terça-feira, 13 de novembro de 2007

Desconstrução

Estamos aprendendo a quantificar o movimento, chamado desenvolvimento, que aconteceu no planeta nos últimos cinqüenta anos. O primeiro fator, a triplicação da população mundial, passando de dois para seis bilhões de seres humanos.

Inegáveis avanços em todas as áreas do conhecimento, sobretudo nos transportes e comunicações. A medicina, ciência que trata da manutenção e do prolongamento da vida tornou-se mais eficiente.

A produção de bens materiais acompanhou o crescimento populacional, sem, no entanto, atingir a todos.

Os danos ambientais, decorrentes do vertiginoso crescimento populacional, da produção e do consumo estão aí, diariamente, para todos verem. Não há mais dúvidas de que somos finitos, assim como também, sabemos que não poderemos ter níveis consumo e utilização de recursos naturais iguais a determinadas sociedades, entre elas a norte-americana.

Por que então a agonia planetária?

O mercado global responde de forma diária, pragmática e incansável. O mundo está pronto, mas não há espaço para todos. Das dez milhões de famílias da classe média brasileira da década de oitenta, só restaram três milhões.

Para os recém formados na sociedade nacional, sessenta por cento das oportunidades de trabalho, pagam até três salários mínimos apenas. Apostamos num modelo de ensino privado que cobra para formar aquilo que o formado não irá receber. O mercado espreme a todos, silenciosamente.

Se pensarmos pela ótica da solidariedade humana, as grandes corporações são as instituições mais corruptas da atualidade. Elas vão se instalar onde a mão de obra é barata, onde a legislação ambiental não existe ou não é aplicada e onde há beneficio fiscal ou tributário. Quando, então, organizam um núcleo social razoável, com empregos, salários e estabilidade familiar, descobrem um novo nicho de pobreza, abandonam o local em que se instalaram e reproduzem o fenômeno. Correm atrás do lucro, ad eternum.

Como se não bastasse isso, são elas que conformam e confortam a classe política, em geral. E, exatamente aí, está o perigo da desconstrução.

O poder político fica submetido à vontade do mercado e a necessidade coletiva é relegada para outros planos.

A política deteriora-se, e com ela a sociedade.

Um exemplo clássico do que falo é o seriado “Amazônia”, mostrado recentemente pela televisão. Ali vimos o caráter de um homem de princípios e convicções, Chico Mendes, ser aniquilado pelos interesses da indústria látex.

Mas, o pior veio depois de sua morte. Seu exemplo, de lutas e consciência ambiental, foi dissolvido por algum José: Genoino ou Dirceu, pouco importa, já não faz muita diferença...


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