segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Tragédia de SC


A tragédia como a comédia, são dimensões da condição humana.
O que está acontecendo em nosso estado nos últimos dias é a repetição, em maior ou menor escala, da mesma tragédia acontecida outras vezes. Algumas delas ainda na memória de muitos, como as enchentes de 1983/84, no Vale do Rio Itajaí.
Além da dor e da destruição material e emocional de muitas vidas e patrimônios, alguns deles irreparáveis, observamos diferentes brasileiros de todos os cantos, envolvidos numa grande malha de solidariedade humana. Gente pobre que às vezes contribui com muito mais do que gente rica.
Haverá inúmeras explicações para o fenômeno das chuvas desta primavera de 2008, no sudeste brasileiro, especialmente suas conseqüências em solo catarinense.
Dirão alguns que são resultados do aquecimento global que altera as condições climáticas no planeta.
Outros aceitarão como adequações da Natureza, aos processos de intervenção humana, em seus movimentos cíclicos e naturais.
Alguns cobrarão a imprevidência e a negligência dos governos, não só por não terem construído ao longo dos anos sistemas de proteção para casos emergenciais, como também por permitirem ocupações indevidas em áreas de risco.
É possível até que algumas seitas divulguem em seus sermões que a desgraça havida é um aviso dos céus para a indecência praticada pelos homens na terra.
O fato é que nesta tragédia cabe ao Estado, nos três níveis de governo: municipal, estadual e federal, intervir concretamente para restabelecer a normalidade da vida nas comunidades atingidas.
Os primeiros a sofrer são os que perderam familiares e patrimônio diretamente. Mas, sofrerão também inúmeras outras pessoas e atividades econômicas, culturais e sociais.
Os valores financeiros anunciados pelas autoridades constituídas são muito pequenos em relação àqueles que são desviados nas diversas “maracutaias” praticadas pela classe política em sociedade com alguns setores empresariais.
Anúncios ridículos como linhas de crédito para os que perderam suas modestas casas e sobrevivem de salários insuficientes para a dignidade de suas famílias.
Quem poderá pagar um financiamento imobiliário com taxas de juros de mercado depois de perder tudo o que tinha e, talvez até, a esperança.
Quando a civilização propôs a criação do Estado foi, também, para acudir o cidadão nas tragédias coletivas ou individuais.
Perguntem a qualquer grande empresário brasileiro que eventualmente perdesse todo o seu patrimônio industrial ou comercial, além de sua casa, se ele conseguiria recompor sua vida econômica com linhas de crédito que não fossem a fundos perdidos.
Há alguns anos, a JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) propôs estudos ao governo estadual para a construção de um canal extravasor ligando um ponto determinado do Rio Itajaí ao mar na praia de Piçarras. Seria uma forma de aliviar imediatamente as cheias do rio em direção ao oceano. Como faz um menino, ao brincar com as poças d’água, colocando a ponta de seu dedo numa das bordas e cavando a terra para escoar a água concentrada.
O projeto não prosperou por várias razões, entre elas, os possíveis impactos ambientais e, claro, a tradicional corrupção na realização de obras públicas.
Claro que os deslizamentos de terra já não têm relação com as cheias dos rios. Mas, construir sobre as encostas e não providenciar sistemas de drenagem ou contenção é erro primário.
Por último, e mais terrível, a farsa de algumas expressões faciais daqueles que querem a glória em razão da tragédia alheia...
Nossa brava gente, mais uma vez, vencerá.

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