Dos valores
das coisas em geral...
Marcos Bayer
Cada dia mais distantes das regras econômicas
clássicas, onde para Adam Smith as coisas tinham dois valores: “A
água é útil, portanto, tem valor de uso, no entanto, não tem valor de troca. Já
o diamante, não tem valor de uso, mas com ele se pode obter muitas outras
coisas em troca”, vemos lentamente a modificação de certas afirmações.
(1776).
A água, bem essencial à vida, adquire a cada dia mais
valor de troca em razão da escassez, da negligência dos homens e do aumento
populacional.
Claro que encontraremos soluções para as crises de
abastecimento. Seja pela reutilização, pela dessalinização ou por outros
processos químicos ainda não inventados.
A água já é uma commodity e pode vir a ser um bem com
alto valor de troca.
Por outro lado, mais uma vez, o mercado determinará
preço em razão da escassez ou da dificuldade de obtenção do precioso líquido.
Este introito é apenas para dizer que a água já faz
parte do rol das coisas com valor de mercado e que seu preço estará sujeito às
leis clássicas da economia liberal. No Kwait, por exemplo, a água potável vale
mais do que a gasolina.
O avanço do capitalismo sem oponentes, pelo menos
desde a queda do muro de Berlin em 1989, tem na escassez uma fonte de lucro.
Aliás, é a escassez que determina o valor das coisas no sistema capitalista. O
risco “protegido” também...
A social democracia escandinava, a melhor forma de
organização política até agora experimentada pelos homens, poderia ser modelo
para o planeta. Mas, não é...
Assim, na busca incessante do lucro, a qualquer preço,
vemos a falência política de alguns países, entre eles o Brasil, onde nem os
princípios básicos de proteção à cidadania são respeitados.
Nossos partidos políticos não conseguem manter uma
conduta paralela entre a doutrina e a prática. Ambas são cruzadas ao longo do
caminho.
Conseguimos construir uma capitalismo de favores (vide
Eike Batista), de falsos talentos financiados por verbas públicas (vide as
agências de publicidade e empresas de consultoria), de favores estatais, de
castas funcionais bem remuneradas.
A tal da isonomia do serviço público tão discutida e
debatida pela nação no processo constituinte (1987/88) deu espaço para
carreiras de estado como juízes, promotores, diplomatas, fiscais de tributos,
delegados e procuradores com remuneração absurdamente maior do que a de
professores, médicos, dentistas, bombeiros e outras atividades públicas.
No setor privado, a corrupção na Petrobrás, mostra
como estamos bem na prática de crimes financeiros. A nova CPI instalada na
Câmara dos Deputados, entre seus 27 membros, tem dez deles financiados pelas
empreiteiras envolvidas. Logo...
A argentocracia ou moneycracia, como queiram, controla
o Brasil.
Cada dia mais...
Ou o cidadão se corrompe ou sofre o peso da
honestidade.
Conseguimos, com muito talento e brasilidade,
construir um novo modelo político: a
cleptocracia tropical.