O pêndulo da suspeição
Marcos Bayer
Por agora, vamos falar de conceitos e deixar os
números para depois.
O país vive um momento de crise e nela temos que
encontrar soluções. Isto é tão obvio quanto o diagrama chinês da
crise/oportunidade.
Não restam dúvidas de que temos que discutir e
aprimorar o sistema previdenciário e as relações de trabalho e capital. No
mundo inteiro se faz isto, de uma maneira ou de outra.
Não há dúvidas de que as populações mundial e
brasileira crescem e aumentam os anos de vida. Maravilhas da ciência, da
medicina e da evolução.
Mas, o pano de fundo é sempre a relação capital e
trabalho. Relação milenar, aliás.
Observem os movimentos deste governo federal, vice
da presidente afastada do cargo por razões sabidamente conhecidas.
A CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF, instituição
financeira pública, libera as contas inativas do FGTS para milhões de
brasileiros, sob o argumento de que injetará recursos na economia para, de
forma Keynesiana, movimentá-la.
Este fundo (FGTS) que deveria ser uma
garantia/poupança na aposentadoria tem um rendimento pífio, menor do que
qualquer aplicação financeira no país. Além de ser a mola mestre para financiar
a construção civil de várias escalas.
As reportagens dos telejornais informam que a
maioria das pessoas utilizará o dinheiro liberado para pagar dívidas. Logo, o
que estamos vendo é mais uma transferência de capital da banca pública para a
banca privada. Mas, supondo que as dívidas fossem majoritariamente com a banca
pública, CEF e Banco do Brasil, ainda assim é uma transferência de capital
pouco remunerado no FGTS para quitar dívidas de capital com juros altíssimos. Os
juros dos empréstimos pessoais, consignados em folha, cartões de crédito,
cheques especiais e outros mais.
Além disto, depois da suspeição levantada pela lista
do procurador geral da República, Rodrigo Janot, oitenta e três pessoas, entre
elas, seis ministros de Estado, dois ex-presidentes da República, ex-presidente
e atual do Senado Federal, atual presidente da Câmara dos Deputados, senadores,
governadores e deputados federais, fazem parte do conjunto político que
pretende decidir sobre duas matérias essenciais à vida dos brasileiros:
previdência e relação trabalho/capital.
Com qual autoridade política ou moral, poderão eles
dizer à nação façam isto ou aquilo? Trabalhem 49 anos e aposentem-se aos 69.
Contribuam e recebam dois ou seis salários mínimos e nós receberemos 30
salários...
A atividade política é nobre e necessária. Sem a
política não há sociedade organizada, não há avanço, não há esperança.
Mas, das duas uma: Ou o Ministério Público Federal
está enganado ou o nosso Congresso Nacional está podre.
Ou ainda, o sistema político brasileiro está podre
em todos os níveis de jurisdição. Ou eu estou doido?