segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Eco-Money

Há cinqüenta anos, no início da segunda metade do século XX, quando íamos às praias ainda selvagens do litoral brasileiro, dizíamos: só tem “mato” e estradas “sujas”, por serem empoeiradas ou enlameadas, dependendo dos dias ensolarados ou chuvosos. Não sabíamos, então, o que significava de fato o “mato” e a “sujeira”.
Acelera-se a urbanização do país, a indústria automotiva começa a tomar corpo, as classes média e alta querem residências de praia com jardins gramados e estradas pavimentadas, para usufruir as delícias do verão. Este era o sonho dourado dos anos sessenta e setenta para uma pequena parte dos brasileiros cujas famílias podiam tirar férias do Natal ao carnaval.
As cidades foram crescendo e produzindo o caos urbano, desde os engarrafamentos no trânsito até os assaltos à mão armada ou às balas perdidas.
Algumas pessoas procuraram o litoral para tentar uma nova proposta de vida. A questão ambiental passou a integrar a pauta do chamado mundo civilizado e as praias cercadas de “mato” e “sujeira”, incorporaram um valor monetário crescente.
Descobrimos que o “mato” era a mata atlântica e que as ruas não pavimentadas e “sujas” podiam significar tranqüilidade e paz.
O mercado imobiliário enxergou novos potes de ouro nas pontas deste arco-íris.
Paralelamente ao nascimento de uma legislação “verde”, surgiram as empresas especializadas nos licenciamentos ambientais e, consequentemente, as câmeras e prefeituras municipais passaram a sofrer diferentes pressões para consentirem na ocupação máxima do solo.
Estava criado o cenário para as operações financeiras do Eco – Money.
No início deste ano, Florianópolis – a ilha capital do estado de Santa Catarina, belíssima por suas praias e lagoas foi palco da operação deflagrada pela Policia Federal, denominada “Moeda Verde”.
Esta semana, no litoral sul fluminense, especialmente em Angra dos Reis, vemos outra operação com as mesmas características daquela.
Empresários do ramo imobiliário, vereadores, prefeitos, funcionários públicos de órgãos de licenciamento ambiental e empresas de consultoria da área verde, todos entrelaçados num processo de corrupção vendendo o que resta das reservas naturais.
Não sabem, ou pior, sabem, mas não se importam com a degradação da faixa litorânea brasileira, uma das mais aprazíveis do planeta.
Deveriam observar que a atividade turística instalada nestes pequenos paraísos naturais está diretamente relacionada à sanidade ambiental e a um modo de viver que inclui, necessariamente, formas mais orgânicas na organização social.
A ocupação sem critérios ecológicos destes valiosos enclaves na orla subtropical vai provocar cenários de “mato” e “sujeira”, aí sim, como nunca vimos antes.
E quem sobreviver, verá...

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