segunda-feira, 18 de maio de 2015

Não é um país sério...


Congresso Nacional em Brasília



Favela da Rocinha no Rio de Janeiro



Não é um país sério...

Marcos Bayer


Pouco importa se a frase é do General Charles De Gaulle ou do Embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza Filho, por ocasião da Guerra da Lagosta, em 1962, quando a França e o Brasil discutiam se as lagostas que passavam pelo litoral de Pernambuco, andavam ou nadavam.
Caso “nadassem” eram “internacionais”. Se “andassem” eram brasileiras, pois o solo submarino pertencia ao Brasil.
O fato é que de lá para cá temos visto um país pouco sério nos seus caminhos políticos.
Veio o golpe militar de 1964 com o argumento de que o Brasil não podia virar para o lado do comunismo.
Os generais impuseram dois partidos políticos: ARENA e MDB. A Aliança Renovadora Nacional apoiava o regime. O Movimento Democrático Brasileiro podia fazer oposição. Era uma “democracia” militar.
Com o passar dos anos, em 1968, a situação ficou mais complexa. Liberdades civis suprimidas com censura geral, mandatos políticos cassados e planejamento orçamentário rigoroso.
O “bolo” econômico deveria crescer para depois ser dividido entre a população, ensinava Delfim Netto. Havia dinheiro disponível nas bancas de Londres e Nova York provenientes dos “petrodólares” do Golfo Arábico.
Os subdesenvolvidos eram estimulados à contratação de empréstimos com taxas de 17% até 21% ao ano. Na Europa as taxas giravam em torno de 6% a.a. Olha a maravilha do “spread”.

Construiu-se muita coisa, grandes obras, estradas federais, industrialização nacional e um pouco de tortura e corrupção, nas medidas permitidas por alguns generais.

O MDB criava corpo, gritava e sacudia a nação rumo à democracia. Abertura política, anistia, eleições diretas em todos os níveis.
A Arena respondia com sublegendas, senadores biônicos e colégio eleitoral.
E assim fomos, até que em 1988 proclamamos uma Constituição e em 1989 elegemos um presidente civil pelo voto secreto e direto.
No úbere do MDB estavam os comunistas, socialistas, democratas, trabalhistas, anarquistas e todos os matizes que se possa imaginar.
O MDB abrigava a todos. Com o tempo foi se depurando. Saíram tendências ideológicas para a construção de novos partidos.
Surgiu o PT – Partido dos Trabalhadores. Nasceu o PSDB, a parte boa do PMDB. Nasceu o PSOL, a parte ética do PT.

Da Arena, fizeram-se PDS, PFL, DEM e até o PSD.
Surgiram outros. Quase 30 partidos políticos, hoje registrados e em funcionamento.
Depois das tentativas de vários deles em governos estaduais, ou no federal, finalmente o PT, na quarta eleição, em 2002, chega à Presidência.
Lula recebe seu primeiro diploma na vida: o de Presidente do Brasil.
Inegavelmente consegue impor avanços na economia, na produção, na educação, no consumo e na oferta de crédito.
Parecia que vinha bem, até que o Presidente Mujica, do vizinho Uruguay, revela em seu livro que Lula admitia lidar com coisas imorais e chantagens para poder governar o Brasil.
Aí veio o Mensalão, o Petrolão e outros casos ainda submersos, conectados a vários partidos políticos.
Mas, o pior é ter que assistir o PT desconstruir, no Congresso Nacional, todo avanço legal que conseguiu nos últimos tempos, especialmente no que se refere aos trabalhadores.

O ajuste fiscal pretendido pelo governo da Dilma pode ser sintetizado assim:
O PIB do Brasil em 2014 foi de R$ 5,5 trilhões de reais. Foi quanto a nação produziu, a soma dos esforços de todos os brasileiros. Gastamos com o pagamento dos juros da dívida pública (o valor que o Tesouro paga aos bancos) R$ 250 bilhões de reais, cinco por cento do PIB. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quer economizar R$ 66 bilhões de reais no tal do ajuste fiscal, basicamente nas costas do trabalhador. Isto é 1/4 do valor do pagamento dos juros anuais.
Pergunta se alguém vai mexer na receita dos bancos...








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