu amor...

Elas usavam batom vermelho, biquíni branco e um sorriso encantador. Seus pelos não eram raspados, nem pintados multicor. Flanavam ao vento com esplendor... Seus cabelos, todos os tipos, protegiam suas cabeças repletas de imagens e sons. Janelas abertas na imaginação. Picasso, Buñuel, Miró, Van Gogh, Dali e Klint. Sinatra, Strauss, Debussi, Dione Warwick, Ray Charles e Aznavour. Chico e Caetano. Bandanas coloridas, floridas, gargalhadas explosivas, cerejas e melão.

Elas liam Stendhal, Dostoievski, Neruda e Vinicius de Moraes. Iam ao cabeleireiro, ao mercado e ao cinema. Na feira, tocavam na tangerina, cheiravam a mandarina, escolhiam as mangas, os morangos, os tomates e o camarão.

Pintavam a tela branca, tocavam um instrumento e liam nossos pensamentos.

Eram simples e sofisticadas. Uma flor na cabeça, um perfume de gardênia, um sorriso de amor. Pé no chão ou sobre o salto. Equilibristas em corpos formosos, lânguidos, sedosos e seios naturais.

Where is the love? Tomavam um ou dois on the rocks no bar, a cerveja na praia e um champangne ao cair da tarde. Gozavam sem medo, riam do feito enquanto as estrelas cintilavam entre bênçãos e proteções... Noites infinitas... Magníficas guerreiras...

Belas, feras, veras, nelas, doidas, lindas, vivas, fêmeas... Luas de prazer e de encontros prateados.

Dourado encantamento, brilhante paixão refletida nos meus olhos. Lágrimas de alegria, bendita folia, vida e carnaval.

Ventre que acolhia. Paz e calor. Eterna e materna. Riso e amor.

domingo, 7 de junho de 2015

Ausência...


https://youtu.be/UhjYJjgq4NI



Capítulo Final


Então, após ter sido apenas consciência, sentiu necessidade de voltar a ser homem.

De pele clara, cabelos loiros e olhos verdes, ele tomou forma e começou a caminhar pelas areias de uma praia. O sol brilhava, as águas azuis ondulavam e uma brisa soprava suavemente. O espírito reencontrava seu corpo. Na direção contrária, caminhando determinada, cabelos pretos cobrindo os ombros, pele morena, sorriso nos lábios vermelhos de cor cereja, ela vinha ao seu encontro.

E se encontraram, e nada falaram, apenas riam. Abraçaram-se e dos seus olhos vertiam lágrimas de choro e riso, tão salgadas quanto às do mar. Beijaram-se e deitados sobre as areias brancas, seus corpos tensos tornaram-se ternos e depois tenros. Não havia mais limites para o amor.

E depois de um tempo, cuja medida não se pode avaliar e cuja dimensão não se pode apropriar, ele voltou a ser consciência e ela permaneceu luz.


Lendária (marcos bayer)

https://youtu.be/ZcHPNUN-U8E





Lendária

Flor vermelha de chocolate
Que tudo bate e bate...
Explode no meu riso teu olhar escuro e contido...

Longa e preta e coberta perna
Drena sonhos e imagens objetos dos teus desejos
Suave ânsia de viver marginalmente
Mais do que hora e meia de prazer...

Propõe o mínimo para ter
O máximo do conhecer

Cautela mente...


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dos patifes e patetas



Dos patifes e dos patetas

Marcos Bayer

Já não adianta gastar “latim” e tinta com determinadas coisas. A vontade é de rir e gozar da cara deles...
O recente episódio dos gastos de R$ 31 milhões de reais com passagens e diárias da Assembléia Legislativa (no período 2009-2011) e o processo referente ao caso que ficou “engavetado” no Tribunal de Contas do Estado, provavelmente em troca de um emprego para o filho do conselheiro “engavetador”, mostra um pedaço da corja que governa e ocupa cargos, os mais bem remunerados, da estrutura estatal estadual. Este é apenas um exemplo.
Santa Catarina é um estado de gente pioneira, criativa, trabalhadora, brava e vencedora.
É uma terra ímpar pelo seu relevo, clima, potencial agrícola, industrial e humano. Uma terra de fazer inveja a muita gente pela sua dinâmica.
Este povo que paga seus tributos e que faz da excelência uma marca registrada, não pode ficar nas mãos dessa canalha.
Claro que há “bandidos” em todas as atividades... É da natureza humana.
Mas, nunca nos últimos anos da história deste estado, a classe dirigente barriga-verde foi tão desqualificada, tão inconseqüente, tão cínica e tão corrupta quanto tem sido recentemente...
O povo catarinense está muito acima da sua representação política. Anos luz à frente dela...
A patifaria reinante precisa ser denunciada, registrada e publicada para que nossa história não seja escrita pelos “comprados” de ocasião que ajudam a acobertar tais desmandos.
Alguns, com caras de patetas, dissimulados e hipócritas, roem as finanças públicas como ratos quando encontram banquetes festivos.

Santa Catarina não precisa dessa gente e deve bani-los do cenário político para dar chances aos novos, dispostos a provar que a caminhada pode ser mais limpa, mais digna e mais decente.