A China
tropical
Marcos Bayer
A belíssima jogada da Assembleia Legislativa, num
prazo relâmpago, dilatando o valor do auxílio moradia para seus deputados e
outras classes do serviço público, expõe uma face da grande mentira nacional: a
isonomia entre os que trabalham na administração pública.
Primeiro, professores, médicos e policiais não podem
valer menos do que deputados, promotores, juízes e equivalentes.
Segundo, afora as diferenças gritantes entre classes,
os negócios paralelos são feitos pelos mais bem remunerados. Na cúpula dos
poderes são decididas ou autorizadas as falcatruas. Seja na construção ou
reforma de suas sedes, na aquisição de mobiliário e ou materiais, nas obras
públicas em geral e no abastecimento interno dos diferentes órgãos. É muita
coisa para o MP cuidar e quando ele se beneficia deste tipo de regalia, a
auxílio moradia, ele se iguala aos outros. Ora, o auxílio moradia, quando
muito, deveria ser requerido nos casos de transferência de domicilio em razão
de compromisso funcional. Aplicar-se-ia aos juízes até que fixassem residência,
aos promotores e aos delegados. Uma remuneração temporária, 90 dias, enquanto o
interessado encontra nova residência.
E se o professor, médico, bombeiro ou policial for
transferido de cidade, como é que fica? Nada de auxílio?
Existe suporte moral no argumento de quem ganha mais
de 40 salários mínimos e ainda precisa de auxílio moradia?
A nota da Associação Comercial e Industrial de Chapecó
falando de dois Estados no Brasil, um que se auto alimenta e outro que trabalha
para aquele. E, a manifestação da Associação Catarinense de Medicina, pedindo
intervenção em Santa Catarina, mostra a que ponto nós chegamos.
O serviço público brasileiro, mesmo com o concurso de
ingresso, caminha para um mandarinato. Os baixos salários são resolvidos pela
tercerização. Os mais altos pelo concurso. Depois, um pool de regalias.
E, ainda assim, vivemos uma sucessão de fraudes.
Diariamente os jornais mostram, em rede nacional, como elas acontecem. Os que
ocupam cargos comissionados calam, consentem e se prostituem quando necessário à
manutenção da posição ocupada. No ensaio
“The diseases of the Organization”
onde o caráter é comparado a uma gota d’água que suporta sua integridade por
uma força chamada tensão superficial que se rompe quando a pressão atinge
determinada gradação, facilmente se observa o argumento.
Recentemente vimos o golpe da Autopista Litoral Sul,
subsidiaria de um grupo espanhol, que faturou na cobrança do pedágio por mais
de quatro anos e não construiu a alça viária na grande Florianópolis. Vimos
também as denúncias do deputado Jailson Lima sobre o Tribunal de Contas, seu
novo prédio, seus cursos, seus móveis e seus aditivos.
E assim são formadas novas gerações, uma parte na
seriedade dos concursos e outra na “marmelada” já instalada.
A melhora virá pela fixação de uma diferença máxima
entre o menor salário e o maior.
Dez vezes por exemplo. Se o Estado pagar R$ 25 mil
para uma classe, deverá pagar R$ 2,5 mil na mesma estrutura, para a outra
classe. Se não couber no Orçamento, então tem que baixar os salários de cima.
Isto aconteceria pela via legislativa, quando nossos
parlamentares votassem pelos servidores em geral e não pelos do círculo
fechado.
Até lá, ainda veremos auxílio moradia, auxílio hotel,
auxílio motel e auxílio Carnaval.
A China demorou séculos, mas está conseguindo sair do
mandarinato para uma organização mais flexível.
Antes morriam sem esperanças. Agora morrem acreditando
no mercado...
Um comentário:
Ok, mas por que não falar do dinheiro que o "guardião da ética" Jailson Lima ganha em suas viagenzinhas para a China? Ou do fato de ser "ficha suja" nas listas do TCU e TCE?
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