quarta-feira, 8 de junho de 2011

Touch less




Estamos entrando no mundo dos sem face. Somente os ícones da moda, dos esportes, das artes ou da política têm um rosto e ou um corpo para mostrar. A comunicação virtual cada vez mais aprimorada pelas redes sociais contribui para este novo desenho da afetividade humana. Os encontros diretos são adiados pelo primor das instantaneidades. Steve Wonder cantou em 1969: Maybe some day you’ll see my face among the crowd. Talvez fosse a visão de um cego sobre o futuro dos relacionamentos humanos.
A insensibilidade e a padronização nos comportamentos na sociedade moderna aniquilam com aquilo que há de mais precioso no homem: A singularidade.
O mais engraçado é como as organizações compõem este novo cenário de despersonalização comportamental. Vai da posição em que se fecham os botões dos paletós masculinos até a forma como escrevem os curriculum vitae.
Todos são pró-ativos, possuem capacidade de liderança, sabem gerir conflitos e obter resultados em grupos. São dinâmicos e inovadores. Parece que vivemos na melhor época da criatividade florentina, rodeados de Petrarca, Rafael, Michelangelo e Da Vinci.
O mundo virtual, com suas inegáveis facilidades, é um silencioso engodo para a condição humana.
Afora as chamadas cyberdependencies, provoca isolamento interpessoal.
Os nossos sentidos: Tato, paladar, visão, odor e audição estão sendo alterados neste “Admirável Mundo Novo”, para tomar emprestado o título de Aldous Huxley.
Nas novas telas, aprendemos as vantagens do touch screen. O acesso ao mundo conhecido e imaginado pelo homem dá-se pelo suave toque da ponta dos dedos.
Esta transformação leva para um mundo mais próximo da informação e, paradoxalmente, da mais remota na convivência.
Também nasce um linguajar que vai se adaptando aos novos mecanismos da comunicação. Lastreado no idioma inglês, nasce um novo sânscrito.
Eu sei que você está aí. Você me lê e talvez me ouça. Talvez me veja.
Mas, não me toca...

2 comentários:

Anônimo disse...

Gosto de tudo o que escreves,mein Marcos.
A comunicação virtual,na maioria das vezes aguça o desejo do toque. Palavras carinhosas, beijos enviados suscitam na pessoa que está do outro lado da tela, o desejo do encontro.
Às vezes acontece, pode dar decepção, ou não, então, muitas pessoas preferem amar pela Web.Não sofrem com isso.Maura

Tharci disse...

More touch screen, less touch skin!