The concrete
Christ
Marcos
Bayer
Na epopeia humana baseada sobre a água, o trigo e o
sangue; chegamos até aqui por causa de duas simples atitudes: solidariedade e
cooperação. Eu caçava para que ela pudesse preparar nossa comida. Minha dor era
dissipada pela tua companhia. Tua sede saciada pelo gesto de outrem. Juntos,
suportávamos os medos dos animais desconhecidos. Lutávamos contra eles. Todos
os venenos eram menos letais quando o grupo ajudava na cura. E assim, passo a
passo, palavra por palavra, negócio por negócio, fez- se a Humanidade.
O Cristo, real ou imaginário, de carne e osso, apareceu
num determinado momento histórico para realçar a chave da sobrevivência:
solidariedade e cooperação.
Foi marco, foi norma, foi ensinamento. E mesmo assim,
sucumbiu ao seu entorno.
Traído, crucificado, morto e ressuscitado.
De lá pra cá uma aceleração fantástica na evolução do
homem.
Os espetáculos do sol poente e da lua cheia são
substituídos por efeitos da cinematografia moderna. A Odysséia de Ulysses é
substituída pelos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em duas
noites.
Desde 1957, quando os russos deram a volta na Terra, numa espaçonave,
os ponteiros dos segundos dos relógios adquirem outro valor. O valor que não
tinham... Tudo passa a ser
cronometrado...
O belo é confundido com o novo. De certa forma faz
sentido. Mas, o belo é permanente.
Não pode haver espetáculo mais colorido do
que a florada amarela dos garapuvus de Florianópolis, em novembro.
Nem as águas do mar da Joaquina e do Campeche, azuis,
depois do vento sul.
Nem a arrevoada de gaivotas da pesca da tainha, em junho.
Tudo isto e muito mais está sendo substituído por
novas bocas, batons vermelhos e perlage nas taças. As bocas de
outrora já não valem mais, não são carnudas... A perlage das ondas do mar
cristalino ainda existe em poucas praias... Raras praias...
Parece dezembro de um sonho dourado, na fotografia
estamos felizes...
A sociedade do século XXI vive uma crise de opção
fundamental. Ou se reorienta sob os valores da cooperação e da solidariedade e
alça novos voos como no Renascimento Italiano ou se materializa na
impessoalidade e afunda em águas turvas...
Só um Cristo de concreto para suportar...
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