Carta aos filhos e aos netos e a seus filhos e
netos...
Marcos Bayer
E assim sucessivamente aos descendentes. Faz parte da
natureza humana o ato do testamento. Seja sobre a coisa material ou imaterial.
O testamento é o ensinamento. Entre os animais é a alimentação,
a lição da sobrevivência. Entre nós humanos perdura até a morte, a última cena
como diz o artista.
Lord Acton, historiador inglês, em seu livro The
History of Freedom, escreve:
“A liberdade não é um meio para um fim
político mais elevado; ela é em si mesma o mais elevado fim político.”
A liberdade faz parte de todo e qualquer processo de
aprendizagem. Inclusive contestar o mestre. É assim que a humanidade evolui.
Somos educados a dizer a verdade e a praticar o comportamento honesto. A ética
humana passa por estas duas dimensões: verdade e honestidade. Sem elas é
difícil construir sociedades de quaisquer naturezas: conjugal, comercial,
religiosa, intelectual e ou política. Basta ver as dificuldades do Papa
Francisco no Vaticano e na Igreja.
O poder corrompe e o poder absoluto corrompe
absolutamente, escreveu também Lord Acton.
Salvo em raras situações e países, para crescer numa
determina área é preciso corromper-se, deixar-se corromper ou fechar os olhos
para a corrupção.
Os que estão no topo das hierarquias corrompem seus
preferidos porque foram corrompidos, um dia, quando eram preferidos. É
exatamente isto que faz aspergir a corrupção. Isto elimina os realmente bons,
capazes e íntegros. E o discurso político dos corruptos é exatamente o combate
à corrupção. É a forma mais fácil e eficiente de enganar.
Dito isto, recomendo aos interessados, o filme “The
professor and the mad man”, com Mel Gibson, em cartaz como “O GÊNIO E O LOUCO”.
Primeiro, pela maneira fantástica de “construir” o
mais completo dicionário da língua inglesa patrocinado pela Oxford University.
Segundo, pela maneira óbvia de como se separa
titulação acadêmica de autodidatismo, e as reações da academia ao saber obtido
na solidão do estudo individual.
Terceiro, pela loucura do psiquiatra em levar o
paciente a uma loucura mais aguda, fazendo dele cobaia para suas teses. Ao
ponto de achar que a indução ao vômito poderia fazer vomitar as neuroses da
guerra vivida e outras tantas.
Quarto, pela maneira prática com que o jovem Churchill
decide resolver o problema do louco.
Quinto, pela dignidade do guarda da clínica médica em
relação ao paciente.
Sexto, pela capacidade de compreensão da viúva que se
apaixona pelo louco. If love... Then love.
Sétimo, pela determinação da esposa do gênio ou professor
que escora a obra de sua vida.
O filme, apesar da crueldade, nos faz acreditar no ser
humano. Pelo menos em alguns deles, apesar de todos os imprevistos.
E aí, mais uma vez, Shakespeare, resume a
imprevisibilidade da vida, em uma de suas obras clássicas, assim:
“Horácio: Se o teu espírito rejeita
alguma coisa, obedece-lhe; eu evitarei que venham para cá, dizendo que não
estás disposto.”
“Hamlet: De modo algum; nós
desafiamos o agouro; há uma providência especial na queda de um pardal. Se
tiver que ser agora, não está para vir; se não estiver para vir, será agora; e
se não for agora, mesmo assim virá. O estar pronto é tudo: se ninguém conhece
aquilo que aqui deixa, que importa deixá-lo um pouco antes? Seja o que for!”