quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O Vento Sul




O Vento Sul
Marcos Bayer

O velho vento vagabundo, vindo do quadrante sul, passou pela Ilha de Santa Catarina e por boa parte de Santa Catarina, como previu Cruz e Sousa, autor catarinense pai do poema. Já no primeiro turno das eleições, varreu do mapa alguns nomes conhecidos do eleitorado barriga-verde.
“Velho vento vagabundo
No teu rosnar sonolento
Leva longe este lamento
Além do escárnio do mundo”
Escárnio que boa parte da classe política fez sobre a população. De tão acostumados ao impróprio, pensavam que passariam incólumes mais uma vez despercebidos.
Alianças tão desconexas, a não ser que seja pelo gosto ao poder, como a de Angela Albino do PC do B com Gelson Merisio e Raimundo Colombo do PSD, quer dizer, do DEM, quer dizer do PFL, quer dizer do PDS, quer dizer da ARENA, não frutificaram.
O povo votou com uma fúria cívica impressionante. Os números finais para a escolha do governador são, em valores percentuais, 71 a 29, pró Moisés, candidato de Jair Bolsonaro e do PSL. Até então, a maior diferença havia sido entre Amin e Paulo Afonso, em 1998, quando o placar foi de 58 a 23, pró Esperidião eleito no primeiro turno.
Parte da imprensa reclama das Fake News. É verdade, elas existem! Mas, as piores fake news são da própria imprensa, ou de parte dela, quando acobertam os diferentes roubos do dinheiro público, seja por licitações viciadas, seja por termos aditivos contratuais, seja pelo que for. E noticiam virtudes que não existem em algumas figuras públicas.
Não há duvida que a tentativa de venda de 49% das ações da CASAN em 2011, rapidamente abortada, mesmo com aprovação da Assembleia Legislativa, influenciou no resultado desta eleição. Através do Whatsapp, circulou a informação de que o “cunhado” teria recebido meio milhão de reais para facilitar os trâmites na ALESC.
Também o governador de então foi citado na delação de Fernando Reis da Odebrecht. O que salvou a pele de alguns foi o deslocamento da matéria do STF para o TSE, em razão da desistência da operação. Salvou a pele, mas não garantiu um novo mandato.
Nem mesmo a ajuda da senadora Ana Amélia Lemos (PP/RS), nossa vizinha e candidata derrotada na chapa de Alckmin (PSDB) alterou o resultado.
“És como um louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças”
O povo resolveu dar um basta!
Não sabemos o que será dos próximos governos nacional e estadual. Mas, os eleitos entenderam o recado das urnas.
O ciclone anunciado, com ventos de 100 km/h, que passaria ontem por Santa Catarina, passou. Foi denominado Gelson. Fraco, não fez marola nem para as baleeiras.
“Que lembras os dragões convulsos
Bufantes, aéreos, soltos
Noctambulamente revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.”
                                                                             Cruz e Sousa

As pessoas não suportam mais a corrupção, seja de que lado for. Os impostores, de ambos os lados, ou de todos os lados, não convencem mais. O cidadão quer serviços públicos decentes, quer agilidade, quer resultados. De uns tempos para cá, governar passou a ser sinônimo de negociata. Desde a compra do cafezinho até a obra de maior porte. A sociedade conectada criou seu próprio mecanismo de informação. Com ou sem fake news, a sociedade digital cria suas próprias pautas.
Com os Blogs, Facebook, Whatsapp, Instagram, Twiter, e outros por vir, cada um de nós será seu próprio jornalista e terá seu próprio jornal. Não há como controlar esta nova etapa da comunicação humana. Está mais do que na hora de compreender que o exercício de mandato ou função pública é honraria e não “lavanderia”.
O próximo governador, Moisés, terá que mostrar serviço e as tábuas da salvação. Caso contrário, não haverá uma nova força política em Santa Catarina. E na sucessão em 2022, teremos na linha da disputa, Jorginho Melo com os votos do MDB, Ângela Amin com sua inegável experiência em dois mandatos na prefeitura da Capital, alguém dos novos ainda não revelados e Esperidião Amin, que poderá ser o presidente do Senado Federal, por mérito ou antiguidade. Ambas as situações lhe cabem.



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