terça-feira, 11 de dezembro de 2018

As elites





As elites
Marcos Bayer

Foi a burguesia que derrubou a monarquia francesa (1789), e com o passar do tempo, criou a categoria social elite para poder viver a vida da realeza, sem precisar da coroa, da hereditariedade ou da educação. O dinheiro compraria tudo isto, como de fato comprou.
Olhando, mesmo que pela televisão, as sociedades inglesa e francesa, percebe-se o argumento.
Os EEUU e o Brasil têm a mesma idade. Foram descobertos pelos navegadores europeus, nos 1.500, e por eles colonizados. Lá como cá havia índios e africanos foram introduzidos nas duas nações, pelos ingleses que descobriram o triangulo da fortuna. Traziam o negro da África, mandavam plantar cana nos trópicos e levavam o açúcar branco para a Europa. Isto aconteceu no nordeste brasileiro, nas ilhas do Caribe e sul dos Estados Unidos.
Depois, quando os ingleses inventaram o tear mecânico, introduziram a plantação de algodão, no mesmo esquema e assim nasceu a indústria têxtil.
A diferença entre os EEUU e o Brasil, afora o clima, claro, é que a Lei foi tábua de referência na organização social desde a edição de suas respectivas constituições. Lá, em 1787, foi promulgada por cidadãos livres e independentes. Aqui, em 1824, ela foi outorgada pelo Imperador Dom Pedro I que a encomendou a um grupo de pessoas ligadas à Corte.
É aí que começa o atraso brasileiro. Enquanto os norte-americanos constroem uma sociedade baseada na legalidade e na democracia, nós vamos caminhando entre o favorecimento e a sonegação tributária.
Quando Getúlio Vargas negocia com Roosevelt a posição brasileira na Segunda Guerra Mundial, os americanos já construíam automóveis, tanques de guerra, navios e aviões. Nós íamos aprender a fundir o ferro através da Companhia Siderúrgica Nacional.
As elites americanas, educadas em diversas universidades, desenhavam uma nação baseada na ordem, na lei, na liberdade de imprensa e no mérito, inclusive e principalmente na atividade comercial.
Gigantes industriais como a PAN AM (Pan America Airlines) e a TWA (Trans World Airlines) quebraram e o governo não interferiu. Aqui a VARIG e a TRANSBRASIL, como a VASP, muitos subsídios receberam do BNDES. Já a EMBRAER, talvez por estar diretamente ligada ao ITA - Instituto Tecnológico de Aviação - teve destino melhor.
Mas, voltando às elites, lá na América, a livre iniciativa é para valer e a taxa de juro não é para matar a capacidade de empreender. Assim, como no serviço civil, a burocracia pública, há certa lógica de simetria entre os salários pagos aos servidores. Sejam professores, médicos, policiais, diplomatas, fiscais, juízes ou promotores, inclusive parlamentares.
Aqui, o clube dos quarenta mil reais, que abrange a classe dirigente brasileira, a nossa elite, concede aumento salarial para si e dane-se o resto.
A nossa elite política meteu a mão no baleiro, sem dó nem piedade. Salvo raras exceções de sempre, a direita política enriqueceu em parceria com setores empresariais já conhecidos na Operação Lava Jato e outros que estão por vir. A elite de esquerda, operária ou não, quando chegou ao poder fez igual.
Vou pegar dois exemplos, objeto de discussão nacional, e demonstrar.
A Lei do Registro Público garante a qualquer brasileiro ir ao Cartório do Registro de Imóveis e requerer certidão de propriedade sobre tal ou qual pessoa. A Lei Civil diz que só é proprietário, quem tem a matrícula em seu nome. Sem matrícula não há propriedade.
O ex-presidente Lula, preso, responde a alguns processos por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Lula não tem apartamento em Paris na Avenue Foch, e me parece sensato. O que faria por lá?
Museus, livrarias, cinemas, chablis com filet de truite aux amandes, caminhadas no Champs Elysees? No máximo um jogo de futebol aos domingos para ver o Paris Saint Germain.
Fernando Henrique Cardoso, filho da classe média brasileira, que ascendeu à elite intelectual e política do país, não tem apartamento no Guarujá ou sítio em Atibaia. Faria o que? Caminhadas matinais de bermudão na orla paulista ou passeio de pedalinho no pequeno lago com a jovem namorada? Churrasco com caipirinha de cachaça na serra? Assistir ao Netflix nas tardes de domingo? Ou ir ao estádio de futebol assistir ao Corinthians?
As elites brasileiras estão entaladas até a garganta com tanta corrupção. Os partidos políticos, quase todos, estão no rol dos suspeitos e culpados.
Aqui em Santa Catarina, mesmo com dois candidatos pró Bolsonaro, acredite quem quiser, o eleitor deu 71% dos votos ao mais desconhecido porque sentia no ar cheiro de corrupção nas outras possibilidades. Na eleição ao senado, o mesmo cheiro derrubou outros tantos.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, também membro do clube dos quarenta mil, ele e seus filhos são parlamentares, tem consciência destas coisas. O que ele não souber, tem a quem perguntar: Tanto ao economista Paulo Guedes, quanto ao Juiz Sérgio Moro. Além do vice-presidente eleito e outros militares, estudados e graduados que comporão o futuro governo.
O Brasil tem uma chance, em boa hora, para acertar o caminho. Um detalhe que é preciso lembrar e corrigir: Juiz não tem prazo para julgar no Brasil. Basta uma emenda constitucional, dando prazo ao Juiz, como dá ao promotor e ao advogado, para uma boa arrancada. O general Hamilton Mourão que demonstra preocupação com a necessidade da cobrança de resultados do governo poderia abraçar a causa. Com um sistema judicial que ainda anda na velocidade das carroças e uma democracia instantânea de apuração eletrônica com campanha política pelo whattsapp não vamos muito longe.
Democracia e justiça, ou andam juntas, ou não existem!
Basta olhar para as elites de cima. Tanto na America como na Inglaterra, onde boa parte desta história toda começou...