O estado geral das
coisas em Santa Catarina
Marcos Bayer
Dito foi, tempo faz, que Santa Catarina caminha por suas
próprias pernas e que bem governá-la é apenas um exercício de talentos e
inspirações. O governo não pode atrapalhar sua magnífica capacidade de
expansão, sua criatividade, sua sinergia...
Deve apenas apoiar, corrigir desvios e oferecer a
infra-estrutura intrínseca ao dever de governar.
Desde 2003, no entanto, visões míopes e infelizes mandatários
corromperam o processo político de tal forma que a recuperação custará esforço
redobrado. O Estado passou a ser organizado para beneficiar determinadas
classes, com salários e vantagens, colocando professores, bombeiros e médicos
no extremo oposto da serventia pública. Este doce veneno que desequilibra
salários e funções, cria castas arrogantes e improdutivas ao desenvolvimento do
povo catarinense.
Há um conluio tão bem forjado que os partidos políticos
pensam numa aglutinação totalitária para disputar as eleições deste ano contra
o povo.
O PMDB, o PSD, o PT e o PP se espremem no famoso “três em um”
tentando acomodar quatro aspirações em três cargos.
Isto é tão nefasto ao processo democrático que o próprio
PMDB, carro chefe desta estapafúrdia engrenagem, começa a tomar consciência do
logro proposto.
Esta convivência compartilhada sem a vigilância própria da oposição
política permite pequenos negócios entre famílias até grandes desfalques em
terra, mar e ar. Estradas, pontes e helicópteros para exemplificar.
O prazer passageiro do automóvel novo e da janela emoldurada
pelo alumínio escovado dá aos velhos um sentimento de conforto e aos novos a
dúvida da retidão do caráter. Dúvida perigosa a todas as tribos ao longo da
História.
A imprensa mais exposta noticia que não há crise em Santa
Catarina, mas um surto de desenvolvimento com safras imensas, empresas novas e
outros recordes.
O mesmo jornal, no mesmo dia, dá conta do prejuízo aos avicultores
do Oeste que perdem até 30 mil aves por semana em razão das quedas no
fornecimento da energia elétrica.
Há uma esquizofrenia administrativa onde a propaganda oficial
e regiamente paga mostra o governador vaqueiro pescando trutas negras em suas
Coxilhas Ricas. Quando vaqueiros trocam seus cavalos pelas trutas negras (black
bass), Hollywood muda seus paradigmas.
É um governo que reforma escolas por determinação do
Ministério Público e as anuncia como se fossem capricho conceitual.
Não me peçam provas que estão nos processos judiciais e
administrativos. Não me peçam fotos de encontros não havidos no exterior. Não
me peçam senão o comprometimento da palavra escrita e publicada, mais eficaz do
que os sussurros íntimos cambiáveis a cada momento oportuno.
Este é o quadro em que nos movimentamos.
A Política não se organiza em torno do sublime, mas do
possível.
E queiramos ou não, neste momento, só um cidadão é capaz de
mudar os rumos da História de Santa Catarina.
Duas vezes prefeito, duas vezes governador, senador da
República, deputado federal e candidato à Presidência do Brasil.
Ele reúne qualidades intelectuais e administrativas. Possui disposição
física e vontade psíquica, autoridade política e moral para organizar um
movimento de transformação em nossa sociedade.
Se olharmos para a questão das águas, doces ou salgadas, vemos
os mananciais desprotegidos, as nascentes descuidadas, a mata ciliar
danificada, rios poluídos desaguando esgoto não tratado em nossas praias. Só
este aspecto é digno de uma restauração sem precedentes, pois coloca nosso
futuro comum em jogo.
Para obter êxito qualquer processo necessita de um conjunto
de forças capaz de mobilizar a sociedade, convencer desavisados e entusiasmar a
maioria.
Pode o PP encabeçar o movimento, cabe ao PSB apresentar seu
vice-governador e ao PSDB, finalmente, entender sua importância política nesta
fase e demonstrar grandeza ao oferecer um nome ao Senado da República.
Ou conseguimos um entendimento entre os homens interessados
no futuro de Santa Catarina ou navegaremos em águas fétidas, mais uma vez.
Afastando aspectos periféricos de nossas personalidades,
agradáveis ou não, vamos ao cerne de nossos homens públicos e lá encontraremos
as soluções.
Não há outro caminho, senão a mudança competente daqueles que
quando perdem voltam à Universidade para estudar, aprender e ensinar.
Coisa que muitos outros não fazem nem antes e nem depois das
derrotas eleitorais. E de analfabetos políticos monossilábicos não precisamos
mais...
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