terça-feira, 18 de outubro de 2011

black make up


Sem maquiagem

Para os que gostam de conversar, pelo interesse na conversa, pode ser sem maquiagem. A maquiagem ajuda, enfeita e pode aumentar atração e o interesse. Mas, o que sustenta a convivência é a conversa.

Assim também em relação às cidades e seus bairros. Em determinadas épocas bastavam às conversas entre amigos, o encontro diário, a praia, a música e o cinema. E os relacionamentos mais fraternos e verdadeiros é que carregavam comentários e malícias na proporção dos fatos. A vida passava sem maquiagem. De cara lavada.

De repente, fruto da transformação social, da incorporação do ideal estético-sexo-olímpico-neon surge uma maquiagem total, pintando como saíra das sete cores, a alma intocável pela pasta multicolorida. Mulheres estressadas, mantidas na aparência triste da festa interminável da aceitação. Da mesma forma, pretendentes solitários e bem vestidos, entorpecidos nos limites de suas dores. Perdidos entre artefatos complexos, quase todos etiquetados por grifes mundiais, desenhados em Milão e produzidos na China. E assim, iludidos passageiramente, tanto quanto duram as fantasias, caminham cegos, com os olhos bem abertos, em direção ao breve anonimato consentido. Esquecem que só o talento, seja ele qual for, pode eternizar o homem.

Assim acontece com as cidades. As que são eternas, entre elas Roma, Paris ou Brasília, o são e serão porque conseguem conservar aquilo que os arquitetos chamam de identidade.

Podem ser cidades pequenas, como várias na costa mediterrânea, nos campos da Toscana ou em algumas ilhas do Caribe. Pode ser na costa do Uruguai.

A Ilha, grande Florianópolis que um dia amparou distintos pontos, desde lagoas e praias, chácaras e bosques, cede às forças da expansão, vende seus espaços em metros quadrados de concreto e aço, aceita em sua face pastas e pós coloridos tão intensos quanto à solidão dos que transitam em suas ruas, incógnitos e extasiados com a possibilidade de habitarem numa cidade que já não consegue mais viver de cara lavada... Há muito o que esconder.

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