João Raimundo, o católico...
Marcos Bayer
Antes de chefiar o Governo do Estado de Santa Catarina, o produtor rural João Raimundo Colombo construiu uma longa e vitoriosa carreira política. Foi deputado estadual entre 1987 e 1988, deputado federal de 1998 a 2000, senador da República de 2006 a 2010 e prefeito da cidade de Lages em três ocasiões, de 1989 a 1992, e de 2001 a 2006. É o que informa o site oficial do PSD.
Hoje, na leitura da Mensagem Anual do Governo aos deputados, na ALESC, ele narra experiência recente, vivida em Aiurê, na descida da Serra do Corvo Branco, quando da solenidade de lançamento da estrada que ligará aquela serra até Grão Pará.
Normélia Kuhnen, filha de Pedro Kuhnen, o visionário que liderou a construção da picada que corta até hoje o Corvo Branco, guarda o diário da obra, com os nomes de todos os que participaram. Gente sem conhecimento de engenharia, sem máquinas, porém com a vontade de realizar, independente das dificuldades.
Emocionado, João Raimundo, começa então a se justificar. Apesar da experiência política e administrativa anunciada pelo PSD, ele diz que o primeiro ano foi para conhecer a máquina de governo. Duas bobagens aglutinadas: Primeiro, o governo era uma continuação dos oito anos de seu antecessor LHS, onde vários membros do então PFL/DEM, depois PSD, participaram da gestão. Segundo, antes ele dizia que os dois primeiros anos foram para conhecer a máquina. Alguém deve ter sugerido a redução para apenas um ano.
O segundo ano, diz ele, foi para buscar recursos financeiros para poder gastar nas obras públicas. Aqui ele deve ter pensado, mais uma vez, no Pedro Kuhnen e feito no seu inconsciente algumas perguntas: Como eles faziam sem dinheiro? Como eles conseguiam o reconhecimento público sem a publicidade enganosa? Como era evitada a corrupção? Que tipo de homem era aquele?
João Raimundo se esquece de dizer ao povo de Santa Catarina que encontrou fluxo de caixa contínuo, montado pelo advogado paranaense Aldo Hey Neto, o homem dos vibradores de silicone coloridos, adjunto de LHS na montagem do programa de incentivos às importações pelos portos catarinenses. Aldinho, como era conhecido no círculo mais íntimo, foi preso pela Polícia Federal em 2006/Agosto.
No ano passado a Dilma presidente acabou com as alíquotas diferenciadas nesta matéria, entre os estados membros, e nós perdemos arrecadação. Aí, João Raimundo ficou sem pé nem mão. Foi como perder a mesada de repente. Em contra partida, o governo federal prometeu compensações através de empréstimos. São os tais sete bilhões para 2013/14. Antes tínhamos receita, agora mais dívidas.
João Raimundo rezou muito, muito mesmo. O que ele poderia ter feito nos dois primeiros anos de governo, e não fez, foi conhecer o sistema educacional, as escolas e os professores. Saber do sistema prisional e falar com os presos.
Conhecer a situação da agricultura, das dívidas dos nossos agricultores, dos atravessadores que pagam menos do que o mínimo quando não emitem cheques sem fundos, dos agrotóxicos fornecidos pelas empresas de sementes, especialmente as de tomate, da falta de cooperativas e de depósitos frigorificados, das necessidades do pessoal da tecnologia da informação e da “desindustrialização” que vive Santa Catarina.
João Raimundo continua rezando e comendo bolinhos de chuva no Palácio do Governo. E exatamente aqui, neste ponto, podemos entender a volta do Bira para o governo estadual. O Bira vem para rezar, ajudar a rezar.
Agora, na reta final, vão gastar os tais sete bilhões, sendo competentes.
Gastarão um bilhão em publicidade neste biênio, nele incluído a despesa de campanha.
E se ganharem? Este é o problema maior. Se ganharem, serão mais quatro anos de orações, de lamentações, de inércia. Porque os tais sete bilhões terão sido gastos, o fluxo criado pelo Aldo Hey Neto não voltará e o exemplo de Pedro Kuhnen será mais uma figura de retórica utilizada em vão. É bom que os partidos pensem nas alternativas. Será difícil para Santa Catarina aguentar mais quatro anos de João Raimundo.
Minha sugestão: Montem o João Raimundo num cavalo crioulo, coloquem a foto do Pedro Kuhnen sobre o outro cavalo e escrevam na peça publicitária: “A quem madruga Deus ajuda”.
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