Observando a expansão da sociedade global e seus mecanismos de crédito e financiamento, tenho feito algumas reflexões sobre as novas teorias organizacionais, entre elas as conhecidas “terceirização” e a “fidelização”.
O mercado, instituição suprema do inicio do século 21, conseguiu transformar em verbos um número e um adjetivo.
O sistema precisa, crescentemente, da maior quantidade possível de clientes. Na medida em que cada ser humano passa ter um pouco mais de renda, é envolvido numa rede de consumo, tornando-se escravo cativo dela.
São as contas mensais de luz, água, telefonia fixa e móvel, provedor de Internet, canais de televisão por assinatura, sistemas de vigilância, taxas de manutenção de contas bancárias, prestações da casa própria e do automóvel, impostos diversos; seguro de vida, do imóvel e outros. Enfim, o cardápio de obrigações da sociedade do crédito.
Não bastassem as senhas, os códigos de acesso e outras formas de despersonalização, constituímos parte de uma multidão dissipada dentro dela.
Ao sistema só interessa aqueles que têm capacidade de consumir.
Pretender cancelar alguns dos serviços acima enumerados significa submeter-se ao martírio que nos impõem programas pré-concebidos que não podem perder nenhum de seus usuários. Aliás, a sobrevivência deles, depende de nós.
Os critérios utilizados para admirar um ser humano passaram a ser tão argentários que as qualidades pessoais são recodificadas em cifras ou acumulação patrimonial.
Alguns bancos, por exemplo, possuem um sistema de alerta na aferição diária dos depósitos para que quando determinado cliente deposite uma quantia superior a um limite pré-estabelecido, a gerencia possa ser imediatamente notificada a fim de que o gerente convide o correntista para almoçar.
Na medida em que avançam estes comportamentos utilitaristas, quase todos falseados por um sorriso amigo, que também faz parte do sistema de cooptação, os homens afastam-se uns dos outros e legitimam a sociedade dos consumidores sem personalidade.
Não duvido que dentro de algum tempo, quando o sistema não mais suportar os desocupados, improdutivos e sem capacidade de consumo, passe a considerá-los como óbices à harmonia social.
Então, sem ter onde colocá-los ou aproveitá-los, e para que não prejudiquem o bom funcionamento da engrenagem capitalista, talvez uma das soluções seja queimá-los.
É mais barato, não ocupa espaço e não deixa vestígios...
terça-feira, 31 de julho de 2007
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