O bicho da
seda
Marcos Bayer
Quando John Maynard Keynes auxiliou o governador de
New York, Franklin Delano Roosevelt, na sua pretensão à Casa Branca, em 1932,
ele estava ajudando a salvar o sistema capitalista, a conter o regime comunista
na URSS e a criar as bases de um sistema, social democrático, o mais perfeito
até hoje na experiência humana, adotado na Europa pós-guerra. Pela via
tributária fazem-se as correções entre pobres e ricos, limitam-se as diferenças
entre o máximo e o mínimo salário pago pelo poder público e mantém-se o
equilíbrio da atividade econômica.
Era a seda do tecido econômico. Suave, leve, lisa e
solta...
Aí, claro, veio o bicho. Gente que não sabia produzir
no sistema econômico convencional, gente menos apta, gente inescrupulosa.
O Estado, afora exceções, em especial na América
Latina, serviu de deposito para todas as incompetências e oportunismos. Os
liberais, e não estou falando de partido político, encontraram no Estado a
fonte da fortuna.
Negociar com o Estado, seja no fornecimento de água
mineral ou de petróleo prospectado é uma dádiva. Invariavelmente o Estado
corrompido por seus agentes políticos faz enriquecer terceiros interessados.
Este Estado tão combatido, chamado de inoperante,
gorduroso e ineficaz é a vaca sagrada de muita gente. Gente grande e gente
pequena...
Vamos assistir em futuro breve, a mais uma garfada
contra o Estado.
A empresa HANTEI anunciou durante o período eleitoral,
numa audiência pública, conduzida pela FATMA, sua intenção em construir o HOTEL
MARINA PONTA DO CORAL.
Como a área existente só tem 15 mil m2 propôs-se a
construção de um aterro de mais 35 mil m2, sobre as águas sujas da Beira Mar
Norte, anexando uma a outra. Só para saber, 35 mil m2 de terras ali naquela
região, valem R$ 70 milhões de reais.
Então, o Estado dará de presente R$ 70 milhões para os
donos do Hotel.
Só que agora, através do jornalista Cacau Meneses –
DC, tomamos conhecimento de que o interessado no hotel é um grupo estrangeiro,
e que desde a campanha eleitoral recente, o governador tinha conhecimento do
fato.
Possivelmente a HANTEI apenas faz a intermediação
entre os donos da Ponta do Coral (com 15 mil m2 de terras), os promotores da
obra do aterro de 35 mil m2 sobre o mar e o licenciamento perante a burocracia
estatal.
Ora, ninguém é contra um ou dois hotéis. O que se deve
esclarecer é que através do Estado, alguém pretende aterrar mar, doar a um
terceiro interessado, viabilizar terra existente e escassa e fazer lucro...
A desculpa de que haverá área pública é vazia. O
Estado pode indenizar a área existente pelo preço de mercado e fazer suas
praças e outros tantos equipamentos exatamente como prevê a HANTEI. Ou até
melhor...
Quanto aos grupos estrangeiros que venham e comprem
terrenos onde encontrarem e construam seus hotéis. Que gerem empregos e paguem
tributos.
Agora, fazer fortuna sobre o mar sujo não parece
correto.
O governador e o próximo prefeito devem aos cidadãos
uma explicação.
Ou então, voltamos à velha história do bicho da
seda...
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