terça-feira, 3 de julho de 2012
Tome tenência...
Tome tenência...
Marcos Bayer
Aprendi, ontem, com uma amiga a expressão título do artigo. Tome tenência, tome juízo...
A política catarinense dá voltas... Quase cíclicas... Desde 1982, na abertura concedida pelos militares, quando foi eleito Esperidião Amin ao governo e JKB ao senado, o primeiro sob a influência do segundo, ambos amparados pelos gestos de Henrique Córdova.
Há uma grande discussão sobre o resultado da eleição que poderia ter dado o poder ao então senador Jaison Barreto e a vaga senatorial ao deputado federal Pedro Ivo Campos, ambos do MDB. Os argumentos vão desde o veto do SNI até as urnas dúbias de Laguna. Mas, não cabe aqui esta análise. Somente Leonel Brizola conseguiu furar o cerco, em 1982, denunciou a fraude da Proconsult aos jornalistas internacionais, ganhou a eleição no Rio de Janeiro e disse: No meu governo vai ter ônibus da zona norte para a zona sul. E pobre também vai tomar banho de mar... E assim nasceu o socialismo carioca de Brizola, com mais educação nos CIEPS, com a Praça da Apoteose, com Darci Ribeiro e outros intelectuais que tentaram um novo Brasil. Alguns deles vinham dos tempos de JK. O próprio Darci, o Tom Jobim, o Oscar Niemeyer e mais um batalhão de gente criativa, gente talentosa, gente que queria trabalhar pelo país. Gente boa, digna...
Aqui em SC, Amin foi ao palanque das Diretas Já em 1984, comprou uma briga com José Sarney e aproximou-se desta onda que se formava para a redemocratização do Brasil. A emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso Nacional e a solução encontrada pelos militares foi o colégio eleitoral em 1985. Uma parte do PDS mudava o nome para PFL e com o PMDB daria vitória a Tancredo Neves, cuja morte cedeu à cadeira presidencial ao vice-candidato eleito, indiretamente, Sarney. Nascia a Nova República, acanhada, viúva e fraudada...
Jaison Barreto foi um dos poucos que foi até o plenário do Congresso Nacional e não votou. Foi o único catarinense que se declarou ausente.
Nas capitais, em novembro deste mesmo ano, eleições diretas para prefeitos. Amin e Jaison, com a participação de Brizola, formaram a AST.
Jaison entendia que era necessário abrir caminhos para a eleição de Brizola à presidência da República. Amin precisava de um aliado em SC para expandir seu projeto político. Escolheram um candidato que não vingou. Não importa aqui, agora, discorrer sobre as razões. Em face da derrota, o projeto Jasmin acabou. JKB mandou descarregar os votos de Ênio Branco em Edison Andrino. Em 1986, Jaison não se elegeu para a Câmara dos Deputados e os candidatos de Amin, Amilcar Gazaniga e Cairu Hack, perderam para Pedro Ivo/Casildo Maldaner. Além das duas vagas ao senado para Nelson Wedekin e Dirceu Carneiro.
O PMDB criou corpo. Muito corpo. Mas, inúmeras razões, entre elas problemas na Celesc com Nogart Wiest e na nova ponte, contabilidade inexata, digamos, desfez um projeto costurado por Saulo Vieira e Djandir Dalpasquale durante anos. Andrino, prefeito eleito, não tinha vocação para o poder. Não sabia gerir. Wedekin e Carneiro mudaram de partido, Pedro Ivo adoeceu. Luiz Henrique, no verão de 1990, publicou carta aberta renunciando à condição de candidato do partido. Pedro Ivo morreu em fevereiro, Casildo assumiu e foi obrigado a ficar no cargo. Não havia candidato. Neste vácuo surgiu Paulo Afonso, jovem deputado.
Perdeu a eleição para Vilson Kleinunbing e Amin ao senado. Amin era prefeito desde 1988 com Bulcão Vianna de vice. Amin eleito, Bulcão prefeito. E assim foi.
Paulo Afonso ganha em 1994, com apoio de JKB, contra Ângela Amin. Gostava das letras, suportou a votação do impeachment e assim entrou para a história.
Em 1998, Amin e JKB, juntos, repetem a chapa de 1982. Um para o governo, outro para o senado. São vitoriosos. Começa o apogeu político de Esperidião Amin, apesar das dificuldades no pagamento dos salários atrasados pelo antecessor. A esposa é a prefeita da Capital desde 1997. Expõe os interesses de Santa Catarina ao mundo, consegue parceiros internacionais e em março de 2001 abre o mercado russo para a carne suína catarinense. Culmina com o encontro oficial na Casa Real de Mohamed Bin Abdul Aziz Al Saud, na Arábia Saudita, em janeiro de 2002.
Estes são os dois momentos de maior projeção política e econômica da história catarinense. Haveria o terceiro, em Sharm El Sheik, no deserto do Sinaí, no Monastério de Santa Catarina, em maio de 2002.
O governador era ágil, dedicado, trabalhava incansavelmente e tinha fôlego para mais um mandato.
Em 2002, Amin e JKB, perdem para LHS/Pinho Moreira. Então, entra a turma que usava óculos Vuarnet importado do Paraguay e começa uma era de obras e comissões.
A primeira, não licitada, foi a reforma do prédio do BESC, na SC-401, para instalar os gabinetes do governador e do vice. Mesmo sem licitação, foi parcialmente paga. A última grande obra, o contrato CELESC x Monreal, cuja soma chega aos R$ 214 milhões de reais. Entram de Vuarnet paraguaio e saíram de Bausch Lomb alemão. Outros saíram de lancha nova, silicone e plástica facial. Tudo com dinheiro público, pago e recebido com nota fiscal. Comissão tributada, ou tributed commission, como preferem os americanos.
Em 2004, Ângela, após dois mandatos, perde para Dário Berger. Em 2006 Amin perde para LHS, agora aliado de JKB. Em 2008 Amin perde para Dário. Em 2010, Ângela Amin perde para Raimundo Colombo.
A suinocultura catarinense, um dos motores de nossa economia, sofre as consequências do mercado e da desatenção dos governos. A obrigação moral é buscar oportunidades na África, na Austrália ou onde for.
O cenário de 2012 mostra como a política catarinense cria seus labirintos.
JKB não tem problemas em fazer alianças com o PMDB ou com o PP. Ou outro partido, se preciso for. Apenas com o PT teria restrições.
Agora, a dupla JKB/Amin, com aval do governador, lança uma chapa de jovens herdeiros políticos à Prefeitura da Capital.
Na outra ponta, o prefeito Dário Berger, amparado por uma complexa rede de negócios que vão da terceirização de pessoas até empresas de transportes, olham para a prefeitura com os olhos no governo estadual em 2014.
No meio deles, Angela Albino, simpática e elegante moça, secundada pela ministra, conhecida por sua sutileza, Ideli do PT.
Correndo na borda, o PSOL, pequeno e novato, tentando fazer seu caminho no meio do povo.
A visita de Lula, na qualidade de ex-presidente da República, por duas vezes, aos jardins de Paulo Maluf, procurado pela Interpol, para sacramentar uma aliança política, faz do Brasil um país elástico.
Elástico no melhor sentido da palavra. Matéria que alarga para abraçar tudo que lhe é possível.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Muito bom ensaio. Adorei. Estou copiando para meu novo liovro, citando a fonte, sobre biografia de Ivo Vanderlinde.
lUCIDEZ NA RECORDAÇÃO. Crítica fica implicíta, não agressiva. Augusto Nunes na Veja em 2010 resumiu bem esta eleição ROUBADA de 1982. Jaison reconhece o roubo na Coluna de Prisco em A NOTICIA EM 2002, MAS CONTINUA "DIZENDO QUE AMA amin.
Postar um comentário