segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

La Concertación


O Chile, nosso vizinho mais adiantado sob todos os aspectos, foi capaz de criar através de suas forças políticas, um movimento partidário de centro – esquerda para vencer as eleições nacionais (plebiscito) e derrubar definitivamente a ditadura, e o que dela sobrara, do general Augusto Pinochet...
A intenção foi acabar com a tortura, com julgamentos em tribunais de exceção, com a utilização do Estado para enriquecimento pessoal, com o apadrinhamento, com a burocracia viciada e inerte da administração pública e com a própria imagem de país ditatorial e corrupto que ultrapassava fronteiras e difundia-se pelo mundo... Desde 1989 os chilenos têm sido vitoriosos em sua Concertación...
Aqui em Santa Catarina, desde 2002, um movimento político, pretendendo ser uma “concertácion”, reuniu partidos de centro, esquerda e de direita, e, construiu um grande consórcio de poder... “El Consórcio...”.
Consórcio invertido, verdade seja dita.
Todos sabem que num consórcio, muitos pagam mensalmente uma quantia determinada para que um contemplado mensal receba o prêmio ou a coisa, que é o esforço de todos.
Aqui, no consórcio catarinense, muitos recebem mensalmente algumas vantagens, às vezes duvidosas, para que poucos sejam contemplados com um quinhão mensal. Pode ser pela via publicitária, pelo exercício dos vasos comunicantes dos fundos sociais e esportivos, pelas licitações não realizadas e ou direcionadas...
Alguns casos vêm à tona, como o do “expert” tributário Aldo Hey Neto, competente rapaz de origem desconhecida que deu um pequeno susto no governo com suas operações fazendárias de concepção, digamos, extravagante.
Foi preso com a boca na botija pela Polícia Federal e deve estar respondendo ao processo conseqüente.
Há outros casos mais complexos, alguns tramitando no Tribunal de Contas ou na Procuradoria Geral de Justiça, e, ainda, na Procuradoria da República.
Vários membros do consórcio, alguns afastados por necessidade social, dão mostras claras e evidentes de “riqueza recente”...
Arenas metálicas em balneários conhecidos, conferências de cunho ambiental e alcance universal, cartazes promocionais de cantores de fama internacional espalhados pela cidade-capital, peças publicitárias com preços módicos, diárias descentralizantes e operações vinícolas de fronteira... Algumas causando “infartos” prematuros...
No grande consórcio catarinense até a agroindústria ajuda nas “concertaciones” judiciais em Brasília. A capital-mãe da corrupção nacional.
A capacidade do consórcio é elástica: a cada necessidade de uma nova “concertación” os laços pecuniários são ampliados para que, como coração de mãe, sempre caiba mais um...
E assim, por toda Santa Catarina, “la concertación” produz desenvolvimento, integração, alegria e satisfação para os membros do grande consórcio.
O MDB, partido comandante do grande consórcio, nasceu na política brasileira para moralizar as práticas do então regime ditatorial. Nasceu para democratizar o Brasil e construir uma nação mais justa sob vários aspectos.
Uma das bandeiras do velho MDB era a luta contra a corrupção.
Com o tempo o partido foi apodrecendo e de sua costela surgiram outras agremiações, entre elas o PSDB, a pretendida parte sadia do antigo movimento.
Os mais velhos, aqueles que acompanham a política nacional desde 1964, sabem como foi esta trajetória.
O que espanta no cenário catarinense é a letargia das classes empresarias, dos pequenos aos grandes, que embora trabalhem com a costumeira competência característica do setor produtivo estadual, observam calados os custos destas operações de duvidoso proveito coletivo.
Os professores, policiais, magistrados, advogados, engenheiros e agricultores, e todos os homens que sabem de suas responsabilidades profissionais devem estar atônitos com os rumos deste grande consórcio que envergonha Santa Catarina...
Enquanto o agricultor acorda de madrugada para cuidar da roça e dos seus animais, o governo viaja ao exterior sem saber o que deve fazer, gastando com comitivas avantajadas os recursos que faltam aos outros setores da Administração.
Não é lícito, nem compreensível que se leve uma semana na Arábia para entregar uma carta convite e participar de uma reunião de trabalho. Uma semana às expensas dos cofres públicos significa dinheiro suficiente para patrocinar os prêmios de vários campeonatos de biriba e o consumo correspondente de álcool, caso esta modalidade esportiva fizesse parte dos Jogos Abertos estaduais.
Mas, como nas pragas do Egito, na política também temos períodos de gafanhotos devoradores de plantações...
Na medida em que a sociedade e a imprensa aceitam e participam da farra dos faraós, os mais novos perdem o interesse pela política e pensam que o exercício do poder é uma brincadeira indecente de enriquecimento fácil.
Resta, então, aos protagonistas destes comportamentos que debilitam a honra e a grandeza da atividade política, o sorriso falso ou forçado, de acordo com a conveniência do momento...


* publicado no Jornal AN, dia 13 de Fevereiro de 2009.







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