segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

The grand son



The grand son


Nisto a língua inglesa foi mais feliz do que nenhuma outra, cunhou grand son, o neto.
    Mais intenso do que isto só no latim, anima, alma que vida dá ao corpo.
    O grand son é o neto que chega, aos três anos, mais ou menos, vem rindo, com cara de maroto, garoto sapeca, ligeiro e arteiro.
Ele não receberá o que recebeu o filho. Nem o cuidado excessivo, nem a exigência demasiada, ou a preocupação exagerada...
    Ele vem olhando à volta, mirando o horizonte, sabendo que é vida nova, quase consciente do encontro final entre o grand father que parte e ele que inicia...
    Sem palavras muitas ou explicações definitivas, ambos sabem, pela alma, da vida que cicla... Ele vê um mundo de gigantes, de coisas absurdas, de bichos e aviões, de fantasias complexas e engenhosas... O grand father vê tudo igual, maior, ampliado, vivido e experimentado. Não há mais a necessidade da explicação formal que foi dada aos filhos... Ao neto, o grande filho, apenas o lado incompreensível do Universo...
   Por isto enxergam as mesmas coisas no horizonte...
   E riem do que não compreendem... Apenas riem...
Marcos Bayer


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O fundo do poço




O fundo do poço
Marcos Bayer

Em que pese uma isonomia pretendida pelo Ministério Público catarinense, a título de abono natalino, no valor de R$ 4.000,00, e o auxílio moradia para os que moram em residência fixa na capital, auxílio que se estende aos desembargadores, deputados e conselheiros do operante Tribunal de Contas, parece que as coisas vão bem.
O Diário Catarinense, jornal de circulação estadual apresenta matéria sobre aproximadamente meia centena de funcionários públicos, advogados, empresários, prefeitos da região oeste e um deputado, vice-presidente da Assembleia Legislativa, futuro presidente da Augusta Casa, todos aparentemente envolvidos em licitações fraudulentas na perfuração de poços artesianos.
É possível que seja um breve engano, uma escorregadela jurídica ou até uma injustiça. O Tribunal de Justiça em breve deverá dar conhecimento da sua manifestação, tendo em vista o foro privilegiado de parte dos suspeitos. Vamos aguardar.
Mas, se fundada a denúncia teremos chegado ao fundo do poço na política catarinense, a começar pela divisão do mandato da presidência do Legislativo Estadual em dois quinhões, demonstrando que o poder político passou a ser um negócio pecuniário na sociedade corrupta e globalizada em que vivemos.
Houve um tempo, na casa de meus avós paternos e maternos, em que nós meninos escutávamos sobre a atividade política como manifestação honrada e solidária dos eleitos de então. Com orgulho e bravura as pessoas defendiam seus partidos políticos e seus expoentes. Homens de envergadura intelectual, profissionais de diversas áreas com respeitabilidade pública, cidadãos eloquentes em suas posturas representavam a vontade popular. Gente decente, usuários de dois ou três ternos de corte formal.
Uns mais humildes outros mais ricos encontravam na causa pública uma boa razão para viver. Hoje, quando assistimos os telejornais no Brasil vemos que a canalha tomou conta e é majoritária.
Restam poucos homens de bem para a atividade política nacional. Aqui em Santa Catarina estamos assistindo, com a complacência da mídia comprada e bem paga, a formação de um bloco político composto por quatro ou cinco partidos, ainda não sabemos quais, o PMDB, o PSD, o PP, o PT e o PSB. Irmãos siameses desde o nascedouro, eles trabalham para a união de uma chapa que disputará contra o povo e vencerá. Vencida a chapa dos gatos siameses, leiam gatos em todos os sentidos, o poder político será consorciado e o orçamento das verbas públicas, fatiado como muzzarela em padaria.
Haverá para todos.
O povo enganado continuará a trabalhar e a pagar os corvos que lutam diuturnamente por seus interesses e pelo aumento de suas fortunas.
Imbecis, pretensamente letrados, atestam sua inutilidade e despreparo a cada vez que abrem a boca. Salvo as exceções que existem, Santa Catarina precisa resgatar seus homens de valor, e eles existem, e que estão a altura da dignidade, do empenho e da labuta do cidadão que vive neste maravilhoso estado sub-representado por uma classe política cuja categoria não se pode classificar.
Em Maktub: Quando se está no fundo do poço, a única alternativa é subir por suas paredes e voltar à tona.


A Festa dos Manés...

A Festa dos Manés...

Marcos Bayer

Saudável a discussão na Câmara de Vereadores da Capital sobre o aumento do IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano e do ITBI – Imposto sobre Transferências de Bens Imóveis.
Se os imóveis subiram de preço - qualquer apartamento de 80 m2 na Ilha, custa entre R$ 300 e R$ 400 mil, se localizado nas praias – é justo que subam os tributos. Quanto mais saneada a praia, maior o valor.
Espera-se que a arrecadação tributária seja usada da melhor forma possível, de forma transparente, sem as maracutaias de percurso.
Agora, antes da proposta de aumento, independentemente dos critérios adotados, é preciso saber de outras questões.
Quem são os grandes devedores de IPTU? Quais deles se beneficiaram da “anistia” com propinas nas máquinas da Prefeitura Municipal?
O prefeito eleito pelo voto universal e direto deve estas explicações aos contribuintes. Ou não?

Trecho do DC eletrônico, edição de 12 de dezembro de 2013, salienta:

Levantamento preliminar das investigações aponta que os débitos de mais de 150 imóveis teriam sido adulterados por meio desse esquema fraudulento. Mas as últimas informações apontam cerca de 500 operações  feitas pela quadrilha no Pró-Cidadão.

Uma dívida de R$ 190 mil poderia sumir, por exemplo, por uma comissão bem menor. Em apenas cinco imóveis, o débito cancelado passava de R$ 1 milhão à época em que foi descoberto o problema, em abril deste ano.

— Há fortes indícios de que seja alguém de dentro. Os beneficiados são empresários, empresas, grandes comércios. Não é pobre. É rico — disse Silva sobre os primeiros encaminhamentos que a CPI deve tomar
.

Para quem quer administrar a Capital Turística do Mercosul é necessário além da competência, a transparência.
Liberar recursos públicos para as festas de cunho turístico, cultural ou esportivo é fácil.
Difícil é cuidar do pedágio da BR 101. Ali, o monstro é maior.
Bom lembrar o maestro André Calibrina, na Marchinha do Mané.






quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ubuntu, Mandela...




Ubuntu, Mandela...

Marcos Bayer



A Humanidade parou para assistir ao funeral de Nelson Mandela. Claro que a tecnologia de comunicação ajudou na difusão do espetáculo, mas a essência de Mandela foi maior.
A África deu ao mundo o maior político da era moderna. Resistente, determinado, inteligente, negro, pobre e preso foi sempre o mestre de seu destino e capitão de sua alma, inspirado pelo poema Invictus, de William Ernest Henley.
Uniu pessoas de todas as cores pela via política. Lutou, inclusive com armas, para garantir a paz. Fez da África do Sul uma nação de tolerância racial e ensinou a dignidade política. Elevou a atividade política aos picos mais altos da possibilidade humana. Foi um gigante risonho e firme que dizia: ”Algumas coisas sempre parecem impossíveis até que sejam realizadas”.
Morto, encheu um estádio de esportes com mais de 90 mil pessoas dançando e celebrando sua vida, sob a chuva da África. Sua obra foi a libertação e a elevação da dignidade humana. A África do Sul continua com vários com problemas. Compete aos seus sucessores a resolução. Ele fez a obra maior.
Teve a humildade de pedir: ”Não me julgue pelo meu sucesso, me julgue por quantas vezes eu caí e voltei de novo”.
Barack Obama, num discurso magistral, disse: Mandela nos ensinou não apenas o poder da ação, mas o poder das ideias. A força da razão, dos argumentos. A necessidade de estudar não apenas aquele com quem você concorda, mas aqueles de quem você discorda... Finalmente Mandela compreendeu os nós que unem o espírito humano... Há uma palavra na África do Sul: Ubuntu. Uma palavra que captura o maior presente de Mandela. Uma unicidade nos homens. Conquistamos a nós compartilhando com os outros, cuidando dos outros...
Mandela é um exemplo político para estes amadores que rapam a nação brasileira, pobres corruptos que nada mais possuem a não ser dinheiro, quase todo roubado. Iletrados com diplomas, ignorantes informados, insensíveis envergonhados, imbecis desqualificados...
”A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, ensinava ele.
Mandela carregava em si o espectro humano. E repetia o poeta:
Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado-a-lado
Eu agradeço aos deuses que existem
Por minha alma indomável



Ubuntu, Madiba...






sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ilha da Magia






Ilha da Magia
Marcos Bayer

A Ilha da magia, outrora Desterro, precisa ser compreendida para ser amada ou renegada. Sede de poder desde o século XVIII, político ou eclesiástico, cem anos antes da construção da ponte Hercílio Luz, em 1823, passa a ser capital do Estado Catarina.
Ilha paradisíaca de águas limpas, doces e salgadas, vegetação abundante e fauna diversificada, especialmente no que se refere aos pássaros e aos peixes. Este paraíso melhor compreendido pelo poeta Zininho foi aos poucos sendo dilapidado pelo tempo, apesar do vento sul. Daqui governadores e prefeitos, salvo as raríssimas exceções, fizeram de tudo. Doaram terras devolutas aos seus parentes provocando a gênese de pequenas fortunas. Manguezais foram aterrados e deram lugar às lojas de conveniências. Balneários, ao norte, foram otimizados, inclusive sobre as areias.
O mané, descendente católico e direto dos Açores complementava este caldo de cultura que formaria o intelecto da Capital. Desde o garapuvu à canoa, um requinte de engenharia naval, até o Terno de Reis ao Boi de Mamão ou à pesca da tainha. Nosso sortimento cultural. Paralelamente a isto, sob o desenvolvimento de uma casta governante, outra, tacanha, consolidou-se no funcionalismo público. Ineficientes e arrogantes, os governos sucederam-se. Raros construíram e desenharam os rumos da infra estrutura própria da tarefa estatal. A riqueza da Capital que deveria ter sido baseada sobre uma atividade turística, limpa e ambientalmente sadia, fez-se sem esgotos, sem cuidados e sem desenhos urbanos. Não tivemos a sorte que o prefeito Haussmann proporcionou a Paris. Aqui os manés tomaram conta. Não os manés legítimos, ladinos e engraçados. Mas, os manés com formação superior. Afora as ideias do arquiteto Felipe Gama D’eça que queria desenvolver a Ilha e o seu Campeche, tivemos, por sorte, o asfaltamento das principais estradas que cortam a Ilha. A construção civil que explodia aqui nos anos 70 do século passado, foi capaz de demolir belíssimos casarões e substituí-los por caixas de concreto com janelas diminutas, cujos nomes vão de Saint Germain até Puerto de Las Palmas. Esta concretagem insana sem saneamento básico ou arruamento apropriado estrangula a Ilha em dois pontos: na merda e no trânsito. Na avenida mais chique da cidade, a Trompowsky, é possível caminhar ao lado de simpáticas ratazanas, de quatro patas, que descem até a Beira Mar. Majestosas. Nossa riqueza, erroneamente, advém dos negócios imobiliários hoje superfaturados em 40%, pelo menos, da corrupção estatal de obras públicas estimada em 30%, de algumas atividades comerciais bem sucedidas e dos gastos educacionais. A droga ajuda a formar o PIB da Capital.
A Ilha teve dois movimentos dignos de registro: o Grupo Sul nos anos 50 de onde Salim Miguel surge como expoente e, vinte anos depois, o Grupo do Studio A/2, ambos responsáveis por novas ideias.
O jornal O Estado não pode ser esquecido como veículo de comunicação cuja foto de capa tinha a capacidade de moldar o dia que seria vivido na cidade. Politicamente, a novembrada de 1979, foi a melhor contribuição da Ilha para o Brasil.
Se tivéssemos tido um Nelson Mandiba Mandela que dançava com alegria no Poder, teríamos tido um futuro mais promissor. E por incrível que pareça estamos no mesmo paralelo da África do Sul. Acorda Floripa. Expulsa teus ladrões.