sábado, 13 de fevereiro de 2016

Os manés, nossa história e a arquitetura...






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Por Marcos Bayer
  
   Dia destes, assistia ao canal de TV exibindo programa sobre as cidades europeias. E aí, não sei por que, imediatamente dividi meu cérebro em duas partes: uma assistia ao programa e a outra revia Desterro até Florianópolis, com imaginação e imagens reais que a memória permitia.
   E aí então compreendi que mesmo sendo uma ilha de imigrantes açorianos, gregos, libaneses, alemães, italianos e outras etnias, estamos fadados aos alvarás de demolição.
   O Coliseu, em Roma, se aqui fosse já teria sido demolido para dar lugar a um estádio de futebol. A Torre de Pisa já teria sido escorada de um lado e guinchada por cabos de aço no outro, na tentativa de verticaliza-la novamente. Os laranjais de Sevilha, cuja sombra e aroma embelezam a Andaluzia, já teriam sido substituídos por pequenos prédios como aconteceu na Trindade com sua Festa da Laranja. As palmeiras tropicais foram transportadas para a Europa a fim de adornar cidades nas bordas mediterrâneas. Aqui, o pau-brasil foi ceifado até a inexistência. Cemitérios ingleses e catacumbas italianas, aqui teriam sido, como foram, transformados em terrenos abandonados como a cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz.
   Petiscos como calamari, azeitonas e doces gregos, tapas e tortilhas espanholas, patês de foie gras e rins ensopados aqui se transformaram em anchovas na chapa, vendidas como grelhadas, cujo azeite é uma emulsão estimuladora do vômito, a cem reais o par, como estão à disposição no Pântano do Sul. Ruas de paralelepípedo que legitimavam a praça XV, o Palácio Cruz e Souza e outras construções, foram asfaltadas sobre o argumento de que a trepidação prejudicaria as construções. Azulejos artesanais pintados à mão como na Galícia, em Valência ou Óbidos em Portugal, aqui foram transformados no Porcelanato 60X60 cm, vendidos nas melhores casas comerciais. A rica e miscelânea área comercial da Rua Conselheiro Mafra, o Mercado Público e adjacências, foram substituídos por lojas de produtos de gosto e preço duvidosos.
   Salvamos a sede do Corpo de Bombeiros, a sede do Comando Militar, a Igreja e o Orfanato e alguns casarios da Praça Getúlio Vargas. Inúmeras residências nas principais avenidas como Trompowsky, Rio Branco, Mauro Ramos e Hercílio Luz deram lugar aos prédios retos de janelas quadradas numa arquitetura próxima do sufocante. Faltou Gaudi ou Calatrava. Ou Niemeyer quando integrava a curva à reta. Carros de mola puxados por cavalos estacionados na praça XV, como no Central Park de Nova York ou no Ringstrasse de Viena, de valor turístico apreciável, aqui deram espaço aos táxis brancos cujas placas pertencem aos vereadores.
   E assim, poderíamos passar a noite fazendo paralelos entre o azul, limpo e transparente Mar Mediterrâneo e nossas belíssimas praias pigmentadas por coliformes fecais.
   Nossas ostras são oxigenadas pelas águas das baías cuja pureza só aFatma pode atestar. Então, sob o comando político de manés iletrados com curso superior em Organização & Métodos, planejamentos intermináveis e reuniões inconsequentes vamos perdendo os músicos que poderiam tocar pelas ruas, o Boi de Mamão, as festas populares e religiosas substituídas pelos beach clubs de Jurerê onde os marombados e as Marybundas tentam impor um novo padrão cultural. No extremo sul da Ilha, para demonstrar que a crítica não é dirigida, temos a Praia dos Açores, cujas ruas lajotadas assemelham-se às de Bagda, depois da ofensiva norte-americana.
   O Prefeito vai à Disney, em férias, para mostrar aos seus a Minnie e o Mickey. Paga R$ 4,6 milhões de reais pela festa e a transmissão dos fogos que se queimam em vinte minutos de espetáculo inigualável em todo o planeta. Florianópolis é a única cidade no planeta que festeja o Ano Novo de forma pirotécnica. Haja originalidade! Os músicos locais que tocaram na Fenaostra ainda não haviam recebido seus créditos junto ao Município. Aliás, a Fenaostra deveria ser comemorada nos diversos restaurantes do Ribeirão da Ilha e num espaço mais apropriado do que aquele Centro de Convenções, enclausurado na Baía Sul, onde nem o por do sol se pode apreciar. Esqueceram-se das janelas num rasgo de arquitetura cósmica.
   Não sabemos quais os maiores devedores do IPTU, nem da quadrilha que fraudava quitações tributárias na Prefeitura Municipal e, no entanto, houve um aumento considerável do Imposto Territorial e Predial Urbano.
   Votou-se um plano diretor cujos anexos até hoje estão desanexados. Nesta balburdia, os principais responsáveis tratam-se respeitosamente pela alcunha de Vossa Excelência.
   A Ilha, tristemente, afasta-se da excelência que já experimentou, para um momento de conurbação, onde as autoridades políticas serão conhecidas pelo vulgo.
   Esta tem sido a nossa sina...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

complemento do post anterior: Joe Cocker in Berlin...






                                                      https://youtu.be/gQLtCoh5EaI


ESTRANHAS MEMÓRIAS... revisitando...



Estranhas Memórias (II) em Abril de 2013.
(Marcos Bayer)
E a onda bateu e voltou…

A onda que se formou no pós-guerra de 1945, foi uma onda de completa reavaliação da vida humana associada. A Renascença Italiana, 500 anos antes, impondo uma reflexão no Ocidente sobre o fim das trevas e o início das grandes navegações e dos novos mundos recém-descobertos: As Américas do Norte, Central e do Sul.

Na segunda metade do século XX, nasceu a geração mais livre e mais crítica da história humana. Uma geração que questionou com Erich Von Daniken se os deuses eram astronautas. A geração que ouviu de John Lennon a frase: Somos mais famosos do que Jesus Cristo. Uma geração que ousou, quebrou regras, paradigmas, mudou hábitos, ensinou o diálogo com os pais, perguntou onde vamos colocar nosso lixo – até então lançado em qualquer matagal – como vamos morar uns em cima dos outros, pois os edifícios eram fenômeno mundial havia 30 ou 40 anos... Quais roupas usaremos? E que sociedade queremos? (uma casa no campo onde eu possa compor muitos rocks rurais). Que educação necessitamos?
Em Paris a manifestação dos estudantes em Maio de 1968, aqui a Tropicália, nos EEUU os protestos contra a guerra no Vietnã. Glauber Rocha e o cinema novo. Hair e Jesus Christ Super Star. O perigo na guerra nuclear no Hemisfério Norte, Luiz Gonzaga em Asa Branca no Hemisfério Sul.
Ernesto Geisel e o trem bala do Japão. Mortes e torturas pelas idéias. Chico Buarque canta Reconstrução. Caetano fala da piscina, margarina, da Carolina, da gasolina… Eu vou ao Baturité e depois na Kizumba ouvir George Benson cantar Lady Blue. “When you show me a different side… Because I love you more and more…”. Uma geração libertária que queria um mundo melhor. Em 1981, o Senador Ted Kennedy discursava nos jardins da University of Southern California e pedia aos governos, americano e soviético, o: Nuclear Freeze.
Aqui, em 1984, dignos senadores organizavam o movimento político das Diretas Já.
O Brasil começa a viver a abertura política...
Às drogas da década anterior, a maconha e o álcool, especialmente, são adicionados os barbitúricos e a cocaína. Depois vem o ecstasy e o crack final. Tudo fica punk.

Um sonho de paz e amor, do tamanho de uma geração, santa geração, é substituído pelo pragmatismo econômico que vem com a queda do Muro de Berlin, 1989, e com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Garotos focados (não sabem no que), ternos iguais com gravatas sem cor, botões fechados próximos aos pescoços, executivos sem sonhos coletivos que aprendem a roubar desde cedo.

Mobilidade urbana, modais, gestão otimizada, sushi & sashimi, kite surf e narguilé. É muito pouco em troca de uma liberdade que não terminava no horizonte, de um velho calção de banho, de um dia para vadiar, de um mar que não tem tamanho e de um arco-íris no ar… Canta Vinícius teu lindo mar de Itapoã, falar de amor Itapoã…

Sociedade de criatividade escassa, talentos represados, contidos nas magníficas telas de PC. Diferente da bárbara bela tela de TV que cantava Gilberto Gil.

Genética, profética, cibernética civilização. A cada dia me despeço da vida. É muita coisa para guardar dentro do meu eterno peito juvenil…
E a consciência da minha finitude estrangula minha garganta.
Logo ela que tanto bradou!!!

The end...