Sirtaki
Marcos Bayer
O conceito de democracia, no Ocidente, nasceu ali, na
Grécia. Os gregos deram uma contribuição fantástica para a expansão do
pensamento ocidental, em particular, e para o desenvolvimento mundial, em
geral.
Da filosofia ao teatro. Da geometria à metafísica. Da
lógica à literatura. Da mitologia à política.
Quanto da aventura humana não está contido na
Odisseia, senão toda ela?
Foram sábios ao dividir o tempo entre Kairós e Kronos
e vivê-los equilibradamente. Pensaram, produziram, usufruíram e mostraram que
era possível ao homem viver holisticamente.
Hoje, espero, os gregos dão ao mundo mais um presente.
Não uma revolta idiota de negação, mas uma aula de insubordinação à fúria do
capital estruturado no último século com voracidade antropofágica. Uma onda de
cifras que anula espaços da criatividade e do pleno desenvolvimento humano.
Encarnado em Tsipras, o homem grego diz sim ao seu semelhante.
Para os mais religiosos, lembra o Papa Francisco, na
sua Carta Verde: “à contínua
aceleração das mudanças na humanidade e no planeta junta-se, hoje, à
intensificação dos ritmos de vida e trabalho, que alguns, em espanhol, designam
por «rapidación»“. Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas
complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a
lentidão natural da evolução biológica. A isto vem juntar-se o problema de que
os objetivos desta mudança rápida e constante não estão necessariamente
orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável e integral.
A mudança é algo desejável, mas torna-se preocupante quando se transforma em
deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade”.
Talvez a Grécia esteja dando ao mundo mais um sinal de
referência: o sinal de que podemos entrar numa era de restauração do
comportamento humano em relação ao sentido de bem viver. De usufruir dos frutos
do trabalho, embebidos pela manifestação das artes numa paisagem ambientalmente
sana. Numa dimensão em que o Homem volte a ser o centro do desenvolvimento, seu
beneficiário e multiplicador.
Sirtaki, dizem alguns, significa processo, movimento,
evolução...
Sirtaki é a capacidade de dançar sobre a desgraça
econômica de uma empreitada mal sucedida, como em “Zorba, o grego”,
imortalizado por Anthony Quinn.
Sirtaki é a dança da vida, do amor, da Grécia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário