sexta-feira, 6 de abril de 2012

Wind and leaves...



Dimensões e tempos

Marcos Bayer

E desde os primeiros tempos o homem havia que se submeter ao tempo. Um tempo para plantar, um tempo para colher. A gestação de uma mulher, de um animal e o tempo para chocar o ovo da águia ou da serpente. Durante anos houve a submissão ao tempo e às dimensões. Todo o período chamado de revolução agrícola foi marcado pela espera do tempo. As estações do ano, as temperaturas equivalentes, a germinação, floração, crescimento e colheita. Não se podia intervir no clima, mas aceita-lo e ou criar formas rudimentares de proteção. O tempo era senhor dos nossos destinos. Guerras foram calculadas em razão dos movimentos climáticos do tempo.

A velocidade era a determinação dos passos, da potência da tração dos animais, dos músculos dos remadores ou da força dos ventos.

Arte e Ciência, embora dividas na Grécia antiga, foram reaglutinadas nas construções góticas do século XIV. Entenderam os arquitetos de então que uma dependia da outra. O cálculo suportava a forma. E o Renascimento festejou em sua plenitude esta feliz ideia entre dois conceitos com a mesma gênese.

A Revolução Industrial inicia uma dissociação entre dimensão e tempo, entre arte e ciência. Até a chegada da revolução digital, assistimos avanços nos métodos produtivos e, simultaneamente, a aceleração do tempo aliado às modificações genéticas. Frangos podem ser abatidos em 40 dias. Um século antes esperavam 180 dias pelo abate.

A era virtual acelera o tempo numa explosão de informações, aceleração total em todas as formas de comunicação, oferecendo ao homem o anonimato, o distanciamento físico e a submissão muda aos comandos dos sistemas operacionais.

Os sistemas não leem emoções nem respondem aos sentimentos.

Observar a queda das folhas e a mudança da coloração nas árvores não tem mais sentido.

Na tela do computador temos todas as florestas do planeta e um zilhão de fotografias.

No filme American Beauty, 1999, de Sam Mendes e Allan Ball, há uma cena sobre a dimensão e o tempo, cuja percepção foi perdida nas ultimas décadas.

A aldeia global de Mc Luhan (1911-1980) e 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968) de Stanley Kubrick foram antecipações fenomenais da relação do Homem com o binômio: dimensão e tempo.

Não nos cabe julgar o caminho do homem. Ele será, inexoravelmente, o que conseguir ser. Mas, todas as condições objetivas para a percepção das novas relações com a dimensão e o tempo já são perceptíveis.

Em sua essência será sempre o mesmo homem. Com capacidades sensoriais infinitas.

Apenas o afastamento da Natureza será maior. A própria Natureza será modificada, em parte aniquilada, como se observa.

Teremos especialistas cada vez mais específicos. Especifistas, eu diria. Teremos mais pressa. A política refletirá este novo homem moderno, ágil, pragmático como os funcionários dos bancos obrigados às metas diárias de captação financeira. Este novo tipo de ladrão que vemos todos os dias nos telejornais. Os que roubam em nome da nação. A política é sempre o reflexo de uma sociedade.

Conseguimos criar uma sociedade planetária lastreada na eficiência, eficácia, produtividade e outros conceitos cuja visão imediata é a produção aumentada. Contudo, a consequência é a desorientação absoluta sobre a condição humana.

Estamos concebendo incontáveis sistemas de exploração social. Desde o sistema público de saúde até os sistemas previdenciários. Estamos usando, com uma competência invejável, a dimensão virtual para aprisionar o homem dentro de sua própria mente...

A liberdade será restrita ao teclado cuja consequência última poderá ser o Universo.

E todos se acreditarão livres...

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