O Vento Sul
Marcos
Bayer
O velho vento vagabundo, vindo do quadrante sul,
passou pela Ilha de Santa Catarina e por boa parte de Santa Catarina, como
previu Cruz e Sousa, autor catarinense pai do poema. Já no primeiro turno das
eleições, varreu do mapa alguns nomes conhecidos do eleitorado barriga-verde.
“Velho vento vagabundo
No teu rosnar sonolento
Leva longe este lamento
Além do escárnio do mundo”
Escárnio que boa parte da classe política fez sobre a
população. De tão acostumados ao impróprio, pensavam que passariam incólumes
mais uma vez despercebidos.
Alianças tão desconexas, a não ser que seja pelo gosto
ao poder, como a de Angela Albino do PC do B com Gelson Merisio e Raimundo
Colombo do PSD, quer dizer, do DEM, quer dizer do PFL, quer dizer do PDS, quer
dizer da ARENA, não frutificaram.
O povo votou com uma fúria cívica impressionante. Os
números finais para a escolha do governador são, em valores percentuais, 71 a
29, pró Moisés, candidato de Jair Bolsonaro e do PSL. Até então, a
maior diferença havia sido entre Amin e Paulo Afonso, em 1998, quando o placar
foi de 58 a 23, pró Esperidião eleito no primeiro turno.
Parte da imprensa reclama das Fake News. É verdade,
elas existem! Mas, as piores fake news são da própria imprensa,
ou de parte dela, quando acobertam os diferentes roubos do dinheiro público,
seja por licitações viciadas, seja por termos aditivos contratuais, seja pelo
que for. E noticiam virtudes que não existem em algumas figuras públicas.
Não há duvida que a tentativa de venda de 49% das
ações da CASAN em 2011, rapidamente abortada, mesmo com aprovação da Assembleia
Legislativa, influenciou no resultado desta eleição. Através do Whatsapp,
circulou a informação de que o “cunhado” teria recebido meio milhão de reais
para facilitar os trâmites na ALESC.
Também o governador de então foi citado na delação de
Fernando Reis da Odebrecht. O que salvou a pele de alguns foi o deslocamento da
matéria do STF para o TSE, em razão da desistência da operação. Salvou a pele,
mas não garantiu um novo mandato.
Nem mesmo a ajuda da senadora Ana Amélia Lemos
(PP/RS), nossa vizinha e candidata derrotada na chapa de Alckmin (PSDB) alterou
o resultado.
“És como um louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças”
O povo resolveu dar um basta!
Não sabemos o que será dos próximos governos nacional
e estadual. Mas, os eleitos entenderam o recado das urnas.
O ciclone anunciado, com ventos de 100 km/h, que
passaria ontem por Santa Catarina, passou. Foi denominado Gelson. Fraco, não
fez marola nem para as baleeiras.
“Que lembras os dragões convulsos
Bufantes, aéreos, soltos
Noctambulamente revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.”
Cruz e Sousa
As pessoas não suportam mais a corrupção, seja de que
lado for. Os impostores, de ambos os lados, ou de todos os lados, não convencem
mais. O cidadão quer serviços públicos decentes, quer agilidade, quer
resultados. De uns tempos para cá, governar passou a ser sinônimo de negociata.
Desde a compra do cafezinho até a obra de maior porte. A sociedade conectada
criou seu próprio mecanismo de informação. Com ou sem fake news, a sociedade
digital cria suas próprias pautas.
Com os Blogs, Facebook, Whatsapp, Instagram, Twiter, e
outros por vir, cada um de nós será seu próprio jornalista e terá seu próprio
jornal. Não há como controlar esta nova etapa da comunicação humana. Está mais
do que na hora de compreender que o exercício de mandato ou função pública é
honraria e não “lavanderia”.
O próximo governador, Moisés, terá que mostrar serviço
e as tábuas da salvação. Caso contrário, não haverá uma nova força política em
Santa Catarina. E na sucessão em 2022, teremos na linha da disputa, Jorginho
Melo com os votos do MDB, Ângela Amin com sua inegável experiência em dois
mandatos na prefeitura da Capital, alguém dos novos ainda não revelados e
Esperidião Amin, que poderá ser o presidente do Senado Federal, por mérito ou
antiguidade. Ambas as situações lhe cabem.
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