segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O "bum" do Baú

O morro do Baú é o epicentro da tragédia vivida em Santa Catarina nas últimas enchentes desta primavera de 2008.
Não se sabe exatamente porque choveu tanto, num período concentrado, nesta região do Brasil.
As hipóteses vão desde as possíveis mudanças climáticas pelo aquecimento global até a periodicidade natural da queda pluviométrica no Vale do Rio Itajaí.
Mas, há que se diferenciar entre fatos e fenômenos. Chuvas provocam enchentes e alagamentos aqui ou em qualquer lugar do mundo.
Explosões, no entanto, podem ser evitadas ou amenizadas em seus efeitos.
Há uma exigência básica do Corpo de Bombeiros de obrigar a colocação dos botijões de gás de cozinha em áreas abertas, para no caso de explosões acidentais, diluírem ao máximo os danos materiais e salvaguardar vidas humanas e animais.
Dizem os entendidos que os gasodutos devem ser construídos na superfície terrestre e mantidos a uma distância de pelo menos dois metros de altura em relação ao solo. Assim, aparentes e a céu aberto, em caso de explosões os danos são menores.
A Gazprom, empresa russa responsável pela maior exportação de gás natural do mundo, abastece com este tipo de energia vários países europeus, entre eles: Alemanha, Áustria, França, Estônia, Finlândia e Lituânia. Os gasodutos são construídos na superfície. O custo é maior, mas a segurança também.
Na construção do gasoduto Brasil – Bolívia, o nosso Gasbol, optou-se pela construção subterrânea. Era mais barato.
Ainda e de acordo com especialistas, no caso de explosão da tubulação enterrada, a terra estando compactada, absorve e abafa melhor os efeitos explosivos, provocando apenas uma “saída” para a combustão.
No caso da explosão havida no Morro do Baú, a terra estava completamente molhada, portanto “inchada” e, consequentemente, menos compacta.
Estas condições geológicas ocasionaram rachaduras internas no subsolo, provocando deslizamentos de terra em áreas totalmente cobertas por vegetação primária.
Vários depoimentos de vítimas daquela catástrofe falam de uma grande explosão, labaredas de fogo e um tremor na terra, antes do desmoronamento.
Afora os danos, as mortes, as campanhas de solidariedade, doações financeiras e outros gestos de grandeza humana; ficam algumas perguntas no ar.
Por que as autoridades fizeram um alarde monumental na mídia nacional e, depois, arrependidas, fazem campanhas de “esclarecimento” sobre as qualidades naturais de Santa Catarina a fim de convidarem turistas para o próximo verão?
Por que o presidente da FIESC - Federação das Indústrias do Estado - não foi convidado a participar da segunda visita do presidente da República quando este anunciou a liberação de verbas públicas para a reconstrução das áreas atingidas?
Quais seriam os valores das indenizações caso as empresas responsáveis pela construção e operação do gasoduto fossem processadas judicialmente?
Quais os riscos permanentes de uma rede de abastecimento de gás natural subterrânea?
Até quando a realização de obras públicas sofrerá este impacto indecente da fraude licitatória, da super valorização dos preços e do conluio de parcerias público - privadas?
Qual o sentimento moral dos governantes e seus estafetas diante do sofrimento humano das vítimas deste tipo de tragédia?

Claro que não se pode negar ou rejeitar a utilização de tecnologias que confortam a vida das pessoas, tais como a aviação, a informática ou a utilização de fontes energéticas diversas.

Mas, há uma pergunta que muitos fazemos diariamente diante destas tragédias anunciadas que poderiam ser evitadas: Vale a pena ser honesto na República Federativa do Brasil?

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