quarta-feira, 18 de julho de 2012

João Raimundo






João Raimundo
                                                                                                                                         Marcos Bayer

Mundo, mundo, vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo, vasto mundo,
Mais vasto é meu coração.
Assim é que Drummond de Andrade apresenta Raimundo ao mundo.
Os poetas têm a capacidade de antever acontecimentos, fatos e coisas...

Santa Catarina é terra de gente estudada, gente preparada e sabida. Aqui temos etnias diversas, como italianos, alemães, poloneses, japoneses, gregos, libaneses, suíços, franceses, índios e os homens dos pampas que tanto contribuíram para nossa formação.
De repente, em pleno século 21, surge um governador filósofo, com tons e nuances de Soren Kierkegaard, um tanto abstratas é verdade, mas impressionantes. Três de suas frases estão sendo objeto de pesquisa no universo semântico:
1. AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR. Os estudiosos perguntam: E se fossem os pássaros ou os peixes? Faria alguma diferença?
2. O POVO TEM CARA, NOME E ENDEREÇO. Esta, um pouco mais elaborada, enseja uma pergunta: Há necessidade do CEP – código de endereçamento postal – para encontrar o povo?
3. TODA OBRA TEM COMEÇO, MEIO E FIM. Aqui temos um caso complexo de racionalidade lógica sintética. Um bom pedreiro sabe disto. Então ele começa a obra, faz a fundação, levanta as paredes e cobre, finalmente, a obra. Depois os acabamentos.

O governador, eleito democraticamente, admitiu ter levado 18 meses para por a mão na direção do governo. É compreensível, afinal ele vem de uma região onde a montaria predomina sobre o automobilismo. Ele está mais acostumado com as rédeas.

A imprensa catarinense não consegue alcançar a grandeza das frases do governador.
Sequer consegue analisá-las. Muito menos os números da contabilidade oficial.
O governo corta as horas extras dos bombeiros e provoca a demissão do seu comandante.

A INVESC deve mais de R$ 2,67 bilhões de reais, o custo anual das SDRs é de R$ 340 milhões e a verba de publicidade é de R$ 100 milhões. A FATMA faz sumir 16 processos requisitados pelo TCE. A CASAN paga lucros aos seus diretores e vive no prejuízo. Até o PC do B, através do representante dos empregados, levou o seu quinhão.
Na INVESC pouco se fala nos dias de hoje. Uma das últimas notícias é do jornalista Moacir Pereira:
“O caso da Invesc é emblemático das grandes jogadas feitas pelo governo do PMDB. Um governo que se notabilizou pela "competência" extraordinária no lançamento de papéis, na emissão de títulos fraudulentos e no entreguismo do patrimônio público, fato sem precedentes no Estado.
A Celesc tem patrimônio líquido de R$ 1 bilhão e 300 milhões. Seu capital é de R$ 700 milhões. O governo Paulo Afonso montou uma bela "engenharia financeira" para canalizar recursos de forma suspeita. Criou a Invesc, uma empresa virtual, para captar dinheiro no mercado. E acabou entregando o filé mignon da Celesc para investidores privados.” Moacir Pereira, em A Notícia, em 26 de fevereiro de 2000.

Na Assembleia Legislativa, quase nada se ouve. Não há mais oposição. Não há mais imprensa. Estão todos “comendo” juntos. Uns pelas bordas, outros por dentro.
Neste cenário, apático e sem nenhuma participação civil, o poder virou motivo de chacota e, afora o cinismo, um repositório de frases que certamente entrarão para a História de Santa Catarina.





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