quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Florada dos garapuvus






Por Marcos Bayer & Sérgio Rubim    

É muito fácil falar do homem, suas vontades, suas necessidades e a escassez.

    Desde o começo sabíamos que não haveria tudo para todos. Tanto do ponto de vista religioso, da Igreja Católica Romana, quando expulsou Adão e Eva do Paraíso, acabando com a aposentadoria vitalícia, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos. Nas outras áreas e civilizações, a noção de fartura/escassez sempre esteve presente. Também, importante salientar que a ideia de fartura e felicidade está associada com a ideia de quantidade material. E entre uma reflexão filosófica e uma percepção budista vivemos para acumular e suprir nossas necessidades. Quando sobra, nossas vontades.    Com o advento da Revolução Industrial imaginou-se a produção total e ilimitada, fornecendo tudo a todos. Com esta possibilidade teórica, surgem Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes e outros que aprofundam a discussão entre livre mercado e economia planejada. Entre capitalismo, socialismo e social democracia.
    A direita representou os interesses de quem tinha e queria mais. A esquerda, por sua vez, os interesses de quem não tinha e precisava de mais. No melhor estilo Robin Hood, tirar dos que tinham e dar aos que não tinham, sempre foi tarefa heroica, generosa e romântica.
    A esquerda foi assim, impregnada de heróis generosos e românticos...
    A classe artística, porque menos abastada, em geral, sempre esteve mais na esquerda. Na direita, a classe produtiva. Os donos do capital que pagam salários baixos para os que fazem as coisas. A mais valia.
    Num simples dizer: A esquerda era mais autônoma, produzia sobre o talento pessoal. A direita, organizava os talentos, pagava os custos e produzia de forma coletiva: carros, roupas, manteiga, ventiladores ou telefones.
    Picasso dava as pinceladas geniais de Guernica, uma obra da esquerda.
    O general Franco fez a guerra, uma obra da direita.
    O gênio humano foi a esquerda. A construção humana, a direita...
    
    Nesta aventura maravilhosa, a vida, cada um de nós procura sua vocação. Somos induzidos à segurança aposentadorias irredutíveis.
    No caso brasileiro, com a constituição de 1988, concursos públicos existem para o provimento de cargos e funções, garantindo aos exitosos a tranquilidade da fartura material.
   Outros preferem o risco da atividade privada, suas recompensas e o reconhecimento público da obra realizada.
    Até aí tudo muito justo, certo e aceitável. Existem as regras e as pessoas se posicionam como querem diante delas.
    O que ainda é difícil de aceitar, no caso brasileiro, é esta mistura entre o público e o privado. Onde a classe política faz negócios com o Poder Público sugando o dinheiro de todos para beneficiar alguns.
    Gostaríamos de oferecer o exemplo do novo prédio do Tribunal de Contas, o chamado Palácio de Cristal, como exemplo didático.
    Enquanto prefeitos e administradores públicos subordinados são scanneados na busca de irregularidades ou fraudes, outros são protegidos pela mesma corte de contas.
    Neste exato momento em que se organiza a disputa política em Florianópolis, numa batalha entre Jorge Konder Bornhausen e seu ex-afilhado Dário Berger, nos bons tempos do PFL, temos o TCE como parte.
    César, o representante dos Bornhausen, foi um pequeno mecenas estadual. Liberou dinheiro para vários “atores” culturais e em cima disto fez-se candidato. Gean, representante do Dário, assinou documento que circula dentro do TCE afirmando que o contrato do show do Andrea Bocelli, que não houve, foi cumprido integralmente. Ora, temos então dois mecenas: O que libera a verba pública e o que afirma que a verba foi gasta na forma contratual, mesmo sem o espetáculo.
    Não sabemos se o TCE tomará posição antes da eleição. Não sabemos se o TCE é público ou privado ou se político ou técnico.
    Nós, Sérgio Rubim e eu, ambos jornalistas, ele sacrificado na carreira, eu distante dela porque o salário mal pagaria a vida que pretendi ter, oferecemos a dúvida que nos toca aos membros do Tribunal de Contas. Podem usá-la em congressos, teses, simpósios e outros. Aqui e no exterior.
    Se vendêssemos opinião, poderíamos trabalhar numa estatal dessas, no próprio TCE, ganhar uns R$ 15 ou 20 mil por mês e dar notícias “furadas” ou de acordo com a vontade do patrão. Não é o nosso caso.
    Temos opinião, gostamos da liberdade, trabalhamos pela verdade possível e até sentimos suave prazer quando conseguimos “estourar” alguma maracutaia contra o interesse público.
    No momento em que a primavera explode em flores, em que os garapuvus surgem amarelos nos morros da Ilha, deixamos esta reflexão aos eleitores.
    
    Quem deve governar a cidade?

    Ao final, pergunto: - Canga é isto? Que vengam lós próximos toros, lós paños están rojos...
    E o Canga responde: - Marcos, los toros no ven el color... Lo rojo és para los ojos de los hombres, para que el circo sea mejor...

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