sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Passando a régua

A votação que absolveu o senador Renan Calheiros das acusações escancaradas pela imprensa nacional tem um tempero especial na história da recente democracia brasileira, reabilitada em 1989, após o golpe militar de 1964. Indica que o Brasil ainda é um país muito corrupto, especialmente na constituição de sua classe política.
Embalados pela necessidade de ascensão social, na maioria dos casos, nossos representantes vêem na atividade política uma forma de enriquecimento rápido.
De outro lado, aqueles que são herdeiros de patrimônios políticos se corrompem para garantir a manutenção e a transmissão do poder aos seus sucessores.
Outros que chegaram ao poder em nome da decência e da transparência, agora envergonhados, admitem pela omissão ou pela abstenção que não estão convencidos da culpabilidade do senador alagoano.
Ora, o julgamento do plenário do Senado da República não era um julgamento baseados nos códigos constitutivos da ciência do Direito. Tratava-se de um julgamento político. O que estava em discussão era a conduta política do senador e não suas atitudes pessoais julgadas sob a ótica do direito civil ou penal. O plenário votou por sua absolvição porque a maioria de seus membros está acorrentada às práticas de corrupção.
Não bastam os honorários, as facilidades operacionais intrínsecas aos seus gabinetes de trabalho, suas assessorias de livre nomeação e, sequer, o valor da honra do cargo mais nobre da República.
Um senador é um guardião dos interesses da pátria e de seus cidadãos.
O que aconteceu em 12 de setembro de 2007 é mais uma mancha na história da política brasileira. O exemplo dado, sobretudo aos mais jovens, é o de que não vale a pena acreditar na decência, na retidão, na ética e na honra.
Mas, o pior desta lamentável votação é a postura de partidos que fizeram parte da redemocratização nacional, após 1979, quando ocorreu a anistia no Brasil.
O PMDB e o PT foram dois dos partidos que empolgaram multidões fazendo crer na possibilidade de uma vida institucional estável, de práticas políticas mais dignas e da recuperação do sentimento de justiça e honestidade entre os brasileiros.
A eleição presidencial de 1989, aquela em que Fernando Collor derrota um líder sindical, coincide com a queda do muro de Berlin e, consequentemente com a vitória do mercado sobre o estado. Os atuais democratas, sucessores travestidos dos liberais, são hoje esmagados pelas mesmas práticas corruptas que no passado recente tanto indignava os atuais donos do poder.
A política nacional, hoje, é um balcão de negócios menos ético do que os balcões dos armazéns anteriores à globalização. Sendo que estes existiam para praticar atos de comércio, enquanto ela deveria existir para construir um país mais decente e capaz de melhorar a vida de seus cidadãos.
A política também foi engolida pelo mercado. E o mercado não tem responsabilidades com os cidadãos. Apenas, quando tem, com os consumidores.

Nenhum comentário: