As elites
Marcos Bayer
Foi a burguesia que derrubou a monarquia francesa
(1789), e com o passar do tempo, criou a categoria social elite para poder viver a
vida da realeza, sem precisar da coroa, da hereditariedade ou da educação. O
dinheiro compraria tudo isto, como de fato comprou.
Olhando, mesmo que pela televisão, as sociedades
inglesa e francesa, percebe-se o argumento.
Os EEUU e o Brasil têm a mesma idade. Foram
descobertos pelos navegadores europeus, nos 1.500, e por eles colonizados. Lá
como cá havia índios e africanos foram introduzidos nas duas nações, pelos
ingleses que descobriram o triangulo da fortuna. Traziam o negro da África,
mandavam plantar cana nos trópicos e levavam o açúcar branco para a Europa.
Isto aconteceu no nordeste brasileiro, nas ilhas do Caribe e sul dos Estados
Unidos.
Depois, quando os ingleses inventaram o tear mecânico,
introduziram a plantação de algodão, no mesmo esquema e assim nasceu a
indústria têxtil.
A diferença entre os EEUU e o Brasil, afora o clima,
claro, é que a Lei foi tábua de
referência na organização social desde a edição de suas respectivas
constituições. Lá, em 1787, foi promulgada por cidadãos livres e independentes.
Aqui, em 1824, ela foi outorgada pelo Imperador Dom Pedro I que a encomendou a
um grupo de pessoas ligadas à Corte.
É aí que começa o atraso brasileiro. Enquanto os
norte-americanos constroem uma sociedade baseada na legalidade e na democracia,
nós vamos caminhando entre o favorecimento e a sonegação tributária.
Quando Getúlio Vargas negocia com Roosevelt a posição
brasileira na Segunda Guerra Mundial, os americanos já construíam automóveis,
tanques de guerra, navios e aviões. Nós íamos aprender a fundir o ferro através
da Companhia Siderúrgica Nacional.
As elites americanas, educadas em diversas
universidades, desenhavam uma nação baseada na ordem, na lei, na liberdade de
imprensa e no mérito, inclusive e principalmente na atividade comercial.
Gigantes industriais como a PAN AM (Pan America
Airlines) e a TWA (Trans World Airlines) quebraram e o governo não
interferiu. Aqui a VARIG e a TRANSBRASIL, como a VASP, muitos subsídios
receberam do BNDES. Já a EMBRAER, talvez por estar diretamente ligada ao ITA -
Instituto Tecnológico de Aviação - teve destino melhor.
Mas, voltando às elites, lá na América, a livre
iniciativa é para valer e a taxa de juro não é para matar a capacidade de
empreender. Assim, como no serviço civil, a burocracia pública, há certa lógica
de simetria entre os salários pagos aos servidores. Sejam professores, médicos,
policiais, diplomatas, fiscais, juízes ou promotores, inclusive parlamentares.
Aqui, o clube dos quarenta mil reais, que abrange a
classe dirigente brasileira, a nossa elite, concede aumento salarial para si e
dane-se o resto.
A nossa elite política meteu a mão no baleiro, sem dó
nem piedade. Salvo raras exceções de sempre, a direita política enriqueceu em
parceria com setores empresariais já conhecidos na Operação Lava Jato e outros
que estão por vir. A elite de esquerda, operária ou não, quando chegou ao poder
fez igual.
Vou pegar dois exemplos, objeto de discussão nacional,
e demonstrar.
A Lei do Registro Público garante a qualquer brasileiro
ir ao Cartório do Registro de Imóveis e requerer certidão de propriedade sobre
tal ou qual pessoa. A Lei Civil diz que só é proprietário, quem tem a matrícula
em seu nome. Sem matrícula não há propriedade.
O ex-presidente Lula, preso, responde a alguns processos
por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Lula não tem
apartamento em Paris na Avenue Foch, e me parece sensato. O que
faria por lá?
Museus, livrarias, cinemas, chablis com filet
de truite aux amandes, caminhadas no Champs Elysees? No máximo
um jogo de futebol aos domingos para ver o Paris Saint Germain.
Fernando Henrique Cardoso, filho da classe média
brasileira, que ascendeu à elite intelectual e política do país, não tem
apartamento no Guarujá ou sítio em Atibaia. Faria o que? Caminhadas matinais de
bermudão na orla paulista ou passeio de pedalinho no pequeno lago com a jovem
namorada? Churrasco com caipirinha de cachaça na serra? Assistir ao Netflix
nas tardes de domingo? Ou ir ao estádio de futebol assistir ao Corinthians?
As elites brasileiras estão entaladas até a garganta
com tanta corrupção. Os partidos políticos, quase todos, estão no rol dos
suspeitos e culpados.
Aqui em Santa Catarina, mesmo com dois candidatos pró
Bolsonaro, acredite quem quiser, o eleitor deu 71% dos votos ao mais
desconhecido porque sentia no ar cheiro de corrupção nas outras possibilidades.
Na eleição ao senado, o mesmo cheiro derrubou outros tantos.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, também membro do
clube dos quarenta mil, ele e seus filhos são parlamentares, tem consciência
destas coisas. O que ele não souber, tem a quem perguntar: Tanto ao economista
Paulo Guedes, quanto ao Juiz Sérgio Moro. Além do vice-presidente eleito e
outros militares, estudados e graduados que comporão o futuro governo.
O Brasil tem uma chance, em boa hora, para acertar o
caminho. Um detalhe que é preciso lembrar e corrigir: Juiz não tem prazo para
julgar no Brasil. Basta uma emenda constitucional, dando prazo ao Juiz, como dá
ao promotor e ao advogado, para uma boa arrancada. O general Hamilton Mourão
que demonstra preocupação com a necessidade da cobrança de resultados do
governo poderia abraçar a causa. Com um sistema judicial que ainda anda na
velocidade das carroças e uma democracia instantânea de apuração eletrônica com
campanha política pelo whattsapp não vamos muito longe.
Democracia e justiça, ou andam juntas, ou não existem!
Basta olhar para as elites de cima. Tanto na America
como na Inglaterra, onde boa parte desta história toda começou...