Discurso de posse na ADL, em 24/11/2009.
Boa noite a todos...
Jamais pensei que um dia fosse proferir discurso tão solene.
Aliás, quando adolescente, pensava que a política seria meu caminho. Imaginava-me governante, resolvendo os problemas de SC, da tributação à educação.
Quando menino tomava sopa de letrinhas da marca ADRIA. Olhava para o prato fumegante e imaginava que com elas seria possível escrever diversas palavras. E gostava da forma desordenada com que boiavam no caldo quente. Nunca pensei que através delas poderia obter algum reconhecimento.
Aceito a honraria não pela vaidade do escritor, do professor ou do jornalista...
Aceito a titulação honrosa porque ela legitima minhas posições públicas e privadas...
Aprendi com a professora Mara Barbosa Tavares, aqui presente espiritualmente, no Rio de Janeiro, na escola pública primária, que “a uva é da Eva”, embora alguns padres insistam na maçã. Aprendi também a fazer as contas. Como era bom aluno em matemática, ganhava as melhores notas da sala de aula, e como prêmio recebia um saco de balas carameladas das Lojas Americanas e tinha o direito de escolher a carteira em que sentaria no mês seguinte: sempre escolhi as da primeira fileira, ao lado da Taís ou da Lígia, duas lindas meninas, crianças como eu...
Dividirei meu texto em duas partes: A primeira ao patrono da cadeira nº. 05, desta Academia Desterrense de Letras, o eminente e versátil Professor Aníbal Nunes Pires, conhecido mestre dos sete saberes. Alguns dos aqui presentes o conheceram e ou dele foram alunos.
Nascido em Florianópolis, no dia 9 de agosto de 1915, faleceu na madrugada de 24 de abril de 1978, deixando a esposa Eugênia e, para continuarem seus projetos de humanismo e arte, os filhos: Maria Cristina, Clarice, Maria José e José Henrique, o Zéca Pires, nosso cineasta.
Durante seus cursos em duas Faculdades: Economia e Direito, o Professor Aníbal se enriqueceu com profunda formação intelectual e humanística, razão pela qual optou sempre pelo exercício do magistério, conciliando áreas tão opostas como Matemática e Português/Literatura.
Aqui na capital, todas as instituições de ensino de maior relevo – desde o Colégio Catarinense, como o Coração de Jesus, incluindo as Faculdades de Filosofia, Letras e de Ciências Econômicas da UFSC, bem como a Faculdade de Educação da UDESC – cresceram com a participação do Professor Aníbal Nunes Pires no seu corpo docente.
Aníbal Nunes Pires foi, inequivocamente, um autêntico profissional do magistério. Profissional no sentido de dedicação e responsabilidade. Aliava competência intelectual de elevada cultura ao espírito humano de compreensão, bondade e solidariedade. Suas aulas nunca se resumiam às frias exposições ou ostentação de cultura, que, aliás, não lhe faltava. Dotado de inteligência lúcida, expandida por ampla visão cultural, nunca assumia ares de superioridade, mas seu senso de humildade justa o tornava amigo e colega de todos.
Não posso deixar de homenagear, também, Dórinda Waltrick, minha antecessora, natural de Criciúma, estudou na cidade de Tubarão. Formou-se em Letras na UNIPLAC de Lages. Foi professora de Português e de Literatura. Sempre gostou de poesias e de contos.
A segunda, minha impressão sobre as coisas que me chamam a atenção.
Agradeço, em primeiro lugar, aos meus amigos, que constituem meu patrimônio emocional: Sou um homem rico. Tenho poucos, mas grandes amigos. Canta o poeta: “When friends are around the taste of life is real”.
Começo com a letra “A” de Armando José D’ Acampora, imortal e responsável por minha presença aqui, nesta noite. E termino com “Z” de Zeus, a quem agradeço todos os dias por viver...
Não citarei os outros, pois se esquecer de algum, a falha será maior do que o reconhecimento. E na minha idade, já não posso causar constrangimentos provocados pela falta de memória...
No entanto, ao Wilfredo, meu pai e ao Gustavo e a Tharcilla, dois pedaços de mim, agradeço por tudo que me ensinaram e ensinam diariamente...
Não posso esquecer da Freya, com quem quase não convivo por circunstâncias do destino...
Devo dizer que de todas as sensações, o amor é a mais intensa e a mais poderosa. Está escrito, em Coríntios – capítulo 13, versículo 13, que entre a fé, a esperança e o amor, sempre o amor. Ele é o sentimento maior...
Conheci o amor através de uma mulher que foi e é Luz no meu caminho. Olga: Te amo. “You have been with me through all of my ups and my downs, my crazy turn around, my lady love”…
Canta a música…
Andei pela política, pelo jornalismo, pela construção civil, pelo magistério e recentemente pela advocacia.
Hoje, lá em Urubici, no paraíso da serra de Santa Catarina, tenho aprendido muito com os cavalos. Animais inteligentes, de uma sensibilidade espantosa. Responsáveis por boa parte das conquistas do homem durante o processo civilizatório. A História registra alguns destes notáveis animais: Bucephalus de Alexandre, o destemido guerreiro que venceu todos os exércitos de sua época, inclusive Phobus – o deus do medo. Genitor de Júlio César, Rocinante de Don Quixote, e antes de todos, Pégasus. O cavalo branco e alado, crescido nos prados no Monte Olímpo, entre a Tessália e a Macedônia. O mais ágil de todos os tempos, símbolo da velocidade e o primeiro meio de comunicação nos transportes aéreos, como ensina a mitologia grega. Porém, foi Calígula, quem nomeou seu cavalo Incitatus para o Senado Romano - SPQR. Dizia que o animal era mais nobre do que muitos senadores de então...
Se vivo fosse e governasse no Brasil, imagino que teria a mesma opinião, o Imperador romano...
Maomé os chamava de “Filhos do Vento”... E dizia que Deus, quando os criou, assim anunciou: “Quero fazer de ti uma criatura para a glória dos meus fiéis e terror dos meus inimigos”.
Contudo, devo dizer que de todos eles, desejava, quando menino, cavalgar no elegante cavalo do Tenente Rip Masters, chefe da cavalaria do Forte Apache, nos seriados do Rin Tin Tin, apresentados pela TV Record, durante minha infância em Copacabana.
Não por acaso, as máquinas, a partir do vapor, têm sua potência medida em HP (horse power). Até a viagem da primeira locomotiva entre Manchester e o porto de Liverpool, em 1826, na Inglaterra, o homem andava, remava, velejava e ou cavalgava. E foi assim que fez a maravilhosa aventura humana acontecer.
Gostaria de ter lido Karl Marx no original. No entanto, não sei falar alemão. Considero este judeu-germânico, nascido em Trier, no final do Mosel, um dos gênios da nossa espécie.
Muito do que ele previu está acontecendo. O capitalismo é autofágico.
Aprendi com o brilhante senador Jaison Barreto que nascemos todos socialistas: precisamos apenas de uma teta para crescer. O problema vem depois quando somos ensinados a querer várias delas... E as tiramos de nossos irmãos.
De Leonardo da Vinci, folheando a obra completa, em 1982, na cidade de Los Angeles, quando estudava Administração Pública com o mestre Alberto Guerreiro Ramos, gravo uma frase, síntese de sua monumental inteligência: O talento é igual ao ferro. Se não for usado, enferruja.
Conheci seres travestidos de políticos que assaltam a pátria diariamente. E sobre eles não devo mais falar...
Perdeu-se a noção do que é República no Brasil...
Não se sabe mais o que é um bem republicano...
Somos assaltados diariamente pelos agentes públicos, nos três níveis de poder, com ou sem mandato político, salvo raríssimas exceções...
No entanto, rendo homenagem ao governador de Santa Catarina, na Administração 99/2002, Dr. Esperidião Amin Helou Filho, aqui presente, por três qualidades suas. Observadas e enumeradas; claro, por mim. Uma capacidade de trabalho cavalar, o senso de justiça ímpar e uma espiritualidade invejável.
Aprendi com ele, pelo menos duas coisas, em minha opinião, dignas de registro:
A primeira sobre a ansiedade, atributo ou defeito inerente à minha personalidade.
“Marcos, quando quiseres saber o resultado de alguma coisa, procura uma pedra e pergunta: Pedra, como será tal coisa? E, passarão dez mil anos e ela não te responderá”.
A segunda, e mais importante, ele escutou de um japonês sobrevivente da Segunda Grande Guerra. Andava o governador pelo sul de nossa Ilha, num dia frio, chuvoso e atormentado pelo vento que soprava do mesmo quadrante. Ao referir-se àquele como um dia ruim, seu interlocutor, o japonês, disse-lhe: Não, o senhor está enganado. Hoje é um grande dia. Porque eu estou vivo...
Assim, para não tomar mais tempo de tão distinta audiência, termino, e porque sou Tijucano de criação e como todos nós, amantes dos pássaros e da liberdade, com o frágil e forte poeta Mário Quintana: “Eles passarão e eu passarinho...”.
E, repito o que ouço em Tijucas, desde menino: Vai, toda vida vai, até o fim...
Muito obrigado pela atenção.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário