O exemplo da
Ilha do Arvoredo
Marcos Bayer
A Reserva da Ilha do Arvoredo está passando por uma
recategorização para chamar-se Parque da Ilha do Arvoredo. Até aí tudo bem, só
uma nova conceituação. Mas, vamos lá.
A Ilha, e seu entorno, lá está há milhares de anos
servindo de ponto de pesca, atracadouro e mais recentemente de ponto de
recreação. Num determinado momento, sob a alegação da necessidade
conservacionista, decretou-se, em 1990, a reserva de 17,6 hectares para que o
homem não destruísse aquela área específica.
Como consequência, os pescadores nativos da região de
Porto Belo/Bombinhas deixaram de pescar na área delimitada. Proibidas as
atividades de mergulho, para caça submarina ou para observação, e a visitação à
própria ilha. Colapso econômico na região. Os nativos precisam da pesca diária,
os turistas dos mergulhos submarinos. A região, desde 1990, passou a viver da
hotelaria, da gastronomia, das assim chamadas “baladas” e das drogas.
Agora, por pressão da população nativa, parlamentares
catarinenses, um estadual e outro federal, encaminham a chamada recategorização
do complexo da reserva para parque.
Isto significa que serão permitidos os mergulhos de
observação e que as embarcações ociosas dos pescadores poderão ser utilizadas
na locação para os mergulhadores. Uma tentativa de restaurar um ciclo
econômico: turista – embarcação – mergulho – hotelaria – gastronomia.
Válida, muito válida a iniciativa.
Mas, o exemplo da Ilha do Arvoredo vai além. Os rios
Tijucas e Itajaí desaguam todo tipo de poluição no entorno do Parque do
Arvoredo. Desde água pluvial barrenta até esgoto in natura, passando por outros
poluentes em razão de atividade industrial.
Ora, todo o cuidado tomado na área do Parque do
Arvoredo, pode ser invalidado pela ação dos rios mencionados.
Isto mostra como estão interligadas as relações entre
o Homem e o Espaço Vital (Lebensraum).
O homem sobreviveu porque se manteve em comunidades.
Lá atrás, antes da linguagem falada ou escrita, antes da ideia de Deus, antes
da polis grega que determinou um
mercado e uma ágora, antes dos
excedentes e da comercialização, antes da civilização... Foi a comunidade que
nos manteve caminhando. Eu faço a tua comida e tu lavas minhas roupas para que
ele construa os caminhos e outro cace os animais. Tu me curas na doença e eu te
afago na alegria. Nós brindamos nossa existência.
Pois bem, a comunidade de Porto Belo, até uns 50 anos
atrás, ainda vivia como nossos parentes de 20 mil anos passados.
Construíam suas casas, lançavam suas canoas ao mar,
capturavam o peixe, plantavam algumas raízes, algumas frutas, alguns tempero.
Educavam seus filhos, imaginavam seus fantasmas, cultuavam seus deuses e davam
curso à civilização. O mar era farto, generoso e tenebroso.
Chegaram os turistas, as casas novas, os hotéis, as
lanchas e tudo que cabia nas malas.
Esta alteração brutal na vida da comunidade,
envolvendo a Ilha do Arvoredo, mostra como estamos todos absolutamente
interligados no planeta.
O que é lançado no Rio Tijucas lá em Nova Trento ou lá
no Rio Itajaí em Rio do Sul, pode afetar a vida dos badejos no Saquinho da
Mulata na Ilha das Galés, uma das Ilhas do Parque do Arvoredo.
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