APURUNDASO*
Marcos Bayer
Bom dia general Mourão! Aproveito sua
demonstrada capacidade para dialogar com a sociedade, sempre bem humorado e
interessado em soluções. O fato de gostar de ler é um bom sinal para quem
governa.
Homens inteligentes sabem receber críticas
e sugestões, aproveitando delas o que lhes cabem.
Gostaria de registrar duas sugestões.
A primeira sobre a velocidade da Justiça no Brasil. Democracia e justiça andam
juntas ou não existem. Não é aceitável conhecer o resultado das eleições
nacionais em algumas horas após e fechamento das urnas e esperar por cinco ou
dez anos por uma sentença judicial definitiva. O sistema judiciário é lerdo
porque o Juiz não tem prazo para julgar. O Código de Processo Civil fala em
prazo razoável. Quanto é razoável? Os advogados têm prazos, os promotores
alguns prazos. Os Juízes, não. E há boa vontade da maioria deles. Mas, não há
regra. E sem regra... Veja no próprio Supremo Tribunal Federal. Quantos
processos parados. Quantas vidas angustiadas, quanta riqueza parada, quantos
negócios interrompidos aguardando uma sentença. No chamado primeiro mundo, o
cidadão tem o direito de votar e ser votado, mas também tem o direito de saber
do seu Direito. A tal da segurança jurídica que os estrangeiros reclamam do
Brasil, é isto: Prazo para julgar. Só para exemplificar, a lei
poderia determinar ao Juízo, trinta dias para conhecer a petição inicial, mais
trinta para a contestação, outros trinta para a impugnação, igual tempo para a
audiência de conciliação e, finalmente, mais trinta dias para a sentença de
primeiro grau. Todo brasileiro teria em cento e cinqüenta dias uma sentença na
mão. No segundo grau, prazo similar. A sociedade não pode esperar pelo Direito
como espera no Brasil. Acho que o ministro Sérgio Moro pode opinar sobre o
assunto, pois foi capaz de acelerar o andamento processual para obter os
resultados que obteve na Operação Lava Jato.
Todas as demandas judiciais que
decorrerão da tragédia de Brumadinho cairão na vala comum dos prazos judiciais.
Outro assunto é da alçada do ministro
Paulo Guedes.
Após o encaminhamento das reformas da
previdência e tributária, cujos termos ainda não conhecemos, haverá que
enfrentar a isonomia salarial no serviço público federal e vincular aos estados
e municípios. Temos as castas compostas por magistrados, promotores, fiscais de
renda, delegados, diplomatas, parlamentares e outros que ganham mais. E os médicos,
professores, dentistas e engenheiros que ganham menos. Neste meio, presumo, estão
os militares.
Impossível construir uma sociedade
onde as diferenças salariais, no setor público, sejam tão gritantes. Pela lógica,
o professor deveria ter a melhor remuneração. Afinal, ele é quem forma os
outros profissionais. Seria interessante conhecer a estrutura salarial de
cargos públicos em países como Alemanha, Dinamarca, Reino Unido, Suécia e França
para comparar.
No Brasil o salário mínimo é de mil
reais e o do parlamentar que vota este salário é quarenta vezes maior. É este
mesmo parlamentar que vota a renúncia fiscal, dada a inúmeros setores da
economia, no valor de R$ 354,7 bilhões em 2017. Sabe Vossa Excelência que
nessas renúncias não há fiscalização dos resultados, o trigo e o joio estão
juntos, além de ser uma moderna fonte de corrupção e 84% delas é por prazo
indeterminado. Os beneficiados contemplam seus representantes políticos de
alguma forma. Então, podemos dizer que dinheiro tem. Só que é distribuído de
maneira pouco decente.
Afora isto, imagino que o senhor já
tenha percebido a Chancelaria ser contraria ao globalismo enquanto vamos ao Fórum
de Davos dizer ao mundo que queremos capital e investimentos. Mas, isto se
corrige no curso do processo. Assim como nossas goiabeiras estarão sempre
verdejantes. As vermelhas e as brancas!
Sucesso na jornada!
*Expressão militar que
significa apurar e punir se for o caso.
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