segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Lebensraum

Lá pelos idos de 1871, à época da unificação da Alemanha sob a inspiração e comando de Bismarck, lebensraum era um popular “slogan” político, usado para justificar a conquista de colônias, a exemplo do que faziam Grã-Bretanha e França, a fim de encontrar “espaço vital” para a expansão germânica. O geógrafo Friedrich Ratzel acabou entrando para a História como autor do conceito, e, Adolf Hitler o utilizou para justificar atos de guerra.
Sem pretender discutir minúcias do conceito, o espaço vital é a condição necessária para a expansão da população humana.
Portanto, enquanto houver solo agricultável, insolação, irrigação e ventilação, deduz-se que a população mundial crescerá.
O fato é que este crescimento, embora contido em regiões semi-saturadas, como a Europa e o Japão – que vivem processos de envelhecimento de suas respectivas populações – faz com que o planeta perca espaços vitais de regeneração, indispensáveis para a sanidade ambiental.
Por outro lado, há um discurso tecnológico-futurista global induzindo as diversas sociedades no sentido de desenvolverem produtos com alto valor agregado, especialmente no campo da informática. E que embutida nesta era da informação estão várias soluções para a vida humana e animal.
Assim sendo, gostaria de fazer uma comparação superficial entre dois espaços geográficos. A Coréia do Sul e Santa Catarina têm áreas equivalentes. A primeira tem 99 mil km2 enquanto a segunda tem 95 mil km2. São 50 milhões de habitantes lá contra 6 milhões aqui, portanto densidades populacionais distintas. São 481 hab/km2 e 62 hab/por km2, respectivamente.
O problema é que a Coréia do Sul deixou de ser uma exportadora de sapatos e tecidos para exportar automóveis, eletrônicos, navios e aço, e mais recentemente, monitores digitais, celulares e semicondutores. Ou seja, alta tecnologia com valor agregado. Isto significa dizer que são grandes consumidores de recursos naturais, especialmente minérios.
Enquanto Santa Catarina tem uma densidade demográfica oito vezes menor, é capaz de produzir mais alimentos e carnes, tanto suína como de aves. Além de produtos têxteis, cerâmicos e metais-mecânico, entre outros.
Porém, expandir a produção de carnes também significa desmatar, visto que é necessário plantar mais milho e soja para o preparo de ração.
Projeções da ONU informam que em 2050 seremos 9 bilhões de habitantes para uma densidade populacional de 68 hab/km2. Numa primeira vista diríamos então que a densidade populacional mundial será ainda muito baixa se comparada à dos sul coreanos, e, equivalente à dos catarinenses, hoje.
Tal quadro induzirá à percepção de que ainda teremos espaços vitais para ocupar, consequentemente, expandir a população. E como o consumo de bens manufaturados é estimulado pela economia de mercado, a extração dos recursos naturais aumentará.
Terras utilizadas na produção de alimentos poderão ser destinadas à produção de energia combustível para suprir necessidades de fábricas que produzem bens com valor agregado que por sua vez consomem energia de combustão. Logo, o ciclo se fecha e se retro alimenta: mais produção, mais extração de recursos naturais, mais energia para combustão, mais solo para plantação de energia combustível.
Falam muito na necessidade de mudança de paradigmas, eco-desenvolvimento e sustentabilidade, mas não se sabe exatamente como fazê-lo.
Talvez estejamos construindo um modelo de sociedade auto-enclausurada e utilitária da Internet, com requintes de artificialidade que vão das rações animais às possíveis rações humanas, passando pela utilização de próteses que remodelam os corpos insatisfeitos e aumentando a automação responsável por legiões de desempregados.
Num momento de crise econômica mundial, vale a pena retroceder a 1973, quando num exercício de ficção, o filme Soylent Green mostrava como os desocupados seriam transformados em alimentos, numa Nova York futura.
O fato é que o preço da terra e dos espaços prediais aumenta em todo o mundo em razão da escassez de lebensraum.
E como os espaços vitais são cada vez mais restritos - inclusive nas relações humanas - a superpopulação, a energia, o ambiente e o trabalho são os desafios da humanidade no século 21.

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