Congresso Nacional em Brasília
Favela da Rocinha no Rio de Janeiro
Não é um país sério...
Marcos Bayer
Pouco
importa se a frase é do General Charles De Gaulle ou do Embaixador do Brasil em
Paris, Carlos Alves de Souza Filho, por ocasião da Guerra da Lagosta, em 1962,
quando a França e o Brasil discutiam se as lagostas que passavam pelo litoral
de Pernambuco, andavam ou nadavam.
Caso
“nadassem” eram “internacionais”. Se “andassem” eram brasileiras, pois o solo
submarino pertencia ao Brasil.
O
fato é que de lá para cá temos visto um país pouco sério nos seus caminhos políticos.
Veio
o golpe militar de 1964 com o argumento de que o Brasil não podia virar para o
lado do comunismo.
Os
generais impuseram dois partidos políticos: ARENA e MDB. A Aliança Renovadora
Nacional apoiava o regime. O Movimento Democrático Brasileiro podia fazer
oposição. Era uma “democracia” militar.
Com
o passar dos anos, em 1968, a situação ficou mais complexa. Liberdades civis
suprimidas com censura geral, mandatos políticos cassados e planejamento
orçamentário rigoroso.
O
“bolo” econômico deveria crescer para depois ser dividido entre a população,
ensinava Delfim Netto. Havia dinheiro disponível nas bancas de Londres e Nova
York provenientes dos “petrodólares” do Golfo Arábico.
Os
subdesenvolvidos eram estimulados à contratação de empréstimos com taxas de 17%
até 21% ao ano. Na Europa as taxas giravam em torno de 6% a.a. Olha a maravilha
do “spread”.
Construiu-se
muita coisa, grandes obras, estradas federais, industrialização nacional e um
pouco de tortura e corrupção, nas medidas permitidas por alguns generais.
O
MDB criava corpo, gritava e sacudia a nação rumo à democracia. Abertura
política, anistia, eleições diretas em todos os níveis.
A
Arena respondia com sublegendas, senadores biônicos e colégio eleitoral.
E
assim fomos, até que em 1988 proclamamos uma Constituição e em 1989 elegemos um
presidente civil pelo voto secreto e direto.
No
úbere do MDB estavam os comunistas, socialistas, democratas, trabalhistas,
anarquistas e todos os matizes que se possa imaginar.
O
MDB abrigava a todos. Com o tempo foi se depurando. Saíram tendências
ideológicas para a construção de novos partidos.
Surgiu
o PT – Partido dos Trabalhadores. Nasceu o PSDB, a parte boa do PMDB. Nasceu o
PSOL, a parte ética do PT.
Da
Arena, fizeram-se PDS, PFL, DEM e até o PSD.
Surgiram
outros. Quase 30 partidos políticos, hoje registrados e em funcionamento.
Depois
das tentativas de vários deles em governos estaduais, ou no federal, finalmente
o PT, na quarta eleição, em 2002, chega à Presidência.
Lula
recebe seu primeiro diploma na vida: o de Presidente do Brasil.
Inegavelmente
consegue impor avanços na economia, na produção, na educação, no consumo e na
oferta de crédito.
Parecia
que vinha bem, até que o Presidente Mujica, do vizinho Uruguay, revela em seu
livro que Lula admitia lidar com coisas imorais e chantagens para poder
governar o Brasil.
Aí
veio o Mensalão, o Petrolão e outros casos ainda submersos, conectados a vários
partidos políticos.
Mas,
o pior é ter que assistir o PT desconstruir, no Congresso Nacional, todo avanço
legal que conseguiu nos últimos tempos, especialmente no que se refere aos
trabalhadores.
O
ajuste fiscal pretendido pelo governo da Dilma pode ser sintetizado assim:
O PIB do Brasil em 2014 foi de R$ 5,5
trilhões de reais. Foi quanto a nação produziu, a soma dos esforços de todos os
brasileiros. Gastamos com o pagamento dos juros da dívida pública (o valor que
o Tesouro paga aos bancos) R$ 250 bilhões de reais, cinco por cento do PIB. O
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quer economizar R$ 66 bilhões de reais no
tal do ajuste fiscal, basicamente nas costas do trabalhador. Isto é 1/4 do
valor do pagamento dos juros anuais.
Pergunta se alguém vai mexer na receita dos bancos...
Pergunta se alguém vai mexer na receita dos bancos...
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