Ilha
da Magia
Marcos Bayer
A Ilha da magia, outrora
Desterro, precisa ser compreendida para ser amada ou renegada. Sede de poder
desde o século XVIII, político ou eclesiástico, cem anos antes da construção da
ponte Hercílio Luz, em 1823, passa a ser capital do Estado Catarina.
Ilha paradisíaca de águas
limpas, doces e salgadas, vegetação abundante e fauna diversificada,
especialmente no que se refere aos pássaros e aos peixes. Este paraíso melhor
compreendido pelo poeta Zininho foi aos poucos sendo dilapidado pelo tempo,
apesar do vento sul. Daqui governadores e prefeitos, salvo as raríssimas
exceções, fizeram de tudo. Doaram terras devolutas aos seus parentes provocando
a gênese de pequenas fortunas. Manguezais foram aterrados e deram lugar às lojas
de conveniências. Balneários, ao norte, foram otimizados, inclusive sobre as
areias.
O mané, descendente católico
e direto dos Açores complementava este caldo de cultura que formaria o
intelecto da Capital. Desde o garapuvu à canoa, um requinte de engenharia naval,
até o Terno de Reis ao Boi de Mamão ou à pesca da tainha. Nosso sortimento
cultural. Paralelamente a isto, sob o desenvolvimento de uma casta governante, outra,
tacanha, consolidou-se no funcionalismo público. Ineficientes e arrogantes, os
governos sucederam-se. Raros construíram e desenharam os rumos da infra
estrutura própria da tarefa estatal. A riqueza da Capital que deveria ter sido
baseada sobre uma atividade turística, limpa e ambientalmente sadia, fez-se sem
esgotos, sem cuidados e sem desenhos urbanos. Não tivemos a sorte que o
prefeito Haussmann proporcionou a Paris. Aqui os manés tomaram conta. Não os
manés legítimos, ladinos e engraçados. Mas, os manés com formação superior.
Afora as ideias do arquiteto Felipe Gama D’eça que queria desenvolver a Ilha e
o seu Campeche, tivemos, por sorte, o asfaltamento das principais estradas que
cortam a Ilha. A construção civil que explodia aqui nos anos 70 do século
passado, foi capaz de demolir belíssimos casarões e substituí-los por caixas de
concreto com janelas diminutas, cujos nomes vão de Saint Germain até Puerto de
Las Palmas. Esta concretagem insana sem saneamento básico ou arruamento
apropriado estrangula a Ilha em dois pontos: na merda e no trânsito. Na avenida
mais chique da cidade, a Trompowsky, é possível caminhar ao lado de simpáticas
ratazanas, de quatro patas, que descem até a Beira Mar. Majestosas. Nossa
riqueza, erroneamente, advém dos negócios imobiliários hoje superfaturados em
40%, pelo menos, da corrupção estatal de obras públicas estimada em 30%, de
algumas atividades comerciais bem sucedidas e dos gastos educacionais. A droga
ajuda a formar o PIB da Capital.
A Ilha teve dois movimentos
dignos de registro: o Grupo Sul nos anos 50 de onde Salim Miguel surge como
expoente e, vinte anos depois, o Grupo do Studio A/2, ambos responsáveis por
novas ideias.
O jornal O Estado não pode
ser esquecido como veículo de comunicação cuja foto de capa tinha a capacidade
de moldar o dia que seria vivido na cidade. Politicamente, a novembrada de
1979, foi a melhor contribuição da Ilha para o Brasil.
Se tivéssemos tido um Nelson
Mandiba Mandela que dançava com alegria no Poder, teríamos tido um futuro mais
promissor. E por incrível que pareça estamos no mesmo paralelo da África do
Sul. Acorda Floripa. Expulsa teus ladrões.
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