Escassez, Política e
Ecologia.
Marcos Bayer
No mundo econômico existem o lucro, o logro e o caos. As
teorias econômicas relevantes são três: O liberalismo de Adam Smith (1776), o
estatismo de Karl Marx (1848) e a intervenção do Estado na economia de John
Maynard Keynes (1932) quando o então governador do Estado de Nova York,
Franklin Delano Roosevelt, a utilizou para tirar a Bolsa de Valores da crise de
1929 e lastrear sua candidatura vitoriosa à presidência dos Estados unidos. Foi
reeleito em 1936, 1940 e 1944.
Em 1950, nós éramos dois e meio bilhões de habitantes no
planeta. O mundo vivia a guerra fria e as duas superpotências eram os EEUU e a
URSS. A Europa estava sendo reconstruída por causa da destruição da Segunda
Grande Guerra e a cortina de ferro estava sendo pendurada. O Vostok só iria
levar Gagarin ao espaço em Abril de 1961, Neil Armstrong só pisaria na Lua em
Julho de 1969, os Beatles saiam de Liverpol para o mundo e nós ainda não
sabíamos o que era fast-food, um MD-11, Sky Lab, Prozac, Lap Top, Megabytes, i phone,
botox, ecstasy, Bluetooth e pen drive. Muito menos armazenar na Cloud. Nuvem até então, ou estava no céu
ou na cabeça do menino que vivia no mundo da Lua.
O poder político gira em torno das três teorias econômicas
acima, criando algumas variações, como o capitalismo de Estado na China
moderna, mas nada fora desta lógica triangular.
Em alguns países a prática política é mais ou menos decente.
Depende. Países em que a liberdade de imprensa e a sociedade são mais educadas
o controle é maior.
Mas, normalmente o jogo político também é um tripé. O poder
político decide liberar dinheiro acumulado com sacrifício de todos através de
suas instituições, o BNDEs por exemplo, para um conglomerado empresarial, a JBS
por exemplo, para financiar a manutenção do grupo político no poder.
O Brasil viveu por vários anos esta trágica experiência. No
dizer de Lula, desde as capitanias hereditárias. No dizer de outros, mais
recentemente.
Tanto Paulo Guedes, economista e conhecedor da História da
Economia, quanto Sérgio Moro, juiz e talvez jurista, sabem o exato
funcionamento destas engrenagens de poder. Sob este aspecto, o governo
Bolsonaro está muito bem servido. Onyx Lorenzoni, aparentemente um parlamentar
com bom trânsito entre seus pares, parece que vai ter que se explicar um pouco
melhor em razão das mais recentes planilhas de custos da JBS. Se convencer 100%
(cem por cento) estará dentro da meta do presidente eleito.
Aqui em Santa Catarina, a JBS foi financiadora de inúmeros
políticos e perdeu a quase totalidade de seus contatos. O catarinense decidiu,
com fúria cívica, enterrar os que com caras de anjos sugavam recursos da
sociedade com bocas de vampiros.
Sobre o novo governador eleito, muito pouco ainda se pode
comentar.
Mas, voltando ao título do artigo, quase chegando ao ano
2020, vemos um mundo com sete e meio bilhões de habitantes. Aproximadamente
vinte e cinco milhões de pessoas refugiadas, perambulam entre fronteiras
europeias, africanas, árabes ou americanas, buscando trabalho, comida, saúde e
educação, pelo menos.
Quando se discute a reforma previdenciária, no mundo inteiro,
é dentro deste panorama. Mais longevidade, menos gente na ativa contribuindo
para o aposentado. Isto, por si só, estimula o crescimento populacional.
Então, as chamadas carreiras de Estado, como magistratura,
diplomacia, fiscais de tributos e renda, promotores, parlamentares e
conselheiros de tribunais diversos se protegem atrás das leis que concebem,
votam e usufruem. Não por acaso, no
Brasil, a distancia entre o salário mínimo e o salário do ministro é de
quarenta vezes. Isto é no mínimo indecência moral. E é assim que o capital
subjuga o trabalho. Num mundo onde há cada vez mais capital e menos trabalho. O
povo brasileiro, mesmo sem escolaridade suficiente já percebe a hipocrisia dos
que falam em seu nome.
Pequenas modificações no comportamento humano mostram duas
tendências: (1) A passagem do mundo mecânico de Isaac Newton para o mundo do easy
touch, o digital, e suas decorrências. Entre elas a eliminação de
postos de trabalho em escala planetária, visto que um homem pode fazer cada vez
mais. Mesmo na agricultura, um trator atual tem funções e controles que
dispensam o trabalho de outros agricultores.
(2) A otimização dos espaços e custos em todas as áreas da
atividade humana. Desde o Uber que ocupa assentos vazios nos
automóveis, passando pelo Airbnb que ocupa camas vazias, às
compras do e-commerce até às passagens das companhias aéreas que não aceitam
mais reservas, mas apenas a venda imediata on-line. Os espaços de co-working
são outro exemplo.
Ontem, os telejornais comentavam a abertura de um bordel
operado por robôs num país da Escandinávia. Engraçada ou trágica a Inteligência
artificial?
Todos estes detalhes alteram o mundo do trabalho. O trabalho
humano é habilidade que constrói nossa História como também permite desenvolver
ao extremo nossa personalidade. Arbeit, liebe und Gott. Trabalho,
amor e Deus, dizem os alemães.
Some-se aos argumentos, o fato de que aproximadamente três
bilhões de asiáticos, especialmente chineses e indianos, entraram no mercado
mundial nos últimos quinze anos. Isto significa aumento da oferta de mão de
obra e consequente diminuição dos valores dos salários em escala global.
Na Índia, em Bangalore, na estrada que dá acesso a maior
cidade tecnológica deles, está escrito: From handicraft to cybercraft. Do
artesanato à cibernética.
A saída do Reino Unido da União Europeia, mesmo tendo
preservado a libra esterlina, é um fechamento de fronteiras para proteger seus
súditos.
A vitória de Donald Trump significou o mesmo. Com
ou sem Twitter presidencial, os norte-americanos querem de volta seus
postos de trabalho.
Vivemos tempos de escassez. Será constante e contínua. Há
limites no planeta. As jazidas minerais são finitas, a água potável não é bem
cuidada, os espaços prediais ou territoriais, nas cidades, estão cada vez mais
caros.
Em alguns países, na Espanha, por exemplo, o custo da energia
do imóvel (calefação, refrigeração e iluminação) está se aproximando do custo
do aluguel. Isto é outro sintoma de escassez.
Há uma disputa entre desmatar para produzir soja e milho e
transformar em ração para alimentar aves e suínos e pastagem para o gado ou
preservar as florestas para garantir a vida de outras espécies e a própria
água.
Os processos educacionais estão em cheque. Exceto nas
tradicionais escolas britânicas. Talvez, ainda, as melhores do mundo.
E no meio deste mundo tão complexo, eu escuto hoje, o
ex-presidente da República do Brasil perguntar à Juíza: Doutora eu sou dono do sítio ou
não? E ela disse: Isso quem tem que responder é o senhor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário