O fundo do poço
Marcos Bayer
Em que pese uma isonomia pretendida pelo Ministério Público
catarinense, a título de abono natalino, no valor de R$ 4.000,00, e o auxílio
moradia para os que moram em residência fixa na capital, auxílio que se estende
aos desembargadores, deputados e conselheiros do operante Tribunal de Contas,
parece que as coisas vão bem.
O Diário Catarinense, jornal de circulação estadual apresenta
matéria sobre aproximadamente meia centena de funcionários públicos, advogados,
empresários, prefeitos da região oeste e um deputado, vice-presidente da
Assembleia Legislativa, futuro presidente da Augusta Casa, todos aparentemente
envolvidos em licitações fraudulentas na perfuração de poços artesianos.
É possível que seja um breve engano, uma escorregadela
jurídica ou até uma injustiça. O Tribunal de Justiça em breve deverá dar
conhecimento da sua manifestação, tendo em vista o foro privilegiado de parte
dos suspeitos. Vamos aguardar.
Mas, se fundada a denúncia teremos chegado ao fundo do poço
na política catarinense, a começar pela divisão do mandato da presidência do
Legislativo Estadual em dois quinhões, demonstrando que o poder político passou
a ser um negócio pecuniário na sociedade corrupta e globalizada em que vivemos.
Houve um tempo, na casa de meus avós paternos e maternos, em
que nós meninos escutávamos sobre a atividade política como manifestação
honrada e solidária dos eleitos de então. Com orgulho e bravura as pessoas
defendiam seus partidos políticos e seus expoentes. Homens de envergadura
intelectual, profissionais de diversas áreas com respeitabilidade pública,
cidadãos eloquentes em suas posturas representavam a vontade popular. Gente decente,
usuários de dois ou três ternos de corte formal.
Uns mais humildes outros mais ricos encontravam na causa
pública uma boa razão para viver. Hoje, quando assistimos os telejornais no
Brasil vemos que a canalha tomou conta e é majoritária.
Restam poucos homens de bem para a atividade política
nacional. Aqui em Santa Catarina estamos assistindo, com a complacência da
mídia comprada e bem paga, a formação de um bloco político composto por quatro
ou cinco partidos, ainda não sabemos quais, o PMDB, o PSD, o PP, o PT e o PSB.
Irmãos siameses desde o nascedouro, eles trabalham para a união de uma chapa
que disputará contra o povo e vencerá. Vencida a chapa dos gatos siameses,
leiam gatos em todos os sentidos, o poder político será consorciado e o
orçamento das verbas públicas, fatiado como muzzarela em padaria.
Haverá para todos.
O povo enganado continuará a trabalhar e a pagar os corvos
que lutam diuturnamente por seus interesses e pelo aumento de suas fortunas.
Imbecis, pretensamente letrados, atestam sua inutilidade e
despreparo a cada vez que abrem a boca. Salvo as exceções que existem, Santa
Catarina precisa resgatar seus homens de valor, e eles existem, e que estão a
altura da dignidade, do empenho e da labuta do cidadão que vive neste
maravilhoso estado sub-representado por uma classe política cuja categoria não
se pode classificar.
Em Maktub: Quando se está no fundo do poço, a única
alternativa é subir por suas paredes e voltar à tona.
Um comentário:
muito bom...abcs....Carlota
Postar um comentário