domingo, 9 de dezembro de 2007

Distanciamento humano

A inegável praticidade e a velocidade da comunicação pela utilização da Internet, o lado positivo da tecnologia, provoca também um distanciamento nas relações humanas. Sobretudo entre os internautas. As crianças, especialmente, aprendem a viver num mundo virtual onde o contato físico e a percepção dos sentidos básicos, sobretudo o tato, a fala e o olfato, são substituídos por palavras compactadas, imagens, símbolos e cores das fantásticas janelas dos computadores.

O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação e por isto, talvez, consiga suportar a evolução.

As sensações e as formas de expressão, inclusive a escrita, passam por transformações que ainda não podemos aquilatar.

Nas relações comerciais e profissionais em geral, além das facilidades da informática, percebemos um esfriamento nas trocas pessoais.

A crescente informatização das atividades humanas cria um novo controle, às vezes fatal, sobre o homem. Ou estamos no sistema ou fora dele.

Quando somos cadastrados em algum índex indevidamente, é necessário muito trabalho e paciência para tentar sair dele.

A autonomia humana vai diminuindo na medida em que gestores de inúmeros processos só podem autorizar operações previamente programadas pelo sistema.

Em diversas circunstâncias, muitos de nós já ouvimos a resposta terminativa: Lamento, mas o sistema não aceita. Ou, ainda, o sistema caiu.

E assim, a mercê do estéril sistema tornamo-nos números e senhas de um processo infindável de despersonalização.

Há casos absurdos em que o indivíduo apresenta-se ao vivo para qualquer operador de um sistema e, ainda assim, tem que provar com números ou senhas que ele é ele. O sistema não reconhece a persona. Apenas a personagem.

Não duvido que chegue o dia em que determinada pessoa precisando de socorro ou ajuda qualquer, e, por não estar cadastrada num sistema, não existirá. Consequentemente padecerá em seu infortúnio.

O afastamento do homem em relação à Natureza faz parte deste projeto digital onde o natural é substituído pelo artificial com enorme maestria.

Talvez o computador faça parte, inconsciente, da aceitação de uma artificialidade necessária à superação do processo de despersonalização por que passa a humanidade no início do século XXI.

Talvez os chamados excluídos digitais sejam, um dia, reconhecidos como não humanos, e, portanto, destituídos dos cuidados inerentes à vida.

Talvez, no futuro, o sistema não aceite os sem senhas...

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