quinta-feira, 26 de julho de 2012

Mandrake







Mandrake
O destino da Ponta do Coral
Marcos Bayer
Transcorreu a segunda audiência pública promovida pela FATMA para informar ao povo dos impactos do empreendimento hoteleiro pretendido pela empresa HANTEI sobre a Ponta do Coral. Assim, para colaborar com a iniciativa do poder público e do interesse privado, algumas considerações fundamentais.
O terreno da Ponta do Coral, com área de aproximadamente 15.000 m2, pertence à empresa NOVA PRÓSPERA MINERAÇÃO e está penhorado por determinação judicial em favor da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, num processo que tramita na Comarca de Criciúma, sob o nº. 020.96.005454-5. O processo referido está suspenso até o dia 30 de setembro próximo.
Até lá, a empresa HANTEI está empenhada em obter todos os licenciamentos legais e ambientais, para adquirir o imóvel e construir seu projeto. Até aí, nada muito relevante.
O que é relevante e não se diz ou escreve, é que o terreno será acrescido por aterro de mais 35.000 m2, perfazendo uma área de 50.000 m2. O preço deste novo imóvel, de 35.000 m2, será de R$ 700 milhões de reais, se considerarmos o preço do metro quadrado naquela região em R$ 20 mil reais. Ou seja, nós contribuintes estaremos financiando um sonho privado de R$ 700 milhões de reais, só em terra.
Sem a garantia deste acréscimo, a HANTEI não comprará a Ponta do Coral e não investirá mais R$ 330 milhões na edificação do hotel e obras complementares.
O argumento usado pela construtora, cujo dono foi superintendente da Caixa Econômica Federal e de lá, aposentado, passou a dirigir negócios imobiliários privados, portanto um profissional experimentado neste meio, é que ou se faz assim ou aquilo será área de inválidos. Diz que 84% da comunidade da região aprova o projeto do hotel/marina/praças públicas.
O que não transparece, e deveria, são os interessados diretos na transação. Conforme declaração contundente do advogado Tico Lacerda, durante a sessão, o vice-governador de Santa Catarina e o secretário municipal de turismo, seriam beneficiários por razões sucessórias.
Podemos também perguntar, e não seria demasiado, por que o prefeito da capital quer resolver o assunto à toque de caixa? Em 2005 ele conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores a Lei n 180/2005 que autoriza um aterro numa faixa de 33 m no entorno da Ponta do Coral. A lei não declara que seria uma área de 35.000 m2. Cabe ao Ministério Público Federal e, subsidiariamente, ao Ministério Estadual conhecerem melhor este assunto. Como é que uma lei municipal autoriza um aterro de 33 m no entorno da Ponta do Coral, durante a preparação do projeto falam em aterrar mais 15.000 m2 para viabilizar os 15.000 m2 atuais, e na hora da liquidação da fatura sobem a área do aterro para 35.000 m2. Esta é a mágica do Mandrake. Hotel por hotel, há muito lugar, ainda, na Ilha. Marina por marina, idem. Emprego por emprego, a construção civil criará. Agora, criar terra nova em cima de mar velho para benefício de alguns, pode parecer “maracutaia” como lembrou o advogado Tico Lacerda.
Afinal não é todo dia que um prefeito dá a chance de alguém ganhar R$ 700 milhões num passe de mágica.
Sobre a tal da mobilidade urbana, os acréscimos viários, tratamento de esgoto, praças, atracadouros, pescadores e restaurantes – está tudo explicado no Relatório de Impacto Ambiental. Explicou o técnico que até peixe haverá nas redes dos pescadores que conversarão com os hospedes do empreendimento. Não disse, contudo, se tainha ou cocoroca.
Só não foi tratado do presente de R$ 700 milhões de reais. A parte menos importante, talvez, do negócio do século na Ilha da Magia.
O governo LHS andou fazendo tratativas com mágicos do Marrocos. Parece que fez até uma demonstração em hotel renomado. Agora, chegou a vez do Mandrake...




2 comentários:

Ernesto São Thiago disse...

É desonestidade intelectual omitir que a área acrescida NÃO INTEGRARÁ o patrimônio particular, posto que, por disposição legal, todo acrescido a terreno de marinha, e assim o é toda a orla da Ponta do Coral, é PATRIMÔNIO DA UNIÃO.
O aterro, embora a ser executado pelo empreendedor, foi requerido à União pelo Município, exatamente porquê sediará VIAS DE ACACESSO, PASSEIO PÚBLICO, CICLOVIA e PARQUE PÚBLICO COM DIVERSAS PRAÇAS TEMÁTICAS.
Qualquer prefeito NO MUNDO daria apoio a um projeto destes. As autoridades públicas em Cuba e na China dão.
O "pobrema" é que o esquerdismo mais atrasado do planeta resolveu fixar residência em Florianópolis, do tipo que tem orgasmos múltiplos quando cria embaraços ao empreendedorismo.
Não passarão mais.

marcos.bayer@gmail.com disse...

O que se discute á o uso de instrumentos públicos para agregar valor ao patrimônio de particulares.
Aquele terreno nada vale sem o aterro. Só podem usar 10% dele. Ou seja 1.500 m2. Então, o que se pretende é um aterro para tornar o atual terreno vendável. Isto é muito comum no Brasil, colocar o público a serviço do particular. Na China ocorre o inverso. Estão destroçando o capitalismo com o mesmo método. Cuba é apenas um sonho eloquente do épocas passadas