From the space
Marcos Bayer
Dentro do capacete, a cabeça comprimida altera a percepção. Quase não se pode escutar. Apenas os sons do silêncio e da pulsão cerebral. A visão da Terra, aqui de cima, mostra a cortina cósmica infinita. Um pano azul-petróleo pintado de pingos de luz, cristalinos. Não há movimento, apenas flutuação. Não há doença, nem fome, nem sono. Nem frio, nem calor. Não há medida de tempo ou envelhecimento. Não é possível sentir o cheiro, não há o que tocar e nem paladar.
Não há o que falar ou com quem falar. A imaginação, igual ou maior do que o espaço sideral comprova que o mundo existe nas duas dimensões/direções: Para dentro e para fora. A viagem interna é tão vasta quanto é a externa. Por isto, o homem é reflexo do cosmos. Não pela razão ou pela inteligência. Mas, pela imensidão dos dois universos: Aquele contido dentro do crânio e o que está registrado no firmamento.
A história do homem é a caminhada que vai do útero ao espaço, numa fração de segundos, insignificante na amplitude cósmica.
A solidão do pensamento tem a cor do Universo: Azul.
Mais do que carregar a História da Humanidade na herança genética individual, carregamos a vida eterna porque somos frutos materializados de nossos ascendentes.
Aqui do espaço, dá para perceber a imaginação humana, cujo movimento é uma gigantesca névoa, uma linda mancha nebulosa que gira, abre e contraí, sobe e desce como num ballet de bilhões de figurantes sincronizados e dispersos, simultaneamente.
Daqui é possível ver a solidão individual, o pensamento coletivo que se soma e forma esta massa intocável que aglutina todas as idéias e emoções.
É possível ver, através dos fluxos de luz, a conexão entre todas as mentes.
São intensidades diferentes, inconstantes...
E não há explicação cabível ou necessária. É tudo azulado, distante, sem teto, sem fundo e sem nexo. Pura magia, energia. Estesia e anestesia.
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