Os americanos cunharam a expressão “time is money” para marcar uma fase do desenvolvimento capitalista deles. Temos pressa. E tempo custa caro.
Em 1989, com a queda do muro de Berlin, caíram todas as outras possibilidades de estruturação econômica, exceto o capitalismo. Espremer as pessoas em todos os processos produtivos, reengenharia e terceirização; foram as novas regras.
Criou-se uma nova terminologia, enganosa, para camuflar o novo desenho social. Os políticos falaram nos excluídos, nova denominação para os pobres, balconistas transformaram-se em consultores de vendas, corretores em investidores imobiliários, costureiros viraram estilistas e das pessoas foi exigido atitude. Atitude? Neste cenário de fantasias e alegorias, muitos naufragaram. As exigências impostas pelo mercado produzem estrangulamentos emocionais, materiais e sociais.
Alberto Guerreiro Ramos, grande pensador brasileiro do século passado, foi um dos que antecipou a era da despersonalização submetida aos rigores da dimensão econômica.
Todo ser humano se defronta com duas questões básicas: O significado de sua existência e a sobrevivência biológica. Estas duas questões, existencial e econômica, ocupavam espaços definidos e distintos nas sociedades passadas. Submetidos aos rigores cada vez mais intensos da performance econômica, empresas e pessoas, embutem a questão existencial no esforço pela sobrevivência.
Planos, projetos, reestruturações, índices e todas as formas de aferição têm um único objetivo: Melhorar resultados monetários. O lado argentário do homem nunca foi tão valorizado. Esta superposição do econômico sobre o existencial torna as pessoas mais utilitárias em seus relacionamentos e mais solitárias em seus âmagos.
Paralelamente ao compulsório isolamento social, vemos a degradação ambiental em escala planetária, espaço onde habitamos.
A irracionalidade do mercado, expansivo por concepção e corrupto por necessidade, encurrala o homem, dito moderno, num brete permanente.
Então, nesta luta entre a existência e a sobrevivência, observa-se a deterioração da afetividade humana, desde os menores enclaves, como a família, até os maiores como a nação.
Nunca a noção de tempo convivial foi tão relegada à insignificância existencial como nos dias atuais. Ninguém mais tem tempo para o outro, salvo alguns raros que se preservam humanos.
E não há perspectivas melhores no horizonte. Apesar de todo esforço das propagandas da Coca-Cola...
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